Coincidência das coincidências (“Yo no creo en las brujas; pero que las hay, las hay”), eis que pelo telefone me é feito convite irrecusável a visitar a exposição em apreço, e com direito a cicerone entusiasta e tudo. E irrecusável foi, apesar daquela tarde de Sábado ameaçar forte chuvada e convidar já por si à depressão. Aproveitaria até para conhecer “in loco” o famoso edifício panóptico (1896), referência internacional da herança do género, uma casa-museu … espécie rara em Lisboa, quando não em vias de extinção. Uma casa-museu “porque o Pavilhão de Segurança não é um edifício onde se instalou um museu, antes constitui uma importante componente museológica”.
Confissões feitas; chegado ao local, a minha primeira impressão foi: a Art Brut pouco ou nada terá de bruta mas tudo de Crua. Segunda: como é possível que esta “arte dos loucos”, como era conhecida no início do séc. XX, seja ainda desconhecida da generalidade dos portugueses quando lá fora é considerada não menos arte que as outras, veja-se a influência assumida por Picasso, por exemplo. Terceira: será possível que o Governo e demais gestores da coisa pública, no ímpeto de angariarem receitas extraordinárias pelo encerramento e venda dos ex-Hospitais Civis de Lisboa, planeiem o fecho desta valiosíssima casa-museu, e transferir o seu precioso acervo (pintura, desenho, azulejo, etc., em mais de 3.500 obras, desde 1902) para outra casa que não aquela? Parece-me contra-natura e um atentado ao património No entanto é isso que se prepara. Daí, talvez., a pouca projecção dada a esta exposição…
Há que apelar, já, às Sras. Ministras da Saúde e da Cultura, para que assumam como valiosa esta casa-museu, no Panóptico, e garantam, desde já, a sua continuidade ali e só ali, enquanto museu dedicado à Outsider Art e às neurociências. Mais, devem alargá-lo a outros espaços do hospital: Balneário D. Maria (1853), entrada, escadaria e salão nobre do corpo principal, e gabinete do próprio Miguel Bombarda. Mais ainda, devem a CML e esses ministérios trabalhar em prol de uma solução global para o hospital que não passe pelo estropiar da antiga Quinta de Rilhafoles, mas pela criação de um equipamento colectivo público, que sirva de motor de reabilitação da zona. Porque não a sua adaptação a Arquivo Municipal de Lisboa?
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