Fui um daqueles que deitou foguetes. E ainda me resta uma pequena fagulha, apesar de o desemprego correr a galope, de os nossos velhos morrerem nos jardins, e de termos atingido, agora, a abjecção com o que fazemos aos nossos miúdos: abandonamo-los, enchemo-los de miséria, de fome e de morte por extinção moral.
Anteontem, os jornais alargaram-se em notícias sobre estes sacrilégios. Porque há pais que abandonam os filhos? Que desespero incontido pode levar alguém a deixar uma criança à bússola do acaso? E que bizarro mecanismo mental encaminha progenitores a não dar de comer aos seus miúdos, mas a adquirir-lhes roupas de marca? Pensemos duas vezes.
A família tem cada vez mais dificuldade em se representar. Mas foi a família que se não opôs às imposições de uma sociedade, cuja inconsistência transformou o secundário em primordial. O desprezo pelos miúdos conduz a conflitos profundos com as suas personalidades. Porém, o Estado abandonou os pais, e os pais deixaram de se interessar, no essencial, pelos filhos. O círculo ainda não encerrou. E as notícias a que me refiro advertem da existência de uma compressão da época e de um mal da alma, resumidos nesta frase medonha: "Não tenho tempo a perder."
Não temos tempo a perder com quem? Com os nossos filhos? Com os outros? Connosco próprios? Estamos a encurtar tudo (a vida, o amor, a amizade, o ócio) com melancólica leviandade. "Às duas por três nascemos/às duas por três morremos/e a vida?/não a vivemos" - ensinou Alexandre O'Neill. Nunca ouvimos os poetas.
Não há unidade nem absoluto possível se não conseguirmos travar a marcha de um sistema doente, cuja natureza se opõe à partilha, e tem destruído e aniquilado o melhor dos nossos sentimentos e emoções.
3 comentários:
"Fui um daqueles que deitou foguetes" ou "Fui um daqueles que DEITARAM foguetes"?
Ai, ai...
....mas vale a pena pensar um bocadinho, porque estamos a nadar sem pé...e muito longe da costa.
Face to face
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I don’t carry two faces under one wood
And now, that we are here face to face,
My saying must be well understood,
Should you want to follow, and keep the pace.
I put a good face on, facing dangers,
And put a bold face in it, since I born;
But near relatives, or even strangers,
Hardly ever I pulled a face, or became stubborn…
You keep a straight face, a whithering look,
When I make a face, facing tasteless paps;
When I beg for a toy, or a colored book,
You set your face against, and give me snaps.
You have the face to say, my dear grown
“The best in the world are the children”;
But you fly in the face of “skin and bone”,
That will drop down dead, and you will drain.
I don’t face out a lie, you are not as it seems;
I laugh in your face, not listening your pray;
Let me lie down and rest, sleep, have dreams,
Wondering for a future, and a better world to stay.
Right face!, dismiss!, face the music!…
Look facts in the face: your choice is the trick
For a hell of a noise, carrying a tripod,
Or a sweet melody, in the face of God.
Jamor Pastora
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