domingo, abril 01, 2007

UMA TRISTEZA

Calcorrear os bairros históricos de Lisboa podia ser um momento único. Um reencontro com a história de Lisboa. Um tempo agradável de contacto com a mística de Lisboa. Um roteiro de factos que foram fazendo Lisboa a pulso, à força de histórias de vida que tiveram o sortilégio de ganhar a eternidade. Mas não é. É uma experiência desgradável, de puro convívio com lixo, com buracos nos passeios e nas ruas e com um espaço urbano pouco preservado. Hoje aconteceu-me em Alfama e na Mouraria. Quem subisse a Rua dos Cavaleiros a partir do Martim Moniz dir-se-ia num subúrbio do terceiro mundo, tanto era o lixo na rua. As coisas não melhoravam para quem descesse pelo Largo da Severa e pela Rua do Capelão, para ver a casa onde nasceu Fernando Maurício e, em frente, a casa onde viveu Maria Severa Onofriana. A nossa cidade não é hoje, infelizmente, um espaço urbano de que nos possamos orgulhar. Andar nas suas ruas faz, por vezes, lembrar os célebres relatos de viagens de quem nos visitava e se escandalizava com a falta de higiene, com a porcaria nas ruas, com a imundície. Que diabo, onde páram os carros do lixo, as agulhetas de outrora? Apesar da eterna e invicta vaidade dos edis cuidar de assegurar sempre uma lápide para a posteridade.

9 comentários:

Anónimo disse...

......2007 é o ano! até quando o nosso atraso? Temos exactamente a quantidade de lixo nas nossas ruas, que merecemos. Nem mais, nem menos.

JA

Carlos Medina Ribeiro disse...

«...onde páram os carros do lixo, as agulhetas de outrora?...»

A pergunta tem razão de ser, é claro.

Mas o lixo não cai do céu; daí, também, a pergunta:

«Onde pára o amor pela cidade? O que leva MILHARES de cidadãos, todos os dias, a atirar para o chão os jornais gratuitos, p. ex.?»

O que se passa é que o lisboeta-típico não nasceu em Lisboa, não é de Lisboa, não sente a cidade como coisa sua. Não a ama, ao contrário do que sucede em muitas outras povoações.

Mas o mal afecta (quase) todas as grandes metrópoles, e não há serviços de limpeza que lhes valham, por melhores que sejam...

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Curiosidade:

Em cidades alemãs, onde estive (não sei se será assim em todas), os moradores tinham a seu cargo a limpeza dos passeios em frente às respectivas casas.

Anónimo disse...

Pois é caro Medina R.....acertou! o lixo não vem do céu, e a maioria das pessoas não deita o mesmo no chão das suas casas. O desprezo, e a falta de amor por a nossa cidade, é o problema base.
E enquanto isso não mudar.......

JA

Carlos Medina Ribeiro disse...

JA,

Claro, mas "a coisa" é capaz de ser mais complicada de entender.
Eu conheço bem as gentes do Porto (nasci lá) e sei que elas adoram a sua cidade, até porque a maioria nasceu lá. No entanto, há zonas em que o lixo não fica atrás do de Lisboa.

Anónimo disse...

(...) talvez a medida da diferença resida na própria noção do espaço público: enquanto lá fora (nos tais países ditos 'civilizados'!?) significa algo que pertence a todos, e que portanto merece ser cuidado, ter a atenção de cada um, por cá, por razões ainda não muito bem explicadas...corresponde a um espaço que não é de ninguém!? mesmo se defronte de casa ou se utilizado frequentemente... passa a ser responsabilidade 'deles', isto é, de não se sabe quem!
AB

Anónimo disse...

É óbvio que existe também o componente, falta de civismo e falta de educação.......

JA

Anónimo disse...

Deviam promover Alfama chamando-lhe Allfame.

Anónimo disse...

(...) outra deriva (a propósito de Educação de anglicismos e...da Cultura local): está por reconhecer à Universidade Independente a autoria moral (embora por via inconsciente!) dessa reforma formidável que há muito esperávamos (mas que ninguém ousara concretizar!), nada mais, nada menos que o...Simplex!

-uma licenciatura? feita para agora e 'passada' ao Domingo?
okkkayy, there's no problem at allll ;)
AB

Paulo Ferrero disse...

Ontem, fui até Alfama, e gostei e não gostei do que vi.

Gostei de ver que muitos dos prédios que estavam com andaimes e à espera de reabilitação, estão reabilitados e sem andaimes. Não gostei de ver alguns que são só fachada, outros que continuam com andaimes e outros, ainda, recuperados mas vazios de pessoas, o que é grave. Mais ainda parece ser a praga do "vende-se. contacto: xpto".

Gostei de ver recuperadas as fachadas das igrejas de São João da Praça, São Miguel, Santo Estêvão e Ermida dos Remédios. Não gostei de as ver fechadas e com turistas a olharem para o boneco, paredes-meias com azulejos partidos e restos de entulho nos passeios.

Gostei de ver o centro cultural Magalhães Lima recheado e animado com mostra de artesanato e design. Não gostei de ver o edfício a cair aos bocados, literalmente, sendo sabida a promessa a CML de há décadas, de o reabilitar.

Gostei de ver muitos moradores na rua e sentados nos bancos, as portas de casa abertas, dos bares, casas de fado e dos cafés também. Não gostei de ver que os únicos cães na rua, nas varandas e à porta, amarrados, fossem da raça Pitt Bull - mau sinal.

Gostei de ver que, depois de mais de 10 anos de obras, existe 1 tapume a menos no Largo do Chafariz de Dentro. Não gostei de ver queos outros tapumes continuam e que o Museu do Fado estava fechado, e os chafarizes ( de Dentro e d'El-Rei) continuadamente fechados e por reabilitar.

Gostei de ver que o trânsito condicionado funciona mesmo. Não gostei de ver que o silo das Portas do Sol estava às moscas e os carros estacionavam cá fora, à vontade do freguês. Detestei ver aquela grua em Santa Luzia.