sábado, dezembro 18, 2010

Luzes de Natal

Hoje, como ontem ou anteontem, continua a ser passeio obrigatório cá da casa dar-se uma mirada às iluminações de Natal, de preferência agendando-o para uma ou duas noites, frias, de preferência, para se poderem apreciar devidamente as iluminações, sobretudo as da Baixa, entendida esta não tanto pelos limites físicos do plano de pormenor e salvaguarda recentemente despachado pela CML, mas mais como a Lisboa que sobre do Terreiro do Paço ao Marquês, do Camões ao Rato, e mais a que vai da Guerra Junqueiro à Igreja de São João de Brito. Com efeito, os anos vão passando, a crise nem tanto; mas as luzes que geralmente são accionadas exactamente um mês antes da Quadra ocorrer, são também um espectáculo a não perder seja a pé seja de carro, isto se por acaso a chuva não permitir uma agradável passeata “a butes” depois de jantar.

Ultimamente, contudo, tem havido uma série de evidentes abusos do espaço público e da afixação de publicidade neste âmbito, usurpando uma Quadra que nada deve ter que ver com semelhante mercantilismo e de que as iluminações dos últimos dois anos foram particularmente alvo, altura em que foi escandalosa a ocupação das praças mais importantes de Lisboa, de troncos e ramos de árvores e de fachadas de prédios, com luzes e letreiros debitando descaradamente publicidade a bancos, seguradoras e operadoras de telemóveis sob a forma de letreiros luminosos e “lasers” intermitentes.

Foi à custa de muito falatório e de muito protesto escrito, e do reconhecimento por quem de direito que havia de facto abuso, que lá se jurou a pés juntos que para o ano, este ano, a coisa mudaria, e que aberrações como as que se assistiu no Rossio e nos Restauradores. E de facto, excepção feita à parolice em que a Santa Casa da Misericórdia decidiu transformar o Rossio (CML e IGESPAR anuíram?), a diferença é abissal deste ano para o ano passado. Recuou-se na extravagância de cores e bonecada com que os adjudicatários das luzes têm vindo a brindar, sobretudo, a Baixa. As luzes são muito mais simples, mas não menos bonitas, antes pelo contrário. Obrigado, portanto.

Só que sobre as iluminações deste ano chegou a pairar o perigo de não luzirem de todo, por culpa da Sra. Crise. Houve discursos inflamados reclamando por cortes orçamentais, até pela sua supressão total, como forma do município poupar dinheiro (pura demagogia, injusta e gravosa, porque as luzes são seguramente incentivo à nossa auto-estima). Quem nos garante, portanto, que a longo prazo, já em tempo de abundância, não voltarão as luzes berrantemente coloridas, os bonecos de renas e trenós dependurados das fachadas, os letreiros manhosos? Não seria de aproveitar este ano de crise para se depurar, de uma vez por todas, a estética e o enquadramento das Luzes de Natal?




In Jornal de Notícias (16.12.2010)

2 comentários:

Anónimo disse...

A Baixa, à noite, é mais marginais e sem-abrigo...

Anónimo disse...

Sem dúvida uma questão a ter em conta, atendendo à desgraçada e perene tendência, cá do burgo, para - ao menor pretexto - se dar rédea solta ao mau gosto exuberante.

Em todo o caso, deverá ser tão longo esse prazo em que voltará a abundância, admitindo esperançadamente que voltará, que não sei se será preocupação a reter...

Costa