sábado, novembro 28, 2009

Pode o Estado pôr vidas em perigo para salvar o país?


HOJE, duas viaturas oficiais, em óbvia velocidade excessiva - mesmo para viaturas oficiais que atravessam cidades em excesso de velocidade - envolveram-se numa grave e aparatosa colisão com outras viaturas em plena Avenida da Liberdade, no coração de Lisboa.
Estes são, tanto quanto podemos apurar, os factos.

Há anos que, motivada por semelhantes ocorrências, a ACA-M pede ao governo a instalação de tacógrafos nas viaturas oficiais do Estado. E há anos que pedimos ao Ministério da Administração Interna que nos esclareça o âmbito e os limites do conceito de "marcha urgente de interesse público".

Foi decente da parte do Sr. Ministro da Administração Interna visitar as vítimas do seu gabinete no hospital.

Mas não podemos esquecer que este "acidente" poderia ter sido evitado se, entrementes, o mesmo ministro já tivesse ordenado a instalação de tacógrafos nas viaturas oficiais, e definido em que condições podem as viaturas oficiais percorrer ruas e estradas do país em excesso de velocidade.

E talvez as consequências não tivessem sido tão gravosas se as mesmas vítimas tivessem tomado a precaução mínima de usar o cinto de segurança.

Parece muito estúpido circular em excesso de velocidade numa via principal da cidade de Lisboa. E parece muito irresponsável pôr vidas em perigo numa sexta-feira à tarde. A menos que o interesse nacional esteja em causa. E essa é a pergunta a que urge responder: estava? Aquelas duas viaturas oficiais que colidiram iam salvar o país?

Mesmo nos casos em que há vidas para salvar ou cidadãos para proteger - uma ambulância com doentes ou feridos graves, uma viatura em perseguição policial - os condutores estão obrigados a salvaguardar a vida e segurança dos transeuntes.

Nos casos em que governantes e dirigentes estatais exigem aos seus motoristas ser conduzidos em excesso de velocidade - apenas para chegar a horas a uma qualquer cerimónia de tomada de posse de governadores civis, por deficiente gestão do seu tempo - não há qualquer justificação plausível para um tal comportamento rodoviário. Sobretudo quando o ministro da tutela e o primeiro-ministro estão alertados - e requeridos - há três anos para a necessidade urgente de combater tal comportamento, não apenas entre os membros dos seus gabinetes mas na administração pública em geral.

Leia os nossos comunicados e requerimentos de 2006, emitidos a propósito do caso que envolveu o ex-ministro da economia e inovação, Dr. Manuel Pinho:

Excesso de Velocidade na Economia
Pelo Fim da Impunidade das Viaturas Oficiais

6 comentários:

Anónimo disse...

Aquela gente apenas demonstra que em Tugal o poder é assim entendido: dá direito a infringir gratuitamente qualquer regra de trânsito e a por em perigo a vida dos outros cidadãos, ainda por cima circulando em viaturas (e seguros) pagos por todos nós.

E depois querem ser respeitados!

Carlos Pires disse...

Há muitos anos que certos políticos e pessoas com algum poder e influência são apanhados em excesso de velocidade e em outras infracções. Nunca sucedeu nada. A justiça nunca actuou. Desta vez também não vai suceder nada. Se se fecha os olhos a um futebolista apanhado a conduzir alcoolizado e/ou a 200 à hora, porque se haveria de responsabilizar o chamado polícia dos polícias?

Carlos Medina Ribeiro disse...

No título, as últimas palavras deviam estar entre aspas.

Na realidade, o Estado pode pôr vidas em perigo para salvar o país. É isso que fazem as Forças Armadas, p. ex.

O que não pode - e é o caso do referido nesta notícia - é fazê-lo dando cobertura (impunidade) a uns quantos tontinhos que andam pelas ruas a acelerar como se fossem reis-do-mundo.

Anónimo disse...

Em excesso de velocidade para ir ao beija-mão da tomada de posse dos governadores civis. Mas tb podia ser para inaugurar um chafariz. São agendas muito preenchidas, tipo conselheiros do Presidente Obama.
Esta gente não se enxerga. Não percebe que a sociedade necessita de sinais de cumprimento da lei e que é pelo exemplo dos dirigentes que isso tb se consegue.
GR

Anónimo disse...

A notícia na RTP foi fantástica: quem ouvisse aquilo acharia que o poste ou o semáforo é que foram os culpados.
Isto está lindo!

J A disse...

Uma ova !!!! Em 36 anos de Escandinávia nunca vi "viaturas oficiais" em excesso de velocidade! Policia e ambulâncias..isso sim!
O síndroma bem português de "eu sou mais importante e tenho outros direitos.."
Enfim...são amostras da cambada que vocês por aí elegem.