Dez arquitectos pensam Paris em 2030 para reduzir fosso entre o centro e os subúrbios
15.03.2009, Alexandra Prado Coelho - PUBLICO
O pedido foi feito por Nicolas Sarkozy. Em vez de criar um monumento "à glória do regime", o Presidente quer maior transformação urbana desde o barão Haussmann
O ponto de partida é grandioso: o Presidente francês Nicolas Sarkozy pediu a dez equipas de arquitectos internacionais que projectassem a cidade de Paris daqui a 20 anos, fazendo dela uma grande metrópole sustentável pós-protocolo de Quioto. Os pontos de chegada - apresentados ontem a Sarkozy - são talvez menos grandiosos, mas mesmo assim revolucionários.
Já não estamos no tempo do ambicioso Plan Voisin, que Le Corbusier projectou para a capital francesa em 1925 e que previa a destruição de uma grande parte da cidade, a norte do Sena, para construir um conjunto de arranha-céus. No século XXI, muitos dos arquitectos convidados por Sarkozy - e que incluem nomes como o francês Jean Nouvel e o britânico Richard Rogers (co-autor do Centro Pompidou) - pensam formas de tornar a cidade mais pequena, dando-lhe uma escala mais humana.
E, sobretudo, tentando resolver aquele que todos consideram ser um dos principais problemas de Paris: o fosso profundo entre o centro, a cidade dos turistas e dos bilhetes-postais (e de dois milhões de habitantes), e as periferias (onde vivem os outros seis milhões) onde os problemas sociais se avolumam. "Não conheço nenhuma outra grande cidade em que o coração esteja tão afastado dos membros", diz Rogers, que, no seu projecto, pretende misturar "os bairros ricos e os pobres".
As soluções são, obviamente, muito diferentes. O arquitecto Antoine Grumbach, por exemplo, propõe que a cidade se estenda até ao mar, seguindo o Sena (uma ideia que já vem de Napoleão). Christian de Portzampac defende a construção de um metro aéreo que rodeie a cidade. Rogers pretende que os parisienses possam, no futuro, vir a abandonar os automóveis, e para isso prevê ligações ferroviárias cobrindo toda a Grande Paris. Além disso, propõe que os terraços de milhões de casas sejam transformados em jardins, tornando a cidade mais verde.
Uma das preocupações do arquitecto britânico é a recuperação de zonas problemáticas como Clichy-sous-Bois, palco de violentos motins em 2005. "Aquilo que ninguém escreve nem diz é que [nestes bairros] os habitantes tendem a ter origens étnicas semelhantes", disse Rogers ao jornal britânico Guardian. "Não é um sistema misturado. A monocultura é um dos grandes problemas de Paris."
A preocupação é partilhada por Roland Castro, que quer fazer do parque de La Corneuve, na periferia, uma espécie de Central Park, numa Paris organizada como uma flor de oito pétalas. Yves Lion, por seu lado, propõe que se divida a capital em 20 pequenas cidades de 500 mil habitantes cada.
Sarkozy parece não querer limitar-se a deixar uma marca na cidade como François Mitterrand fez com a Pirâmide do Louvre, George Pompidou com o Centro que tem o seu nome ou Jacques Chirac com o museu do Quai Branly. Um dos seus conselheiros, Henri Guaino, explicou ao Le Monde que o actual Presidente quer ir muito mais longe do que simplesmente construir "monumentos para a glória do regime".
A iniciativa, sublinha a AFP, tem sido apresentada como a mais ambiciosa desde que o barão Haussmann mudou radicalmente o rosto de Paris, em meados do século XIX, abrindo grandes avenidas e criando os Campos Elísios. Mas não há, até agora, nenhuma indicação de que algum dos planos apresentados pelas dez equipas de arquitectos após nove meses de trabalho vá ser posto em prática.
15.03.2009, Alexandra Prado Coelho - PUBLICO
O pedido foi feito por Nicolas Sarkozy. Em vez de criar um monumento "à glória do regime", o Presidente quer maior transformação urbana desde o barão Haussmann
O ponto de partida é grandioso: o Presidente francês Nicolas Sarkozy pediu a dez equipas de arquitectos internacionais que projectassem a cidade de Paris daqui a 20 anos, fazendo dela uma grande metrópole sustentável pós-protocolo de Quioto. Os pontos de chegada - apresentados ontem a Sarkozy - são talvez menos grandiosos, mas mesmo assim revolucionários.
Já não estamos no tempo do ambicioso Plan Voisin, que Le Corbusier projectou para a capital francesa em 1925 e que previa a destruição de uma grande parte da cidade, a norte do Sena, para construir um conjunto de arranha-céus. No século XXI, muitos dos arquitectos convidados por Sarkozy - e que incluem nomes como o francês Jean Nouvel e o britânico Richard Rogers (co-autor do Centro Pompidou) - pensam formas de tornar a cidade mais pequena, dando-lhe uma escala mais humana.
E, sobretudo, tentando resolver aquele que todos consideram ser um dos principais problemas de Paris: o fosso profundo entre o centro, a cidade dos turistas e dos bilhetes-postais (e de dois milhões de habitantes), e as periferias (onde vivem os outros seis milhões) onde os problemas sociais se avolumam. "Não conheço nenhuma outra grande cidade em que o coração esteja tão afastado dos membros", diz Rogers, que, no seu projecto, pretende misturar "os bairros ricos e os pobres".
As soluções são, obviamente, muito diferentes. O arquitecto Antoine Grumbach, por exemplo, propõe que a cidade se estenda até ao mar, seguindo o Sena (uma ideia que já vem de Napoleão). Christian de Portzampac defende a construção de um metro aéreo que rodeie a cidade. Rogers pretende que os parisienses possam, no futuro, vir a abandonar os automóveis, e para isso prevê ligações ferroviárias cobrindo toda a Grande Paris. Além disso, propõe que os terraços de milhões de casas sejam transformados em jardins, tornando a cidade mais verde.
Uma das preocupações do arquitecto britânico é a recuperação de zonas problemáticas como Clichy-sous-Bois, palco de violentos motins em 2005. "Aquilo que ninguém escreve nem diz é que [nestes bairros] os habitantes tendem a ter origens étnicas semelhantes", disse Rogers ao jornal britânico Guardian. "Não é um sistema misturado. A monocultura é um dos grandes problemas de Paris."
A preocupação é partilhada por Roland Castro, que quer fazer do parque de La Corneuve, na periferia, uma espécie de Central Park, numa Paris organizada como uma flor de oito pétalas. Yves Lion, por seu lado, propõe que se divida a capital em 20 pequenas cidades de 500 mil habitantes cada.
Sarkozy parece não querer limitar-se a deixar uma marca na cidade como François Mitterrand fez com a Pirâmide do Louvre, George Pompidou com o Centro que tem o seu nome ou Jacques Chirac com o museu do Quai Branly. Um dos seus conselheiros, Henri Guaino, explicou ao Le Monde que o actual Presidente quer ir muito mais longe do que simplesmente construir "monumentos para a glória do regime".
A iniciativa, sublinha a AFP, tem sido apresentada como a mais ambiciosa desde que o barão Haussmann mudou radicalmente o rosto de Paris, em meados do século XIX, abrindo grandes avenidas e criando os Campos Elísios. Mas não há, até agora, nenhuma indicação de que algum dos planos apresentados pelas dez equipas de arquitectos após nove meses de trabalho vá ser posto em prática.
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