Sinto por Lisboa um sentimento que não nutro por Portugal. Gosto de Lisboa porque ela é a minha «terra», como o meu pai chamava à aldeia onde nascera. Foi aqui que passei a infância, a adolescência e parte da vida adulta. Isto marca. Preocupo-me mais com Lisboa do que com cidades onde eventualmente até gostaria de viver.
Mas uma cidade não muda num ano. Há coisas boas ou más que notei ao longo destes doze meses? Algumas, mas devo dizer que só posso falar da zona onde vivo, Estrela-Lapa, porque, nos dias que correm, raramente saio deste perímetro. Duvido aliás que algumas das coisas positivas que vou citar se devam necessariamente à nova liderança da Câmara, mas aqui fica a lista. Despacho as más, que acima de tudo dizem respeito ao estado lamentável das ruas, para me concentrar nas boas, como o Jardim da Estrela, que está cada vez mais bonito, e o eléctrico 28, que eu cruzo diariamente na Calçada da Estrela, o qual, depois de lhe terem sido retirados os anúncios, está glorioso. Quero ainda referir os concertos organizados em igrejas. Este ano assisti a dois, ambos gratuitos, um com música de Pergolesi e outro de Bach, o primeiro na Basílica da Estrela e o último na Igreja dos Mártires. Não sendo crente, há muito que não entrava em qualquer destes templos. Fiquei satisfeita quando constatei que estão ambos maravilhosamente restaurados: aqui, sim, a música barroca ganha outro sentido.
Finalmente, preocupa-me o estado do Terreiro do Paço. A ideia de que possam vir a transformar a praça numa zona com hoteizinhos, boutiquezinhas e cafezinhos horroriza-me. Sendo a sede e o símbolo do poder, deve continuar como está. Não precisa de mais nada, devendo apenas ser reposto o que de lá tiraram, as colunas.
Maria Filomena Mónica
6 comentários:
Deviam repor a quantidade enorme de árvores que a praça tinha originalmente!
Hotéis e lojas de luxo são os símbolos do novo Poder vigente.
Cumpts.
Pois claro, o Terreiro do Paço deve continuar como está aos domingos, mesmo os de Agosto, obrigando a uns desvios por ruas de piso horroroso por causa de umas palhaçadas que os turistas vêem de longe (sem ofensa para os palhaços, que muito prezo), porque os indígenas foram para a praia.
(...) como está é que não é nada recomendável. Que continue a ter um papel simbólico (o edificado, a praça, já o é) a servir de sede de instituições públicas, ou, porque não, de privadas, ninguém, acho eu, discordará(?), agora, o que é mesmo fundamental é mudar o desprezo e o abandono a que tem sido sujeito/votado(!?). Para isso, há que encontrar a combinação perfeita, em termos de usos e de horários, ou da sua combinação (faça-se como na Gulbenkian... tão admirada ;) de modo a prevenir mais situações de abandono senão de incúria - muitas vezes oculta, dentro dos próprios espaços ocupados pelos ministérios! Se duvidam, ou acham que é mera retórica, queiram visitar a exposição - interminável e surpreendente - sobre a Baixa Pombalina (e o Terremoto) e... queiram reparar nas 'obras de adaptação' (dignas de uma oficina de bate-chapa cladestina patrocinada pelo IGESPAR) a que sujeitaram o(s) pátio(s) do(s) nossos ministérios!!? é hilariante e sobejamente pedagógico, sobre isso não tenho qualquer dúvida (he, he ; )
AB
Épá, se o Terreiro do Paço é a sede e o símbolo do poder, devem mudar-se para lá o Cavaco mailo Sócrates!
Relativamente à animação do Terreiro do Paço aos fins-de-semana, deixo aqui uma pergunta que (sei) nunca terá resposta: Quanto custa? Só o que o aparelho da Câmara gasta directamente(serviços, trabalho extraordinário, viaturas, limpeza,etc) dava, ao fim do ano, em qualquer país bem governado, para requalificar dignamente esta praça! Ou seja, tratar das pinturas, dos pavimentos, da iluminação pública, da limpeza, do ordenamento do trânsito e dos espaços pedonais. O resto é o espírito saloio dos nossos governantes que pretendem todos ser uma mistura de marqueses de Pombal e condes de Oeiras, para deixarem obra feita! Tal como as coisas estão, a melhor obra que podem fazer é uma obra de caridade: deixem-nos em paz! A nós, lisboetas, ao nosso património, aos nossos jardins, às nossa ruas, à nossa história.
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