A habitual missa de domingo na paróquia da Igreja de Santo António, em Campolide, Lisboa, ficou marcada por um protesto insólito: padre e paroquianos passaram a missa de capacete na cabeça, para alertar para a necessidade de obras de conservação no edifício.
"As partes laterais da igreja estão quase a cair. Não se dá conta da água que se tira. E gostava que nesta altura em que se comemora os 100 anos da República se fizesse mais do que isso. Dar o seu a seu dono, de forma a que possamos fazer obras, que será outra batalha a seguir muito vasta e complicada", disse à Lusa Isabel, paroquiana e voluntária das obras sociais da igreja de Santo António.
A comunidade que frequenta a paróquia exige uma solução por parte do Ministério das Finanças, que tutela a propriedade do edifício, para que se possam fazer as obras, e contesta a intenção do Governo de vender à paróquia um imóvel que há 100 anos lhe foi confiscado a custo zero.
"O Ministério não quer passar a preço simbólico ou a custo zero o imóvel para a paróquia. Começou por nos pedir um milhão e 200 mil euros, depois de algumas conversas acabaram por nos pedir 243 mil euros. Mas face à degradação do imóvel, e por ter sido confiscado a custo zero, achamos que é imoral o Estado querer fazer um negócio com uma coisa que roubou e agora quer vender", criticou o padre João.
"No nosso país qualquer cidadão que roube e venda é penalizado. Parece que com o Estado, que é pessoa de bem, não acontece isso", acrescentou.
O padre referiu as pequenas obras de sustentação de tetos e paredes que têm sido feitas com os recursos da paróquia e a boa vontade dos paroquianos, mas sublinhou que mais do que isso é impossível para uma igreja que vive paredes meias com uma realidade social também ela degradada.
"Nós somos uma comunidade empenhada, mas somos uma comunidade pobre. Nunca teremos possibilidades nem de comprar o imóvel, apesar de acharmos isso imoral, nem depois de fazer as obras. Só com mecenas, mas sabemos que o país está como está. Mecenas há dez anos era uma coisa, hoje é outra, afirmou.
A igreja, classificada como imóvel de interesse público, foi confiscada pelo Estado três dias depois da implantação da República em Portugal e foi um depósito da farmácia do Exército até ter sido restituída às suas funções de culto em Outubro de 1938.
A igreja, classificada como imóvel de interesse público, foi confiscada pelo Estado três dias depois da implantação da República em Portugal e foi um depósito da farmácia do Exército até ter sido restituída às suas funções de culto em Outubro de 1938.
"Querem-nos vender uma coisa que já é nossa, quando a vieram buscar sem pagar um tostão. Sejam ao menos honestos. O país está tão mal, entreguem aquilo que é do povo para o povo ver se consegue arranjar a igreja antes que nos comecem a cair pedras e chuva em cima. É isto que pedimos ao senhor ministro. É a nossa única igreja", disse Rosa Bettencourt, paroquiana há 40 anos.
"Tenho visto a igreja a degradar-se cada vez mais. Quando chove é horrendo. Já assisti a uma queda de tecto. Põe-nos a nós em perigo e é uma pena a igreja perder-se, porque é realmente muito bonita", acrescentou Madalena Queirós
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