Pois bem, lógico seria que um edifício com essa “marca de água”, logo que vago das marionetas (lá foram para as Bernardas…) e dos andaimes (por lá continuam…) que protegem a cobertura provisória; pudesse ter um projecto de ocupação que de alguma forma tivesse que ver com a vida e obra, ensinamentos e práticas do Santo, se possível um centro de missão, cultural ou social, dignificando o seu nome, bem entendido, ele que tem sido continuamente preterido por Lisboa, em favor de Santo António e de São Vicente.
Mas, curiosamente, a primeira coisa de que a Câmara se lembrou mal o edifício ficou devoluto foi colocá-lo à venda com vista a nele possibilitar a instalação de um “hotel de charme”; opção, diga-se, nos antípodas, obviamente, do espírito da coisa que seria normal acontecer. Valeram todos quantos não calaram a revolta, e foram muitos, a começar pela galharda Associação Histórico-Cultural Amigos de São João de Brito. Valeu também a Assembleia Municipal que em 2009 devolveu à procedência a proposta de venda em hasta pública.
Pelos vistos, a CML, reconsiderou e fez bem (não é vergonha nenhuma recuar): acaba de anunciar que irá fazer daquele edifício uma experiência piloto de índole social, mais precisamente uma residência para sem-abrigo (contra-senso?), que irão inclusive contribuir com o seu próprio trabalho para a recuperação do imóvel. Nada a opor. Aparentemente, também, estará garantida a requalificação do espaço ajardinado do Largo Rodrigues de Freitas, em projecto entretanto a desenvolver pelos serviços da CML. Mais, haverá mesmo lugar à colocação de um monumento evocativo a São João de Brito (provavelmente a ser pago do bolso da Associação de Amigos, já que a ideia foi deles…). São boas notícias, independentemente do êxito da operação poder ser uma ilusão.
Contudo, é indispensável que o projecto para o edifício contemple uma certeza inequívoca: a menção à lenda do local de nascimento de São João de Brito, seja por lápide seja pela criação de um pequeno espaço cultural e museológico em um dos seus pisos, que possibilite não só a divulgação cultural e religiosa da vida do Santo e da iconografia a ele associada, cá e na Índia, mas que contribua para o enriquecimento espiritual e cultural de uma Lisboa que se pretende ver reforçada como importante centro multicultural.
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