Ultimamente, contudo, tem havido uma série de evidentes abusos do espaço público e da afixação de publicidade neste âmbito, usurpando uma Quadra que nada deve ter que ver com semelhante mercantilismo e de que as iluminações dos últimos dois anos foram particularmente alvo, altura em que foi escandalosa a ocupação das praças mais importantes de Lisboa, de troncos e ramos de árvores e de fachadas de prédios, com luzes e letreiros debitando descaradamente publicidade a bancos, seguradoras e operadoras de telemóveis sob a forma de letreiros luminosos e “lasers” intermitentes.
Foi à custa de muito falatório e de muito protesto escrito, e do reconhecimento por quem de direito que havia de facto abuso, que lá se jurou a pés juntos que para o ano, este ano, a coisa mudaria, e que aberrações como as que se assistiu no Rossio e nos Restauradores. E de facto, excepção feita à parolice em que a Santa Casa da Misericórdia decidiu transformar o Rossio (CML e IGESPAR anuíram?), a diferença é abissal deste ano para o ano passado. Recuou-se na extravagância de cores e bonecada com que os adjudicatários das luzes têm vindo a brindar, sobretudo, a Baixa. As luzes são muito mais simples, mas não menos bonitas, antes pelo contrário. Obrigado, portanto.
Só que sobre as iluminações deste ano chegou a pairar o perigo de não luzirem de todo, por culpa da Sra. Crise. Houve discursos inflamados reclamando por cortes orçamentais, até pela sua supressão total, como forma do município poupar dinheiro (pura demagogia, injusta e gravosa, porque as luzes são seguramente incentivo à nossa auto-estima). Quem nos garante, portanto, que a longo prazo, já em tempo de abundância, não voltarão as luzes berrantemente coloridas, os bonecos de renas e trenós dependurados das fachadas, os letreiros manhosos? Não seria de aproveitar este ano de crise para se depurar, de uma vez por todas, a estética e o enquadramento das Luzes de Natal?
2 comentários:
A Baixa, à noite, é mais marginais e sem-abrigo...
Sem dúvida uma questão a ter em conta, atendendo à desgraçada e perene tendência, cá do burgo, para - ao menor pretexto - se dar rédea solta ao mau gosto exuberante.
Em todo o caso, deverá ser tão longo esse prazo em que voltará a abundância, admitindo esperançadamente que voltará, que não sei se será preocupação a reter...
Costa
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