A partida deve rondar as 8h da manhã, altura em que ainda não há cheiro a frango assado e engarrafamento na bilheteira da casa da partida, nem ruído ou axila nas composições, e no destino as esplanadas ainda estão por montar, a venda ambulante dorme e ainda se inspira iodo. E o passageiro deve sentar-se do lado esquerdo, virado de frente para o mar, até porque assim evitará torcicolos.
Arrancado o trem à plataforma, até Alcântara não há quase vislumbre do Tejo por causa dos pavilhões e dos contentores que o esmagam. É altura de cerrar os olhos, reabrindo-os apenas aquando da passagem pelo lindo ecossistema que ainda é o Jardim de Santos, para os voltar a fechar até que estejam passadas as ruínas industriais das demolições extemporâneas de certo edil lisboeta; isso já só entre um pilar e outro da ponte, por baixo daquela ridícula pala que ninguém percebe o que ainda faz ali. Agora, sim, só dá margem e rio, com uma frente ribeirinha, toda ela espaço público reconfortante, com boas áreas de serviços, árvores e passeios pedonais. Museu da Electricidade, estação fluvial de Belém, mastros a abarrotar nas sucessivas docas, o Padrão, e aquela luminosidade matinal, monopolizam o olhar do viajante até à Torre de Belém, mau grado aqueles 100m em que Praça do Império, Jerónimos, CCB e Capela de S. Jerónimo o podem transformar num espectador de ténis, cabeça oscilando entre cá e lá.
Depois disso o sistema de vistas é violentamente interrompido pelo novo “paquete” fundeado à Docapesca e até Algés o melhor, mesmo, é fechar a vista, até porque o comboio costuma ir a 9. Entrados e/ou saídos os passageiros, já se não volta a apitar senão junto às memórias da antiga Fundição de Oeiras. Em Caxias o ainda estuário volta a ser tudo: o horizonte assume cada vez mais um não sei quê de idílico, o mar, chão. Mas o verde de terra também começa a ganhar força, tentando contrariar o omnipresente Bugio que, em semi-derrocada, lá vai comandando a linha de magníficos faróis e venerandas fortalezas, que só acaba no Cabo da Roca, para lá das cascas de marisco. Avistáveis da janela, são o esguio farol da Gibalta e os fortes em miniatura da Restauração: São Bruno e Giribita. Aproveite-se a vista que volta a ser altura de cerrar olhos: vem aí a selva de betão em que transformaram Paço d’Arcos! Passou rápido, tal qual entre Sto. Amaro e Oeiras, por teleférico, melhor, por viaduto sobre um dos vales mais bonitos do país, sobre copas de árvores gigantescas e telhados de moradias antigas, gizados a partir do palácio do Conde de Oeiras. (cont.)
2 comentários:
Passando eu frequentemente, de manhã, pela estação da CP no Cais-do-Sodré, fico horrorizado com as filas que por lá há em frente das máquinas e das bilheteiras para quem pretende dirigir-se às praias «da linha» nesta época do ano.
Primeiro que consiga tirar bilhete, aquela gente tem pela frente longuíssimos tempos de espera.
Se eu estivesse no estrangeiro e com uma situação daquelas deparasse, de certeza absoluta dava meia volta.
Ainda se fosse uma rara exposição num museu ou um concerto único...
MAS NENHUM RESPONSÁVEL DA CP SABE DAQUILO E COM AQUILO SE IMPORTA?
QUE RAIO ANDAM A FAZER OS RESPONSÁVEIS DESTA EMPRESA PÚBLICA?
QUEM DA CP A AQUILO TEM ASSISTIDO SEM RESOLVER O PROBLEMA DEVIA SER LIMINARMENTE DESPEDIDO COM JUSTA CAUSA.
Explicação: disse "se eu estivesse no estrangeiro" porque tenho reparado que naquelas filas costuma haver bastantes turistas, que ficam certamente com uma óptima impressão daquela bagunça.
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