Àqueles sem idade suficiente para se lembrarem dos dias em que o avô do actual produtor da novel geladaria do Chiado, trabalhava para uma conhecida homóloga dos Restauradores, ou dos tempos da primeira geladaria já com o seu nome na montra, no Tamariz de um outro tempo; escusado será lembrar o percurso feito a pulso e o sucesso mais do que merecido de então e agora coroado, por via de neto, como todo senhor dos gelados da capital, relegando para o pódio secundário a mais discreta “prima” da Rua da Prata e a concha nata mais famosa, mas exageradamente doce, de Lisboa.
Memória vivas; tenho-as já da fase seguinte da sua carreira, no piso térreo do saudoso e “assassinado” Cinema São José, que tanta falta hoje faz, e daqueles gelados em tempo de intervalo de matiné. Depois, em 71, e até hoje, tenho-as da loja do centro comercial da Conde Valbom onde tenho delirado com a framboesa, o turrón, o coco, a manga, o morango e, invariavelmente, quando não apenas solitária, a excelsa nata.
É verdade que nos últimos anos, talvez pela procura massificada e/ou pelo desaparecimento do patriarca, nunca verdadeiramente substituído, os gelados não são o que eram e até. Apresentam de tempo em vez resquícios de laminados de gelo, ali e acolá demasiado líquidos. Por vezes, até, o senhor a quem cabe preencher o vazio do cone não sabe dosear os sabores convenientemente, e coloca sabor sobre sabor. Houve até uma proliferação de sabores e misturas, quiçá explosivas, na ânsia, talvez, de atrair novos públicos e acompanhar a modernidade. Compreensivelmente, a nova sociedade comercial fez um “up grade” no visual de lojas e vendedores, apostando na sala de estar. É o “marketing” e o “merchandise”, a diferenciação e a diversificação. Espero, melhor, desejo, que o salto não equivalha a uma alteração de qualidade no gelado, sob pena de se perder um vastíssimo património “gelateiro”, absolutamente único num país obrigado tempo demasiado ao geladinho de pau
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