quinta-feira, dezembro 30, 2010

Para o ano

O Inverno está muito frio e chuvoso e é por entre os pingos da chuva e o frio que vamos iniciar o novo ano, literalmente e em sentido figurado.

Estes tempos estão ásperos, muito ásperos, e é neles que as sociedades fazem ajustes de contas generalizados que, não raro, apanham muitos inocentes (basta ouvir as pessoas para perceber a revolta e até a raiva latente, quando não já assumida).

As contas dos transportes, da água, da luz, do telemóvel e a prestação da casa vão subir; as retribuições vão diminuir e mesmo desempregados e reformados passam a pagar taxas moderadoras. O desemprego não pára de aumentar. O desespero não é bom conselheiro, mas existe.

No momento em que os indicadores de desestruturação social sobem, não deixa de raiar a falta de senso e de ser deveras peculiar a iniciativa do Governo de facilitar a venda de armas. Antes fosse o Governo por caminhos de exemplo, até porque há um programa gigantesco a iniciar: a credibilização da política; a dignificação da justiça; o disciplinar a actividade legislativa; o redimensionar do Estado, o planificar a reestruturação dos sectores produtivos, a criação efectiva de uma rede de apoio social Estado/Autarquias/IPSS; combater o desemprego; aumentar o emprego; incentivar a inovação; incentivar as empresas; desburocratizar o País, qualificar o ensino... E um manual de boas práticas para o sector público e privado também calhava. Pôr ordem no sector empresarial público convinha, assim como despartidarizar e criar uma cultura de exigência e responsabilidade.

Ao mesmo tempo é imperioso erradicar as pragas que se alimentam de todos nós, a vários títulos, que em nada se saciam. E evitar medidas como por exemplo não fazer de conta que se qualificam os desempregados através do recurso – o que seria um verdadeiro embuste – às "novas oportunidades", nem continuar a desmantelar ou a gerir anarquicamente o SNS.

Ao contrário, convém não matar uma parte da classe média com a dose que o Código Contributivo anuncia.

Não temos sinais encorajadores em nenhuma das áreas que aqui elenquei e como se vê há muito por fazer e outro tanto para desfazer. É evidente que fácil não é, mas muitas das nossas disfunções também não são tão difíceis assim de tratar: passa é por regras, rigor, orçamentos, planificações, responsabilização, essas coisas cuja existência contribui para a transparência que tantos odeiam. Pode ser... para o ano.



In Correio da Manhã

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