Por Carlos Filipe
A conclusão da Circular Regional Interior de Lisboa continua a gerar críticas, mas a autarquia, apesar de visada, mostra-se solidária com quem se diz lesado
O movimento criado pelos moradores do Bairro de Santa Cruz de Benfica, que uniu vozes contra a qualidade do projecto de conclusão da Circular Regional Interior de Lisboa (CRIL), sente-se abandonado pela autarquia na sua luta contra o que reiterou serem continuadas ilegalidades e mentiras do dono da obra, a Estradas de Portugal.
Usaram-se frases fortes na 54.ª reunião descentralizada da Câmara de Lisboa, quinta-feira à noite, em Benfica, na Escola Secundária José Gomes Ferreira. Mas se os vereadores rejeitaram responsabilidades no processo, também se mostraram solidários com a luta dos cidadãos. O vice-presidente da câmara, Manuel Salgado, não poderia ter sido mais cáustico: "Fomos ludibriados."
O autarca não quis deixar de rematar o assunto CRIL com a garantia de que o executivo da câmara não se demitirá de tentar minimizar o impacte negativo da obra, "sem prejuízo das questões judiciais em curso". Isto depois de ter admitido que a câmara foi "ludibriada neste processo pela Estradas de Portugal": "Há dois anos, as imagens que nos mostraram não eram estas, o que é um logro."
Jorge Alves, da Comissão de Moradores de Santa Cruz de Benfica, que há muito luta contra o que diz ser um péssimo projecto de fecho da CRIL, recordou o que disse o primeiro-ministro, José Sócrates, no lançamento da obra - "um projecto ambientalmente pioneiro e um excelente projecto rodoviário" -, e lamentou que "o que já está bem à vista é exactamente o contrário". E atacou: "A CML tem grande responsabilidade em todo este processo. [Depois de Carmona Rodrigues, que deu o aval a este projecto] o actual executivo da CML, apesar de todos os alertas, e consciente que este projecto era uma aberração, aceitou-o como consumado (...), desculpando-se de ser esta uma obra do Governo. Abandonou os munícipes. Deixou-os entregues a todo o tipo de atropelos por parte do dono da obra."
O vereador Nunes da Silva também está contra o (actual) projecto, mas sublinhou que o trabalho realizado pelas câmaras de Lisboa e da Amadora não tem correspondência com o que foi apresentado pelo Governo e pela obra já realizada. "Denunciámos, chamámos a atenção à empresa pela vergonha que se estava ali a passar. O problema é que os técnicos da Estradas de Portugal nunca aceitaram as propostas do movimento de contestação ao projecto da CRIL. Mas mudou o presidente da empresa, perdeu-se o historial do processo e alterou-se o projecto que estava acordado."
O vereador José Sá Fernandes acrescentou que "a obra viola a declaração de impacte ambiental": "A matéria está a ser discutida em tribunal, mas a imagem que foi vendida não corresponde à realidade. Há aqui um engano, e grave."
1 comentário:
Como é possível que a CML possa ter a lata de se dizer ludibriada?
A obra foi feita clandestinamente, de noite?
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