sexta-feira, outubro 29, 2010

Museu Nacional da Música

O Ministério da Cultura tem a vontade indómita de instalar o Museu da Música no Convento de S. Bento de Cástris, na Malagueira, próximo de Évora. Diz que as obras serão faseadas e durarão quatro anos. À primeira vista, trata-se de uma excelente notícia que junta o útil ao agradável: recuperação de património ao abandono e a saque, descentralização de um museu com estatuto de nacional.

Com efeito, este convento de origem cisterciense, que já albergou a Casa Pia e hoje está ao deus-dará, tem sido notícia de há anos a esta parte pelos roubos de que tem sido vítima; na linha, aliás, de centenas de outros tantos que contribuem de forma indelével não para o enriquecimento, valorização ou divulgação do nosso património, mas para que o país seja charneira no tráfico internacional de arte sacra, azulejos, etc. Houve quem durante esse tempo, sem sucesso, tivesse puxado pela cabeça para lhe dar destino condigno: hotel de luxo, centro de investigação da Universidade de Évora, etc.

Com efeito, também, o actual Museu da Música, que alberga «uma das mais ricas colecções instrumentais da Europa», além de espólio documental, fonográfico e iconográfico, numa colecção de 1.400 instrumentos musicais dos séculos XVI a XX, vindos, sobretudo, de antigas colecções privadas (Alfredo Keil, Carvalho Monteiro, etc.), precisa de sair da estação de metropolitano do Alto dos Moinhos, onde foi colocado em 1994, porque, pasme-se, não tinha casa. O Metro merece o nosso agradecimento mas o museu da música tem que estar em local apropriado, amplo, com alma e carisma, de fácil identificação e acesso e, se possível, implicando a recuperação de património ligado às artes, já não digo à musa Euterpe mas, porque não, a um teatro.

Assim chegamos à irmã daquela e ao arruinado Teatro Tália (1820), junto ao Zoo de Lisboa, teatro lírico de referência internacional até ao dia em que ardeu, em 1862, e de que nunca mais recuperou, apesar do estatuto de Imóvel de Interesse Público que lhe foi atribuído em 1974, e de fazer parte do conjunto apalaçado em que mora o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Durante 30 anos o Estado prometeu mundos e fundos mas nada cumpriu, até que neste Verão, inexplicavelmente, começou as obras de transformação do antigo teatro em anfiteatro/centro de congressos à guarda e programação daquele ministério, com projecto contemporâneo do Arq. Byrne.

A questão é: independentemente da boa intenção do MCTES, se ainda se for a tempo de alterar o projecto a decorrer no Tália, não fará mais sentido instalar aí o Museu da Música, na capital do país, em vez de o mandar para nenhures? E para o antigo convento, não haverá mesmo outra solução que permita o seu restauro e ocupação, à semelhança do que aconteceu a outros conventos, entretanto bem remodelados?



In Jornal de Notícias (28.10.2010)

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