quinta-feira, setembro 12, 2019

No processo de luta contra mais um disparate ambiental, o aeroportozinho do Montijo+ alargamento da Portela elaborámos uma peça de teatro que deveria ter sido hoje brincada na Barraca.
Por motivos vários não foi, mas aqui a trago!

Uma teatrada

A (uma ecologista)-O governo português e a Vinci pretendem avançar com a expansão da Portela e a construção de um novo aeroporto no Montijo.
B (Da Vinci)-Minha cara amiga (enfatuado) aí está uma excelente iniciativa de um excelente governo. (conta pataco)

A- Mas em Londres, em 2014, o Governo britânico abandonou a ideia de construir um novo aeroporto numa zona de estuário, por representar um risco desproporcionado para os passageiros aéreos e ser difícil de compaginar com as normas europeias de conservação da natureza.
B-Ora, ora, essa malta, o Brexit já lhes dá a volta, essas regras europeias são uma ofensa à soberania nacional, e estuários.... o minha amiga antigamente até se aterrava neles....

A- Mas na zona do Montijo, foram detectados, num só ano, três milhões de voos de aves no corredor de aproximação à pista norte, tornando clara a inevitabilidade de corvos-marinhos, cegonhas, flamingos ou gaivotas provocarem um acidente grave
B-Um acidente grave? Mas a menina acha que somos irresponsáveis? E acha que esses passarocos podem, alguma vez provocar um acidente? Se for preciso usamos um canhão e até comemos flamingo de fricassé. Está convidada pra jantar (e crava-lhe o olhar nos peitos!)

A-(Começa a reagir.)... o senhor está a brincar certo?
B- Olhe que não, olhe que não....

A- Então se senhor o dono do projecto tem que compensar a perda de vastas áreas de alimentação utilizadas por aves aquáticas migradoras e pertencentes à rede natura 2000, com a reabilitação de áreas que já estão protegidas por lei e que já estão incluídas na Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo, que negócio é este?  Vai proteger o que já está protegido? Porquê?
B-Oh, oh, oh, essa é uma malandrice dos nossos amigos, (enfatiza) nossos amigos do governo. Eu próprio não percebo o que eles querem, já lhes demos bastante (esfrega os dedos), mas isso são questões de... roda o pé

A-Mas senhor Da Vinci (aqui já zangada desabafa) que saudades do verdadeiro....porque razão temos que ter este aeroporto, ou melhor este aeródromo uma vez que tomando como certas as previsões em que se baseiam os senhores Vincis, o número de movimentos aéreos previstos para 2032 para o conjunto Portela+Montijo seria igual ao que se observa hoje no aeroporto de Gatwick, em Londres, que tem apenas uma pista.
B-(Falando para si) estes tótos ainda me licham o guito. Isso é so fumaça, vai haver muitos, muitos maohor este aerodromogos) do governo. Eu pró fumaça, vai haver muitos, muitos mais voos, aliás também teremos que alargar (desabafo- e aí safei-me destes melros,eh,eh,eh) e muito a Portela, então não sabe que a expansão económica é real, (ataque de tosse) e o que queremos é mais muito mais turistas, todos, ainda bem que temos o apoio do governo.....

A-Mas com as alterações climáticas o senhor acha que podemos continuar a aumentar a entropia, a multiplicar as emissões de CO2, a degradar os sistemas vivos?
E não acha que seria mais económico defender outros sistemas de transportes, ligações ferroviárias de qualidade de bitola europeia, pensar bem e desenvolver um sistema aeroportuário de raiz e em rede, que evitasse a poluição sonora e de micropartículas em área urbana?
B-(comentário) Esta está a tornar-se difícil (coloca um monte de notas a jeito da rapariga) Pois só faltava mais essa, nem os presidentes do Estados Unidos, do Brasil, e se calhar nem o da India e China acreditam nessas coisas, temos é que desenvolvermo-nos, logo encontraremos solução para esses problemas se os houver . Mais, muito mais economia é que é preciso, (empurra o maço de notas....pensando que a ecologista é da Quercus)

Finalmente....
Nesta nossa brincadeira quisemos mostrar que a brincar podemos levar a carta a Garcia.
É desnecessário este novo aeroporto, temos que pensar no fim da Portela, temos que alterar os dados meramente financeiros deste projecto, insensato economicamente, errado ambientalmente, arriscado em termos da saúde pelo ruído inacreditável, pelos poluentes presentes e também e esse é um problema bicudo, porque as aves, as milhares de aves, dezenas de milhar poderão provocar algum acidente, até com o dito.
Para tal temos que cumprir a legislação, que obriga o Estado português de defesa da natureza, de observâncias pelas regras que obrigam as actividades aeroportuárias, e os imperativos e directivas europeias.
Temos que parar e estudar, voltar a estudar ou retomar estudos. Sabemos que há muito que o Montijo foi afastado em estudos rigorosos, como o foi o aeroporto quase decidido entre duas serras, numa zona palustre e cheia de águas subterrâneas; a Ota foi afastada!
é preciso pensar o transporte aéreo em articulação com a ferrovia e sobretudo com a redução necessário do número de voos e taxação à aviação, com vista a cumprir os acordos de Paris sobre o clima, e estudar as várias alternativas, como exige uma avaliação ambiental estratégica.
Esperemos que se não houver dirigíveis que haja pelo menos quem nos dirija com bom senso. Nós aqui estamos.


Sem comentários: