«O Cais do Sodré não é …»

Assim começava um célebre fado canção de Rodrigo que, imagine-se, não tinha então em conta o verdadeiro desastre de planeamento e gestão de transportes públicos em que se tornou aquela estação de comboios, transformada que está em pseudo-interface de comboios, barcos e metropolitano, digno de figurar nos anais da selva urbana.

Não bastavam as obras e os andaimes que se arrastam há anos e anos em obras supostamente de beneficiação da estação do Cais do Sodré – edifício de Pardal Monteiro que devia ser acarinhado e não estropiado, diga-se -, mais os alpendres feitos de vigas de ferro e as 'armadilhas' (buracos e afins) com que se deparam os transeuntes-masoquistas que resolvem utilizar os transportes públicos de Lisboa e arredores; a CP teve o desplante de há pouco tempo dar por findos bilheteiras e senhores bilheteiros, e lançar os passageiros às máquinas automáticas, autênticas feras do progresso com que nos querem brindar no séc. XXI.

Acontece, porém, que as pobres máquinas não dão para as encomendas, gerando 'bichas' intermináveis de nacionais e estrangeiros que teimam em não usar o popó como meio de locomoção. Acontece, ainda, que as máquinas rapidamente deixam de ter trocos, passando a imprimir um talão de reembolso, escrito somente em português.

Se a tal juntarmos a inexistência de postos de turismo (o mais perto está nos Restauradores, onde o mapa da cidade mais dado é um produzido pelo … Corte Inglês); comboios que, apesar da proibição expressa de mendigos a bordo, contam com os 'acordéons' dos romenos da praxe, e com uma linha de estações qual delas a mais digna do 'farwest' (a de Cascais, por exemplo, de um município que se orgulha de ser 'destino turístico de eleição' nem sequer tem 'placards' indicando os horários de partida e chegada dos comboios, w.c., e muito menos tem indicações para o terminal de autocarros que ligam ao Guincho ou a Sintra!); estamos em presença de um 'Vá para fora cá dentro' de se lhe tirar o chapéu.

Os senhores governantes deviam experimentar a experiência. Vale a pena!

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