sexta-feira, maio 07, 2010

O Metro à superfície

Longe vão os tempos da linha em “Y” que ia de Alvalade a Entrecampos ou Sete Rios, qual duplo-decímetro do nosso descontentamento. Mais longe aqueles em que nem aí chegava, mas em que, apesar de tudo, o Metro ainda tinha respeito pelo espaço público à superfície, i.e., por quem não passa o dia debaixo de terra. É certo que desde então chega mais longe, com mais composições e estações modernizadas, e funcionários nos antípodas dos “simpáticos” colegas desses tempos. Foi um esforço de recuperação de um atraso geracional em relação aos metros de outras capitais e há que dar os parabéns a quem nele investiu. Mas isso foi lá em baixo porque cá em cima o esforço foi em sentido inverso.

À superfície tem havido estaleiros anos a fio. O caso mais revoltante foi, até há poucos dias (boa vontade da nova administração do Metro? Se foi, agradecido…), o da Alameda, ali montado durante 10, 15, 20 anos? À superfície têm proliferado grelhas de respiração a quotas ridiculamente altas (dizem-me que a razão para tal acontecer é que o Metro tem receio que as pessoas caiam se não houver protecção. Belisquem-me!). Ele são ainda caixas de elevador tapando vistas (Rato, A Brasileira, etc.) e escadas com corrimãos desproporcionados quando não autênticos “monumentos” de mau gosto (Terreiro do Paço, Roma/Sul, etc.). Exemplos maiores desse tipo de “arranjo à superfície” são o já “clássico” degrauzinho no centro da placa central do Rossio e a recentíssima requalificação (outra palavra perigosa) junto ao Corte Inglês.

No Rossio houve um excelente projecto de recuperação no pós-Lisboa’94, que abrangeu a placa central, as faixas de rodagem, a pintura das fachadas (em “dégradé”), a fundição de candeeiros de época, o desenho de quiosques de jornais e flores, bancos de estar, engraxas, e, claro, a plantação cuidada de árvores. Caso único, havia até a intenção de continuar o mesmo projecto para a Praça da Figueira, São Domingos e zona defronte à Estação do Rossio da CP. Ficaram-se pela intenção. Imediatamente antes, contudo, houve as obras de ampliação da estação de Metro, e a CML, antecipando-se ao problema, forneceu ao Metro as cotas respectivas para que não houvesse depois “colisões” à superfície. Deu asneira: o respirador haveria de ficar muito acima da cota projectada pela CML para a nova placa. Seguiu-se um braço-de-ferro entre ambos, inconsequente até hoje. A correcção estética, essa, custava 30mil contos e hoje custará milhões. Solução encontrada: fazer de conta.

Junto ao Bairro Azul foi tudo feito “às três pancadas”, numa “sui generis” proliferação de muros e muretes, caixas de elevador e respiradores sem qualquer nexo, uma amálgama de betão e pedra a que ousaram chamar de arranjo paisagístico. Uma vergonha. Provisória? Pois.




In JN

1 comentário:

Manuel Menezes de Sequeira disse...

E falta falar ainda dos elevadores eternamente avariados (Alameda, por exemplo).