Há uns tempos escrevi sobre a extraordinária experiência que é frequentar a Gare do Oriente. A fotografia lá em cima é gira, não é? Foi tirada do site da União Europeia, provavelmente co-financiadora deste gigantesco cadinho de gripes e constipações.
O incauto que olhe para aquilo ficará decerto fascinado com a obra-prima de um grande arquitecto. Agora ponham esse incauto lá dentro, com chuva, frio, ruído, sem bancos para se sentar ou um café decente para se proteger.
No piso superior, junto às linhas do comboio, é impossível porque o vento traz a chuva directinha para as nossas caras, casacos e sacos que nem sequer se podem pousar em cima dos raros bancos (dois ou três) ou do chão molhado.
Temos, portanto, a única hipótese de estar no piso inferior, que felizmente não tem chuva, mas o vento traz-nos o frio de todos os lados e é estupidamente desagradável e inóspito. Entretanto, os utentes estão acotovelados na meia dúzia de bancos (modernos) que o arquitecto se dignou colocar à disposição do infeliz cidadão que olha para o visor das chegadas e partidas à espera da hora de se pirar dalí.
Para além do frio e da chuva, vendo com atenção, aquelas escadas rolantes devem ter sido concebidas para os viajantes inter-urbanos. Só quem não viaja de comboio é que não sabe que um beirão não consegue viajar sem muitos sacos. Quando digo muitos, digo grandes e pesados onde caibam as couves, as batatas e o azeite. Agora imaginem estes nossos concidadãos a descer e a subir as (estreitas) escadas rolantes com esta sacaria. Sim, porque nem só de computador à tiracolo se fazem viagens.
O incauto que olhe para aquilo ficará decerto fascinado com a obra-prima de um grande arquitecto. Agora ponham esse incauto lá dentro, com chuva, frio, ruído, sem bancos para se sentar ou um café decente para se proteger.
No piso superior, junto às linhas do comboio, é impossível porque o vento traz a chuva directinha para as nossas caras, casacos e sacos que nem sequer se podem pousar em cima dos raros bancos (dois ou três) ou do chão molhado.
Temos, portanto, a única hipótese de estar no piso inferior, que felizmente não tem chuva, mas o vento traz-nos o frio de todos os lados e é estupidamente desagradável e inóspito. Entretanto, os utentes estão acotovelados na meia dúzia de bancos (modernos) que o arquitecto se dignou colocar à disposição do infeliz cidadão que olha para o visor das chegadas e partidas à espera da hora de se pirar dalí.
Para além do frio e da chuva, vendo com atenção, aquelas escadas rolantes devem ter sido concebidas para os viajantes inter-urbanos. Só quem não viaja de comboio é que não sabe que um beirão não consegue viajar sem muitos sacos. Quando digo muitos, digo grandes e pesados onde caibam as couves, as batatas e o azeite. Agora imaginem estes nossos concidadãos a descer e a subir as (estreitas) escadas rolantes com esta sacaria. Sim, porque nem só de computador à tiracolo se fazem viagens.
Acontece que há pouco tempo tive que fazer mais uma viagem e reparei numa espécie de "aquário"no piso inferior que serve de sala de espera. O envidraçado deve ser para não estragar a estética. A Expo foi em 1998 e só praticamente nove anos depois se lembram de encontrar uma solução que permita minorar o desconforto dos passageiros: a obra primeiro, os homens depois.
Este post é a propósito de quê? Do frio, claro. A notícia do dia. E de um país que também se faz para fora de Lisboa.
Este post é a propósito de quê? Do frio, claro. A notícia do dia. E de um país que também se faz para fora de Lisboa.
(Isabel G.)
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Gare do Oriente, um caso por Francisco José Viegas
6 comentários:
Vivemos numa cultura de choque visual. "A ANESTETICA DA ARQUITECTURA" . Um livrinho pequeno de tamanho, da autoria de Neil Leach e editado pela Antígona.
A Gare do Oriente é uma fabulosa peça arquitectónica, mas é também um exemplo de quão distante é a arquitectura da realidade... mas é mesmo por isso que é Arquitectura, creio.
A Gare do Oriente nem sequer é arquitectura, será, quanto muito, uma escultura. Feia ou bonita, isso é irrelevante face àquilo para que (não) serve!
A arquitectura, por definição, é o oposto do que Paulo Ferrero crê: o seu amo primeiro é a realidade.
"Arquitectura" como a da Gare do Oriente, da Casa da Música, do Centro Cultural de Belém, ou da maioria dos edifícios de escritórios que "enfeitam" a nossa Cidade tem apenas um devir: o olvídio.
A sociedade que convive com esta aberrante mutação da função da Arquitectura, transformada em exibicionismo político e caução cultural do puro negócio imobiliário, não merece mais do que música pimba e reality-shows em doses maciças.
Culpa dos políticos, ou de todos nós, que a tudo assistimos sem pestanejar?...
Até admira como ainda não há campanhas de promoção turística para se visitar as grandes maravilhas arquitectónicas da nossa era, como os centros comerciais, os office parks, ou os edifícios sublimes de Chelas, em vez daquelas zonas velhas e tristes como Alfama, ou Santa Catarina, que os turistas estrangeiros, ignorantes destas novidades, tanto procuram...
Arquitectura
do Lat. architectura
s. f.,
arte de edificar ou de projectar e traçar planos;
fig.,
plano, projecto.
É o mal das grandiosidades: Quando mal planeadas tudo é grande, até as correntes de ar.
Ou a incapacidade de distinguir, nem que seja em latim, os meios dos fins...
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