Sobre o Terreiro do Paço, aqui fica um belo texto de Fonseca e Costa:
Sou completamente avesso a intervenções de arquitectos que desfigurem obra patrimonial de grandes construtores do passado - como é o caso da Praça do Comércio, obra genial de um dos mais maiores arquitectos de Lisboa.
Imagine-se que passava pela cabeça de um pintor contemporâneo propor uma intervenção que tornasse mais "modernas" AS TENTAÇÕES DE SANTO ANTÃO, ou pela de um cineasta minimalista cortar dois planos e introduzir um feito agora num filme do Chaplin ou do Hitchcock. NINGUÉM DE BOM SENSO ESTARIA DE ACORDO.
Porquê então haver quem pense que é legítimo amputar, remodelar, alterar o que tão rigorosamente foi planeado e construído por um grande arquitecto, autor de uma das mais belas Praças do mundo ?
Acabe-se de vez com a sanha interventora dos senhores arquitectos.
Mexer na Praça do Comércio é não entender a lógica da sua colocação naquele exacto ponto da Baixa Pombalina, onde de Norte se sai pelo rio para sul ou daqui se chega a Lisboa e, pelos flancos, se liga o Oriente a Ocidente.
A Praça do Comércio abre e liga Lisboa a novos Mundos.
Os arquitectos contemporâneos que intervenham naquilo que andam fazendo.
Já se esqueceram da vergonha que foi a destruição do Eden Teatro, dessoutro grande arquitecto de Lisboa que foi Cassiano Branco ?
Aprendam a descobrir Lisboa e a luz vinda do rio-mar em que se envolve, esse Rio Tejo misteriosamente aberto num mar mediterraneo a seus pés, um mar que começa exactamente no mais belo cais com que uma cidade ao mar se possa juntar.
Só que este foi o mar que nos levou a outros mundos e também não se conhece outro cais como o Cais das Colunas - essa nossa "saudade de pedra" cuja configuração ninguém tem o direito de alterar sob pena de estar a apunhalar Lisboa.
A sangue frio.
José Fonseca e Costa
4 comentários:
Engraçado: há um José Fonseca e Costa, cineasta, que faz (fazia) parte da comissão de honra da candidatura de António Costa.
Será a mesma pessoa?
Já agora, o que pensará esse esclarecido apoiante da Unir Lisboa do novo Museu dos Coches?
Eugénio dos Santos não previu o atravessamento do Terreiro do Paço por automóveis (centenas ou milhares deles).
O texto é demagógico, visto que é preciso distinguir entre obras de arte pura, v. g. As tentações, e obras utilitárias feitas artisticamente.
Bom texto, aparte aquilo do «mais maiores». Que pronto. Mas subscrevo as ideias.
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