quinta-feira, novembro 18, 2010

País em rede

Basta olhar em redor para compreender a rápida degradação da situação social e a extensão da carência na satisfação das necessidades mais básicas.

Já não é só a situação insustentável dos desempregados e seus agregados familiares, com o desemprego a subir agora para os 10,9%, nem são só aqueles que pedem auxílio alimentar às autarquias e às instituições particulares de solidariedade social: regressou também uma situação a que já não estávamos habituados, a de pedir de porta em porta. A pobreza declarada, tal como a encoberta, alastra a todo o País.

Em breve, este quadro amargo será agravado por novo aumento de desemprego, pelas reduções salariais e pelo fim de prestações sociais. Às carências alimentares vai juntar-se o agravamento de um problema sério que é o da habitação, com muitas mais famílias a não poderem suportar as prestações das suas casas.

Creio que é altura de cada um de nós reforçar o desempenho do papel solidário que lhe cabe, mas também se impõe estruturar e apoiar uma rede social. Organizemo-nos, que é algo a que escassamente nos habituámos. E a essa rede, de norte a sul do País, ao nível da proximidade possível, só pode servir de base a estrutura autárquica, que a tantos tem valido (Câmaras e Juntas de Freguesia, instituições de solidariedade em articulação com cidadãos e empresas, tendo como base o levantamento de necessidades, a respectiva actualização e monitorização).

Podemos encontrar aqui mais do que uma obrigação, um desígnio colectivo, destinado a minorar a situação em que nos encontramos, procurando racionalizar esforços e recursos e, em consequência, obter maior eficácia.

E também é necessário repensar o regime do crédito à habitação, reescalonando as dívidas, pelo menos no curto prazo (2/3 anos). Famílias e instituições ganharão com este tipo de medidas.

É imperioso preservar a dignidade das pessoas: sem ela, o desespero, que não é nem pode ser, manifestamente, bom conselheiro, imperará. E com o desespero não é possível gizar e executar uma solução colectiva, estratégica e inteligente de desenvolvimento económico. A estratégia para o desenvolvimento é urgente.

Teremos de ser um País em rede. E pode ser que o espírito da época, além das luzes e das árvores, muito para lá delas, ajude. Isso e a requalificação democrática das nossas instituições.



In Correio da Manhã

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