quinta-feira, dezembro 30, 2010

Votos para 2011

Chegados a 31 de Dezembro, e pela parte que me toca nesta coluna, mais do que fazer votos que aconteçam coisas boas no ano que aí vem, importa fazer votos que NÃO voltem a acontecer outras tantas coisas más por que passaram Lisboa e arredores em 2010. Coisas que, compreensivelmente, revoltaram as pessoas, ou que, incompreensivelmente, não as revoltando contribuíram de facto para uma Lisboa mais feia e menos rica em património.

Desde logo, faço votos que em 2011 não se voltem a repetir “arboricídios” como os que dizimaram os pobres choupos do Jardim do Príncipe Real, ou os que neste preciso momento assolam os vetustos plátanos de Colares. No primeiro caso, tivesse havido bom senso, pedagogia e respeito pelo próximo, e muita coisa se teria evitado. No segundo, por mais esclarecimentos e desculpas de mau pagador que me apresentem, obrigado, mas mais do mesmo, não, que árvores de copa feita demoram a tê-la quase uma vida de homem!

Os mesmos votos no que se refere às vistas ou à falta delas, e que em 2011 não façam escola nem a “Legolândia” do novo Estoril-Sol, nem obstruções a miradouros como a descarada do cimo das Escadas do Chão do Loureiro, em Lisboa. Por causa do primeiro, as vistas da baía de Cascais desde o mar tornaram-se insuportáveis, e no segundo, por causa de um tolo de um elevador pseudo-panorâmico, acoplado a um silo para automóveis, ficou zarolho um dos sistemas de vistas gratuitos mais populares da zona histórica de Lisboa. No que toca a causa maior, a do património edificado, bom:

Que no ano que vem não se repitam atentados ao património como os perpetrados em Lisboa ao Palácio do Contador-Mor, arrasado apesar dos pareceres contra de serviços vários da Cultura; ou aos prédios Ventura Terra, na Av. República, arrasado nos 100 anos da República do Arquitecto; ou à casa modernista de Almada e António Varela, na Rua da Alcolena, num processo tão desprezível e vil como bem encenado pelas várias entidades envolvidas … apenas comparável ao recente Rato que a CML decidiu este Natal deixar a Lisboa no seu sapatinho!

Também faço votos que, à custa do Plano de Pormenor, o Chiado não contamine a Baixa, e não se alastre a jusante o que tem sido regra geral a montante: alterações em barda que passam pelo esventramento a 100% de edifícios, seguidas de reconstruções a betão e alumínio, e caves para estacionamento automóvel; muito menos que se estropie São Paulo à custa da sua não inclusão da área daquele Plano. Tampouco que o Jardim Botânico vire logradouro de condomínios à custa do Parque Mayer.

Faço ainda votos que o novo PDM proteja o património de Lisboa e não vire rede de arrastão. E que 2011 seja o ano do Azulejo e do “meu” Cinema Odéon, e que haja boas notícias em ambos os casos. Votos desmesurados?



In Jornal de Notícias (30.12.2010)

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