quinta-feira, dezembro 02, 2010

A identidade

No próximo dia 4 de Dezembro completam-se trinta anos da data da morte de Francisco Sá Carneiro. Muito se tem escrito e dito, nestes últimos tempos, sobre o pensamento político de Sá Carneiro. Também a esse propósito se vêm fazendo comparações com os seus sucessores na liderança do PSD e, em particular, não certamente por acaso, com Aníbal Cavaco Silva. Recorde-se que o actual titular do cargo de Presidente da República foi a escolha de Sá Carneiro para a mais difícil das pastas ministeriais do Governo então por ele liderado: as Finanças.

Por muito que se ensaiem teorizar diferenças – e essa tentativa é paradoxalmente reveladora das semelhanças entre ambos –, na verdade, Cavaco Silva partilhou e concretizou ideais de Sá Carneiro na década em que governou e em que o País mais cresceu no post 25 de Abril.

Sá Carneiro foi por muitos considerado autoritário, tal como Cavaco Silva, e a ambos foi imputado formatarem um partido à sua imagem e semelhança (recordando as dissidências profundas que Sá Carneiro enfrentou). Nada mais falso: ambos revelaram fortaleza nas suas convicções e autoridade, o que é significativamente diferente (é até o oposto) de ser autoritário.

O facto é que existe entre ambos profunda identidade de pensamento político estratégico. Ambos sempre defenderam uma sociedade mais forte e o PSD como o partido que reflectia transversalmente essa sociedade. Ambos eram reformadores e não conservadores; ambos tinham um profundo sentido de justiça social. Ambos recusaram vias liberais ou neoliberais. Ambos defendiam a abertura à Europa.

E se é certo que Sá Carneiro não teve a possibilidade de executar o projecto que ambicionou para o País, Cavaco Silva deu início a uma profunda alteração da sociedade portuguesa: diminuiu o peso do Estado na sociedade, o que resulta à evidência de privatizações, da criação de uma classe média (hoje ameaçada) e da criação de prestações sociais. Alterou a lei de delimitação de sectores com a abertura ao sector privado de um conjunto muito amplo de sectores que lhe estavam vedados (como o da comunicação social). Foi preciso dotar o País das infra-estruturas que, à época – é bom lembrar – escasseavam, do saneamento básico à electricidade e parque escolar. Foi preciso fazer quase tudo.

Sá Carneiro e Cavaco Silva sofreram tentativas de julgamento na praça pública que se revelaram absolutamente falhadas em função do mérito intrínseco dos próprios.




In Correio da Manhã

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