sábado, agosto 01, 2009

A lógica e a clubite

A SRA. D. NOÉMIA, rija mulher da Beira-Baixa, é viúva, conta já 84 anos, e tem passado quase toda a sua vida na aldeia onde, recentemente, a encontrei.

No meio de muitos assuntos, falou-se das eleições autárquicas, e ela comentou que não tinha dúvidas em quem ia votar, pois todos os candidatos que agora apareciam já tinham estado no poder - e ela sabia muito bem qual é que tinha tratado de empedrar a rua; colocado bandas limitadoras de velocidade (na estrada que atravessa a aldeia); resolvido o problema da recolha do lixo; mandado analisar a água do chafariz, etc. E quem, ao invés, pouco ou nada fizera pela terra.

Qual vai o partido beneficiário do seu voto... é coisa que não a preocupa - nem muito, nem pouco.

Por seu lado, uma das filhas, que participava na conversa (e que reside em Lisboa há 30 ou 40 anos), comentava, de vez em quando:

- Pois eu cá, vou votar no partido em que sempre votei.

De facto, será esta a triste realidade, em Lisboa: impossibilitados de votar em quem tenha mostrado sensibilidade para os seus problemas concretos, muitos eleitores vão recorrer ao critério chocho de votar no seu partido ou - mais 'inteligentemente' ainda... - 'contra o inimigo'.
*
Mas tudo isso é apenas pretexto para relembrar o saudoso Artur Semedo:

Interrogado se achava que um determinado jogo ia ser bonito, respondeu: «Eu quero lá saber! O futebol não é ballet! Eu quero é que o meu Benfica ganhe!»

7 comentários:

Anónimo disse...

Eu queria que perdessem ambos.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Sim, nenhum deles merece o dinheiro que lhe vamos pagar.

E faz-me pena que, mais uma vez, um deles vença pelo critério mais chocho de todos: as preferências partidárias dos eleitores.

Nesse aspecto, a senhora da aldeia, apesar de só ter a antiga 4ª classe, dá uma lição de lógica e inteligência política a muito letrado urbano!

Anónimo disse...

Bom... o mentor do acordo Costa - Roseta, o poeta Alegre, é de opinião que as listas independentes de cidadãos deviam poder concorrer à AR e que isso era fundamental para dar alguma saúde à democracia.

Afinal, para a CML, achou por bem (ele e a referida arquitecta) pôr de lado a ideia (que é viável nas eleições autárquicas), precisamente numa lógica de «contra o inimigo» Santana Lopes.

Acontece aos (que se acreditam) melhores...

Carlos Medina Ribeiro disse...

Sim, nas última autárquicas dei o meu nome para a candidatura de H. Roseta e, posteriormente, também o meu voto.

Não lhe escondi o meu desapontamento ao vê-la integrar as listas do A. Costa, tanto mais que se sabe que ela, em aspectos importantes, está contra ele.

Anónimo das 13:45 disse...

Sr. CMR: quando eu escrevi «acontece aos (que se acreditam) melhores...» referia-me ao poeta e à arquitecta, sobretudo ao primeiro, com a sua irritante mania de ser dono da moral política, e que ainda por cima não tem nada que ver com a cidade de Lisboa.

(Não me referia, pode crer, ao Sr.)

Carlos Medina Ribeiro disse...

Também não interpretei que se referisse a mim.

Anónimo disse...

Infelizmente nenhum dos cenários é favorável a Lisboa. E esta cidade vai sofrer quantos anos mais?

CC