quinta-feira, junho 30, 2011

Hoje

quarta-feira, junho 29, 2011

Irritações solenes (21)

A hipocrisia de tantos no meio de uma homenagem a alguém que não se repetiu desde então, Duarte Pacheco.

Irritações solenes (20)

Alguém explica a quem continua a dizer "rúbrica" em vez de rubrica, que tal desvio fonético ainda não faz parte do acordo ortográfico?

terça-feira, junho 28, 2011

Como é estimada a calçada portuguesa

Mais uma das muitas obras-de-arte que ornamentam os passeios de Lisboa.
Esta, na
Av. da Liberdade, deve-se à empresa COLT. Ver outras [AQUI]

sábado, junho 25, 2011

quinta-feira, junho 23, 2011

Apontamentos de Lisboa - Pergunta de algibeira

Um vizinho meu escreveu para a Polícia Municipal de Lisboa pedindo que fossem tomadas providências contra esta situação - com que se deparava todos os dias, à saída de casa.

Pergunta: que resposta recebeu?
Resposta: ver [AQUI]

sábado, junho 18, 2011

Melros

Há dias fui surpreendido com um convite de um amigo para que colocasse o meu nome numa certa petição online contra a permissão de caça generalizada ao melro. É que, segundo a notícia publicada por um semanário e na qual a petição se baseia, será possível a cada caçador matar até 40 melros por dia, já a partir do próximo mês de Novembro. O que estará em jogo, portanto, é a permissão, ou não, de uma matança tal a uma ave, protegida (sim, é protegida!), que até a federação de caçadores estaria contra.

Muito sinceramente, a minha primeira ideia foi: será que a já célebre e providencial «troika» obrigou o nosso legislador e as nossas autoridades a declararem guerra aos corruptos e aos mentirosos compulsivos, e que, finalmente, os eleitores poderão começar a caçá-los, de preferência com zagalote?

Contudo, esfregando a vista e lendo mais atentamente o texto da dita cuja, depressa conclui que não era assim, e que a caça indiscriminada em causa e que terá motivado a revolta de quem lançou a petição, na realidade, diz respeito, isso sim, àquele simpático e ágil pássaro preto, cujo macho tem o bico amarelo, e que abunda por tudo quanto é espaço verde de Lisboa, aliás, uma vez que tem fugido para as cidades, por causa, parece, dos agricultores (imagino que os poucos que ainda subsistem) que lhe dão caça; certamente por as verem como aves de mau agoiro, que atraem o tempo seco que depois mata as colheitas (enfim, superstições), ou então, por engano em relação aos verdadeiros melros a quem deviam efectivamente lançar chumbo, por não serem devidamente apoiados e protegidos como deviam.

Sendo assim, não compreendo como se pode incentivar semelhante operação de extermínio do melro, uma ave simpática, bonita e cujo canto é das coisas mais agradáveis que ainda existem por aí fora, a começar por esta cidade, nos seus jardins e recantos verdes, mas também nos telhados, nas escadas de incêndio e, por vezes, mesmo, nas varandas de nossas casas. Ainda por cima uma ave que combate os seres rastejantes que se escondem nas suas tocas. Portanto, uma ave útil. Ainda por cima uma ave que, pelo menos na cidade, e apesar de arisca, tem boas relações de vizinhança com o ser humano. Portanto, uma ave moderna.

Posto isto, bem vistas as coisas, e pelo sim, pelo não, subscrevi a petição. Quanto aos outros melros, é uma questão de fazermos caça de espera, enquanto a temporada não começa, aliás, corre o risco de não começar tão cedo.

quinta-feira, junho 16, 2011

Vai uma cervejola?

Ali para São Paulo e Bica, uns quantos rapazes e raparigas simpáticos batem à porta e perguntam aos moradores e aos lojistas locais se deixam que lhes afixem às janelas, lhes colem nas montras, portas e paredes que dão para a rua, publicidade a determinada marca de cerveja, não importa qual. Moeda de troca: seis latas de cervejola por cada auto-colante aplicado. Raro será (foi) o interpelado que resiste (resistiu) a semelhante “oferta”. E não serão poucos os que em vez de beberem as respectivas as porão à venda pouco depois. Totalmente compreensível. Na mesma rua, um pouco atrás, uma dedicada cantoneira da Câmara Municipal de Lisboa aplicava-se com afinco a retirar com os dedos de uma parede pública uma série de «posters» colados nem há 10 minutos, imagino que praguejando contra o esforço de tal operação de remoção. Pois.

Com efeito, há propaganda a cerveja por toda a Lisboa. Ele são quiosques, ele são cartazes, ele são auto-colantes, ele são pendentes e adereços vários. Montras, fachadas, caixas da EDP, carros eléctricos, janelas, bebedouros, árvores, enfim, nada escapa. Seja nos bairros históricos, seja nos largos e praças protegidos por lei (imagino que as autoridades lhes tenham dado autorização para o efeito. Ai, não deram, foi?). Até o símbolo por excelência da iluminação da capital, a “lanterna lisbonense”, aparece agora desenhada no «merchandise» como estando ébria pelas Festas.

Ano após ano a coisa vai-se agudizando: as Festas de Lisboa são mesmo as “Festas da Cervejola”. Chega a haver lanternas harmónio alusivas a marcas de cerveja, dependuradas pelas ruelas estreitas de Alfama. Não, o lisboeta não é alemão nem belga mas a verdade é que o tintol, a sangria e a ginjinha, por exemplo, que se supunha serem muito mais atractivos para as Festas, comercial e turisticamente falando, não merecem nem um décimo da atenção como potenciais patrocinadores daquelas, perdendo em toda a linha para a cervejola. Não me perguntem porquê, que não sei responder.

Sei é que tudo isto tem um preço, e por mais atractiva financeiramente que seja a prostituição do espaço público, acho que já é tempo de se regulamentar a sério e fazer cumprir a lei na afixação de publicidade, a começar pelos locais supostamente protegidos, mesmo que em períodos de festa. Animação não deve significar feira. E, que diabo, podemos puxar um pouco para cima a “fasquia” ecológica dos patrocinadores, ou não? Falando de quiosques, porque não uma harmonização do “quiosque das Festas” por via de concurso de designers? Tome-se como exemplo os quiosques dos mercados de Natal alemães, ou as festas da cerveja bávaras.

Nada tenho contra a cerveja, antes pelo contrário, mas, digam lá, cerveja com sardinhas, não liga lá muito bem, pois não?

Humanitário

Em obra de referência, o conceito de economia do sofrimento, não há muito, pouco tinha que ver com a realidade dos europeus, mas sim com todo o cortejo de horrores sofridos e vividos em países vulgarmente designados por terceiro mundo ou por aqueles que dele provinham e procuravam asilo numa Europa que parecia promissora, mas que os recebe mal (‘La Raison Humanitaire’, Gallimard Seuil).

Mas a economia do sofrimento também já é um problema de muitas sociedades de países ditos desenvolvidos, face às motivações e respostas mais primárias que algumas dessas sociedades encontram para as dificuldades que atravessam (com pessoas sem domicílio, sem emprego, com carências alimentares e violência sobre os mais vulneráveis com picos acentuados de intolerância).

Só há dois caminhos: o que respeita os Direitos do Homem na sua integralidade (preservando os princípios, por difícil que seja) ou retroceder em cedências – ainda que com elaborados fundamentos –, o que seria sempre um retrocesso civilizacional.

Trago esta questão porque me parece pertinente face ao agravamento da situação interna portuguesa, porque o primeiro objectivo colectivo que temos de assumir só pode ser humanitário, na defesa do nosso próximo, naquilo que cada um de nós faz ou pode fazer; pessoas e instituições, assumindo uma responsabilidade social e cívica a que tradicionalmente somos avessos (com as excepções que sempre existem, como é óbvio) e que as crises económicas agravam, apodrecendo os frágeis amortecedores.

Também a ideia que vai trilhando caminho, de duas Europas, a duas velocidades, na lógica de existência de países ditos periféricos como a origem exclusiva do mal europeu, não é caminho. Os bons caminhos são os que levam a soluções construtivas de reforço (não estou a referir-me a uma União Política, perspectiva que não partilho). Os bons caminhos não são de exclusão, que, mais tarde ou mais cedo, potenciam conflitos. Mas para alcançar o desiderato a que me refiro não se podem criar indiferenças, intolerâncias e pré-juízos sobre os povos em geral, nem sobre qualquer ser humano em função das suas características, sob pena de a "economia do sofrimento" fazer germinar em alguns o que de pior há para o ser humano, venha ele de onde vier, tenha as condições que tiver. Assim não haja indiferença para com a intolerância de que o agravamento das condições sociais é indutor, entre nós ou no seio da Europa.




In Correio da Manhã

quarta-feira, junho 15, 2011

Comunicado "Plataforma por Monsanto" s/construção de mais um campo de Rugby em Monsanto


Nos domínios do arbítrio

Na noite de Santo António, uma vendedeira de sardinhas assadas e bebidas coadjuvantes gritou, arfante de entusiasmo: "Que venha a crise! Que venha o FMI!" O negócio estava a render, Alfama abarrotava de gente, hora e meia para se arranjar lugar sentado. A afirmação da vendedeira não se desentendia com a realidade. Era, afinal, a imagem devolvida de um país a que não falta estilo popular mas carece de razão soberana.

Portugal está a meio caminho entre a realidade e a ficção. Sempre assim foi. A própria construção da nossa identidade é um milagre quase perfeito. Leia-se José Mattoso e António Borges Coelho. Mas Portugal, apesar de tudo, ilumina-se com o seu próprio brilho, recusa enclausurar-se em si mesmo, e detém um panteísmo específico que o tem levado a realizar o imponderável e o impensável.

O Algarve esteve cheiinho como um ovo de galinha de campo. Durante quatro dias o povo removeu sombras e incertezas e sublinhou o dito: perdido por cem, perdido por mil. Claro que, nestes extremos, há um esteticismo desesperado que deixa os sábios estrangeiros muito pasmados. A razão parece-me simples: não somos como eles. E ainda bem. Quem nos dirige e em nós tem mandado não nos sabe dirigir nem mandar. António Barreto, no discurso do 10 de Junho, falou, um pouco emocionado e levemente lírico, nesse "eu" interior. Criticou os que produzem a indiferença, e que a política, assim entendida e praticada, conduz à pior das dissoluções: a moral. Um texto escrito num idioma de lei e destinado, pelo dia e pelo fasto, a despertar as comoções de quem o ouvisse. Qualquer comparação com a redacção de terceira classe, dificultosamente escrita e penosamente lida pelo dr. Cavaco, é pura indigência mental.

Estamos à beira de coisas terríveis? Todos os dizem. E a massa informativa que recebemos a cada instante não é de molde a criar evasivas, mas torna ilusória qualquer esperança de se fazer uma escolha com base racional. Como disse a vendedeira de Alfama, se isto é a crise, então onde está a crise? Mas ela existe, e não é fluida nem abstracta. A nossa rejeição instintiva da crise é tudo o que nos resta como afirmação de independência e de decência pessoal. Há algo de ingénuo e de muito digno nesta resistência às evidências. Claro que há. É uma característica que nos diz respeito, que nos formou e nos tem ajudado a viver, por vezes no pior dos opróbrios.

As coisas têm passado depressa demais. Anos e léguas não nos deixam reflectir sobre o que nos vai acontecendo, e, até, "legitimam" a brutalidade de muitas decisões tomadas por quem tende a medir o homem com uma bitola comum. Estou a falar da troica e dos constrangimentos que impõe aos povos. Este poder absurdo e quase absoluto não é limitado por nenhuma lei nem por qualquer obrigação moral.

Estamos nos domínios do arbítrio.






In Diário de Notícias

sábado, junho 11, 2011

Ainda a Carris

A impunidade está de tal forma garantida, que há condutores que até põem o pára-sol!
A madame deixou o carro assim e foi às compras...
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ONTEM ouvi, na rádio, o muito estimável economista Prof. João Duque a falar das dificuldades da Carris, dizendo que já pouco há a fazer para melhorar a sua situação financeira - só se continuarem a cortar carreiras, o que não é aceitável.
Enviei-lhe um mail (ilustrado com muitas fotos, das já aqui afixadas), lembrando-lhe um aspecto de que quase ninguém fala: a necessidade de proporcionar, às empresas de transportes públicos, condições mínimas de mobilidade (nomeadamente nas paragens e nas faixas BUS).
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ESTAS duas imagens têm poucos dias.
A de cima foi tirada num sábado, mas a horas a que a EMEL devia estar ali a trabalhar... mas não estava - já agora, pode saber-se porquê, se é para isso que pagamos a essa rapaziada?!
A de baixo foi-o no passado domingo, quando o estacionamento, na zona em causa, é abundante e gratuito.

quinta-feira, junho 09, 2011

Apolo 70

«O Drugstore Apolo 70 (o maior da Europa) foi ontem inaugurado». Assim começava uma crónica do saudoso Diário Popular publicada a 27 de Maio de 1971. Mais adiante, «no qual se integram, além de uma bela sala de cinema, uma grande complexo hoteleiro da Hotelda, com snack-bar, bar, um “bowling” automático e uma sala de jogos». Talvez fosse a nossa resposta à Apolo 7, a primeira missão espacial tripulada, não sei. O que sei é que é o único centro comercial de que guardo boas recordações, mesmo sabendo que aquele prédio matou outro bem mais interessante.

Não foi o primeiro centro comercial de Portugal (essa honra cabe por inteiro ao Cruzeiro de 1940, no Monte Estoril, hoje cinicamente enxovalhado e abandonado). Nem terá sido o “drugstore” mais popular de Lisboa (o contemporâneo Tutti Mundi, na Av. de Roma, era toda uma outra revista “Art et Décoration” à americana) nem o maior da Europa como a notícia conta (a nossa mania das grandezas já vem de longe… até aquela pequena rua se chama Avenida Júlio Dinis!). Mas o Apolo 70 foi de facto um local de referência para mim, defensor confesso do comércio tradicional, do espaço livre e das velhas salas de cinema.

Pena é que agora que comemora 40 anos, as únicas coisas que nele subsistam sejam a decoração da fachada, a loja dos animais (pelo menos desde a última vez que lá entrei) e a livraria, ainda que já bastante diferente.

Podia falar do belíssimo snack circular e dos espaventosos hambúrgueres, novidade absoluta, devorados vorazmente em “maples” forrados a cabedal. Podia falar do “bowling” que efectivamente nunca joguei, talvez porque estivesse sempre ocupados pelos mais velhos, mas de que retenho o som dos pinos a cair. Podia falar da excelente loja de brinquedos, sócia da também já extinta Pelicano, por acaso vizinha do Tutti Mundi. Podia falar dos gelados. E dos cãezinhos e hamsters sufocando por detrás do vidro (guardo a eterna lembrança de em 75 aí ter feito um amigo para a vida com um Salsicha de pêlo comprido).

Mas do que eu gostava mesmo no Apolo 70 era da sua sala de cinema, do seu Estúdio, bilheteira incluída. Era de facto um prazer ver filmes numa sala tão cómoda e bem decorada como aquela sala forrada a napa branca, com poltronas encostadas à parede - soube há pouco que a sua decoração se deveu a Paulo Guilherme: está explicado o bom gosto.

É, por isso, um prazer “rebobinar” as estreias de «Barry Lyndon», «Fernão Capelo Gaivota», «Um Dia de Cão», «À Beira do Fim», entre muitos outros. E “reler” os seus programas bem desenhados e completos. Foi uma programação a cargo de Lauro António, leio agora. Quem nos dera que houvesse alguém que devolvesse o Cinema no São Jorge, Odéon, Tivoli e Capitólio, os templos que ainda nos restam, com uma programação como a que o Apolo 70 sempre teve. «Sonhos» de Kurosawa?



In JN (9.6.2011)

O que nos espera

Enquanto o vitalismo elementar de Paulo Portas começa a dar os primeiros sinais, Pedro Passos Coelho relê e revê o que ocorreu na sua vida nos últimos dias. Não sem apreensão. O parceiro com o qual quer coligar-se, um pouco a contragosto, é não só imponderável como imprevisível. E, no Governo, não é criatura de obediências e de jogos de equipa. Portas é um goleador solitário, e sabe muito bem que a ele, e só a ele, se deve o impulso ganhador que transformou o CDS, um partido que cabia num táxi, numa possibilidade política.

Para refrear os ânimos e acalmar as ambições de poder do fogoso dirigente "centrista", Passos já foi dizendo que quem manda ali é ele. Consta que reafirmou a parada e a intenção na reunião com o dr. Cavaco. O voluntarismo de Portas encontra no presidente do PSD o que poderemos considerar como o Muro de Massamá. A metáfora não é excessiva. Obstinado, calmo como um pugilista, os embates que teve, outrora, com o então primeiro-ministro laranja ou com Ferreira Leite, Santana, Alberto João Jardim, Rangel, Marcelo ou dr. Sarmento são capítulos de vitórias acumuladas.

O mesmo se poderá dizer do KO imposto a Sócrates. Não venceu a pugna no último debate televisivo, nada disso. Foi somando, infalível e tranquilo, pequenas afirmações de poder, dizendo-nos que, pelo menos, folheara os dossiers e sabia do que falava. E acontece, também, que o português médio e suave estava exausto de Sócrates, cujos ziguezagues ideológicos e éticos liquidavam não só as escassas esperanças populares como estavam a dissolver o que restava de "socialismo" no Partido Socialista. Vae victis, como ensina a ordenança latina. A partir de agora, Sócrates vai ser o bombo da festa. Estamos cá para ver. Aquela grotesca cena, protagonizada por António José Seguro, que mudou de opinião na curta viagem de um elevador de hotel, reconcentra a nossa perplexidade. É este, o candidato?

Se o estilo de Sócrates era cada vez mais auto-referente, o de Passos parece pautar-se pela leveza e discrição. Mas cuidado! A elegância formal não é, em política, a fundamentação de um carácter. Pelo contrário. A História está repleta de pequenos tiranos que se dissimularam em cortesias. "Sempre foi um determinado", esclarece o pai. "Desde rapaz que nunca deixou de ser firme, decidido e motivado pelas suas pessoais razões", diz um antigo colega.

A verdade é que, de repente, surge um primeiro-ministro que não pertence ao imaginário colectivo, que emerge das franjas de uma certa indefinição, de diferentes avatares e que acredita na política como um adjectivo. Um homem que cultiva a voz e as impostações da palavra dita, sorridentemente implacável, implacavelmente afável e cortês.

De repente. Temos de nos acautelar.



In Diário de Notícias

Hoje

A refundação do País vai ser profundamente dolorosa. Não importa agora perder mais tempo com causadores imediatos da situação em que nos encontramos e as respectivas motivações.

Se é verdade que temos muitas e profundas dificuldades diante de nós (dito de forma simples, o ajustamento do nosso nível de vida à nossa economia), também não o é menos de que a par das dificuldades e das necessárias contracções que todos sofreremos há que quebrar fatalismos. A par das medidas difíceis, das restrições, tem de se criar desígnios. É verdade que estamos balizados pelos acordos com a União Europeia e o FMI pa-ra que nos fosse emprestado o suficiente de que precisamos para o dia-a-dia, mas também é verdade que o Governo e o Povo Português têm a possibilidade de ganhar a batalha pela melhoria da nossa situação económica e social. Portugal não é efectivamente um País Periférico, em tempos de globalização. Só se teimar em sê-lo e continuar a apostar nas trocas comerciais quase exclusivamente no espaço europeu. Geograficamente situado entre a África, a Europa e a América, não tem de considerar-se globalmente periférico. Apostar na economia e na cultura com os países de expressão oficial portuguesa pode ser absolutamente decisivo para transformar a actual situação numa oportunidade e numa prevenção, sobretudo se atentarmos no papel económico e político que temos no âmbito da União Europeia. Há que encontrar o equilíbrio entre os vários mundos em que nos podemos inserir. Mas também vamos precisar, para concretizar desígnios geoestratégicos, sociais, económicos e culturais, de profundos consensos na sociedade portuguesa que permitam minorar os efeitos de uma degradação social que já é evidente, se bem que não em toda a sua terrível extensão. Não me refiro apenas a consensos entre forças políticas, mas também a consensos entre parceiros sociais e corpos profissionais.

A opção pelo protesto e pela conflitualidade não nos vai levar a lado algum e pode mesmo comprometer a coesão social, essencial para retomar o País. Será também decisiva a postura referencial dos agentes políticos. De facto, muita coisa tem mesmo de mudar: a nossa crítica falta de cidadania, o nosso sector empresarial – com as excepções de sempre – e a nossa classe política. Hoje, chegou a altura de fazer mais e de falar menos. Mais acção e nada de espectáculo. Com prioridades, com transparência.



In Correio da Manhã

quarta-feira, junho 08, 2011

Arquivo clínico do Bombarda


Tal qual o comunicado ali ao lado avisara, foi ontem consumada a transferência de todo o arquivo clínico do Hospital Miguel Bombarda para o Hospital Júlio de Matos, i.e., papeletas antigas, ficheiros, etc. Desta forma não é respeitada a Resolução da AR, pois a mesma fala expressamente de documentos clínicos. Para quê esta pressa? Quem lucra? Como e em quê? Um dia, se "isto" mudar, talvez regressem para fazerem parte do Museu das Neurociências.

segunda-feira, junho 06, 2011

Apontamentos de Lisboa

Largo de Martim Moniz
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NUM conjunto de bandeiras de 12 países, a nossa é a única hasteada "de pernas p' ró ar" - e está assim há anos.

Chiça!

NUMA altura em que, mais uma vez, se fala de António Costa para suceder a José Sócrates (o que significa que, um dia, o poderemos ter à frente do país!), calha bem lembrar como ele tem tratado alguns dos problemas que infernizam os lisboetas.

A esse propósito, avisam-se os interessados que os fabulosos prémios com o seu nome (e que incluem almoços de lagosta no Gambrinus!) acabam de ser renovados até ao fim do presente mês - ver [
aqui].

quinta-feira, junho 02, 2011

Eles andam por aí...

Nunca fomos muito felizes. E, se o fomos, fomo-lo tão depressa que nem demos por isso. Nos nossos ombros temos o peso da superstição; da ignorância; do temor reverencial por aqueles que julgamos acima de nós; de três séculos de Inquisição e de cinquenta anos de fascismo. "Pátria madrasta, país padrasto", sintetizou, talvez melhor do que ninguém, o grande João de Barros, o de "As Décadas" e dos "Panegíricos". E muitos outros (leia-se Camões, por exemplo, ou o tão deliberadamente esquecido Bocage) não ocultaram as palavras para causticar as insalváveis velhacarias dos "donos de Portugal".

Falo, propositadamente, n'Os Donos de Portugal, um livro de Jorge Costa, Luís Fazenda, Cecília Honório, Francisco Louçã e Fernando Rosas, há meses editado pela Afrontamento, cujas revelações são tão surpreendentes que explicam o silêncio estremecido da nossa imprensa. Em cem anos de poder económico, meia dúzia de famílias, que se cruzaram e entrecruzaram através de laços matrimoniais, forçados pelas estratégias do mando e do poder, continua esse edifício de ambivalências e contradições transformadoras de uma nação numa sociedade em comandita.

Quando Passos Coelho fala do medo instalado na sociedade portuguesa, devia aclarar as origens desse medo. E quando Sócrates insiste em que é socialista, a boca devia encher-se-lhe de areia, como na parábola bíblica. Há algo de marginalidade e de despudor no discurso que enche as televisões, as rádios e os jornais. Uma leitura, mesmo apressada, induz-nos a perceber que, na generalidade, essa retórica é não só abstrusa, por ignorante, como conduz a posições potencialmente perigosas.

Enquanto Sócrates é uma combinação de grotesco, no qual o desvario inventa o seu próprio infinito, Passos Coelho é um homem perigoso pelo que afirma e, sobretudo, por aquilo que involuntariamente dissimula. Com as ameaças que faz de "mudar" tudo, inclusive o que não é necessário alterar, demonstra uma inconsciência muito próxima do furor incontrolável de quem acaba por revelar as suas dualidades. Passos não é perigoso porque o queira ser, haja Freud!, é-o porque não sabe que o é. E Sócrates prossegue na doida cruzada de omissões e de fabulações intermináveis: um ser que confunde paixão com insanidade. É ou não é de ter medo do estranho destino que nos ensombra, com qualquer destes dois a mandar? A mandar, é como quem diz, bem entendido. A mandar aquilo que os outros mandam.

O carácter relacional do poder está a modificar muitos dos valores e dos princípios que formaram o carácter dos homens e dos povos. A servidão, engendrada por diversos regimes e sistemas, está a fazer o seu caminho pausado e eficaz. Nada do que foi será. E o que será pode muito bem suportar um tirano a posar de democrata.

Eles andam por aí.




In Diário de Notícias

Apelo

As sondagens reflectem um empate técnico entre o PS e o PSD, no próximo acto eleitoral (cerca de 35% das intenções de voto para cada). Mais reflectem as sondagens que perto de 70% dos eleitores não querem que Sócrates governe.

É a estes eleitores, a estes cidadãos, que importa apelar, em nome de todos nós, pa-ra que se decidam e que votem: se o não fizerem, serão responsáveis pela continuação desta governação que nos trouxe à bancarrota, ao desemprego, à falência do Estado Social, pese os efeitos técnicos, a propaganda, o controlo e a tentativa de amordaçamento de meios de comunicação social ou de cidadãos cujos empregos, seus ou da família, estão dependentes de boa ou má vontade deste Governo.

Não há como não concluir que, quem não optar, será ainda responsável por uma minoria de 30% governar uma maioria de 70%, que recusa peremptoriamente José Sócrates, que recusa uma Democracia apenas formal em que o sacrifício de muitos justifica as prebendas de muito poucos.

Será a subversão da democracia: a minoria a governar a maioria, por demissão desta última na construção de uma democracia qualificada.

Na verdade, a situação descrita só será possível se nos demitirmos das nossas responsabilidades. Se deixarmos aos outros a nossa decisão. Mas depois não teremos legitimidade para questionar.

É preciso dar Esperança a este País e afastar a incompetência e o clientelismo que nos tem governado. É preciso agarrar esta oportunidade para mudarmos o nosso País, ainda que saibamos que vai ser mesmo muito duro. Ponto é que mantenhamos a coesão social e que os que mais têm estejam prontos a contribuir em favor dos que menos têm.

É preciso deixar que outros, com passado impoluto e que falem e se responsabilizem pelos seus actos, ocupem os lugares de decisão dos destinos colectivos. É preciso que outros sirvam o País em vez de se servirem do País.

Se os que se seguirem, na próxima governação, tiverem um comportamento referencial, apostarem no progresso social e na justiça, apesar de todas as enormes dificuldades, sem esbanjamento, sem conluio entre interesses públicos e privados, terão legitimidade democrática quotidiana. Os cidadãos estarão sempre a tempo de os julgar. Como agora: é altura de punir a governação de Sócrates e do Partido Socialista, que aqui nos fizeram chegar.



In Correio da Manhã
1 de Junho de 2011 - 13h43m
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A já habitual utilização da ciclovia da Av. Frei Miguel Contreiras como parque de estacionamento...

quarta-feira, junho 01, 2011

Como é estimada a calçada portuguesa

Rua Augusta
(Imagens acrescentadas à colecção de horrores que se pode ver [aqui])

Ao Departamento de Segurança Rodoviária e Tráfego da CML




«Exmos. Senhores,


Venho por esta via requerer a rápida resolução de um problema de estacionamento abusivo no topo sul da Av. Conde de Valbom, junto ao Restaurante La Finestra.

Neste local, e conforme pode ser visto nas fotografias anexas, os pilaretes que canalizam o acesso de automóveis à garagem do prédio junto ao referido restaurante permitem que os automobilistas estacionem sobre a zona pedonal, dificultando fortemente o trânsito de peões.

É de sublinhar que a Av. Conde de Valbom é uma via semi-pedonal, configuração que é fortemente limitada pela abertura do mencionado canal para acesso à garagem do prédio nº 46. Para mais, nas imediações situa-se o SECRETARIADO NACIONAL DE REABILITAÇÃO P/ A INTEGRAÇÃO DAS PESSOAS C/ DEFICIÊNCIA (Av. Conde de Valbom 63), razão adicional para que a CML tudo faça para impedir os abusos recorrentes dos automobilistas que pretendem estacionar sem pagar o tarifário da EMEL.

Noto ainda que já denunciei este problema há alguns meses através do portal http://naminharua.cm-lisboa.pt/, e que a denúncia ainda não teve resposta do Departamento de Segurança Rodoviária e Tráfego. Finalmente, alerto V. Exas para o facto de o referido portal não permitir actualmente a inserção de mais denúncias (conforme imagem em anexo).

Venho assim requerer a colocação urgente de um conjunto adicional de pilaretes para que seja limitado o acesso de automóveis à garagem, em exclusivo, e assim evitar a continuação desta situação atentatória dos direitos dos peões (consignados na Carta Municipal dos Direitos dos Peões, aprovada pelo Executivo Camarário em 3 de Outubro de 2009, por unanimidade, e apresentada ao público em 20 de Setembro de 2008).

Manuel João Ramos
Morador na Av. Elias Garcia»

Chegado por e-mail:


«Exmos. Senhores:


Pela continuidade desta situação, depreendo que o proprietário desta viatura encontra-se completamente à vontade para estacionar neste local, isento de cumprir as leis do Código da Estrada, sem que nada aconteça para o evitar e constitui um acto não só de extrema falta de civismo, como de desrespeito pela lei, pelos agentes que a fazem cumprir e pelos cidadãos que têm de circular pela estrada sujeitos a um qualquer acidente.

Diz o Código da Estrada:

TÍTULO III
Do trânsito de peões
Artigo 99.º
Lugares em que podem transitar
1 – Os peões devem transitar pelos passeios, pistas ou passagens a eles destinados ou, na sua falta, pelas bermas.
Ora, como ali existe um passeio para poder transitar, este encontra-se obstruído por uma viatura, com a agravante de ser uma paragem de transportes públicos, devidamente assinalada não só pelo tracejado no chão como antecedida por um sinal de proibição de parar/estacionar excepto Carris. Isto acontece com frequência na Rua Maria Pia, na paragem junto ao nº. 185 e durante parte do dia já não mencionando a ocupação dos passeios dos dois lados da rua, por viaturas, fazendo com que os peões tenham de circular perigosamente pela estrada.

Sem outro assunto de momento,


--
Francisco Gomes»