quinta-feira, novembro 25, 2010


Uma vistoria efectuada ontem pela Câmara de Lisboa ao prédio em obras na Av. 5 de Outubro - e vizinho daquele que ontem ruiu - concluiu que o empreiteiro não tomou todas as precauções a que se tinha comprometido para evitar o colapso do edifício com o número 275. "A escavação das fundações não foi executada de acordo com as prescrições estabelecidas pela câmara", explicou o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. "O empreiteiro devia, por exemplo, ter feito uma sondagem prévia que não fez." Questionado sobre se isso poderá ter estado na origem do sucedido, o autarca responde que é uma possibilidade.
Ontem esteve no local uma equipa de peritagem do Laboratório Nacional de Engenharia Civil para determinar isso mesmo. Caso se conclua que foram estas falhas a provocar a derrocada, Manuel Salgado garante que serão imputadas responsabilidades. Antes disso, vai ser preciso consolidar o que resta do velho edifício.
O PÚBLICO tentou contactar a Solatia, empresa responsável pela obra, agora embargada segundo Manuel Salgado, mas nos últimos dois dias ninguém esteve disponível para falar. Também a Alves Ribeiro, proprietária do prédio que ruiu, recusa prestar declarações.
O vereador do Urbanismo anunciou ainda que a câmara vai passar a exigir a quem quer demolir um prédio encostado a outros edifícios a que possa causar estragos um seguro que possa ser rapidamente accionado em casos como este. A derrocada do número 275 era esperada já desde segunda-feira, dia que foi evacuado o edifício, mas só ontem de manhã se concretizou. Por volta das 6h, começou por cair a fachada que ainda restava no prédio em obras e a estrutura metálica que sustentava a parede dos edifícios laterais. Três horas depois, a parte esquerda do 275 ruiu totalmente.
A vizinha residência de estudantes da Universidade Lusófona, evacuada na segunda-feira à noite, não sofreu com a derrocada. "Não houve alterações nos testemunhos [elementos utilizados nestes casos para detectar movimentos nas estruturas], mas vamos continuar a monitorizar, até porque a chuva pode provocar infiltrações", disse Emília Castela, chefe de Planeamento e Operações da Protecção Civil municipal. Nos próximos dias, vão começar os trabalhos de remoção e sustentação de algumas zonas. A área vai continuar interdita, pelo menos, durante um mês.
"Foram deixando os prédios desta rua degradar-se a tal ponto que já não havia nada a fazer", desabafou Paula Mesquita, que tem uma perfumaria ali perto. "O negócio está a ser prejudicado, com uma rua cortada, onde as pessoas não podem passar e nem podem estacionar", lamentou.
Em situação pior está o dono do restaurante que fica no rés-do-chão do prédio que ruiu. "O senhor fez obras há tão pouco tempo e agora foi obrigado a encerrar o estabelecimento", disse Paula Mesquita. Os 14 empregados deste estabelecimento e os três funcionários da farmácia que fica no rés-do-chão do número 283 não podem, por agora, trabalhar. com Helena Geraldes

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