Na verdade, ou iniciamos um caminho de contestação global - a tentação é forte e haveria bons motivos - de diluição institucional, de desresponsabilização colectiva e individual, que acabará seguramente numa convulsão social, num empobrecimento generalizado, com os riscos todos a subir e não apenas os das bolsas ou o do primeiro leilão do ano. Por esse caminho estaria assegurada a manutenção do império do "espertismo" e a colonização parasitária daqueles que, por qualquer meio, conseguem sempre chegar aos poucos recursos. Caminho alternativo seria o termos a coragem dos mea-culpa que cabem, do retorno aos valores, da cultura de responsabilidade e da responsabilização - sim, incluindo o político e o económico - e de nos atrevermos a um modelo menos material mas mais sustentado, mas onde igualmente não se criem quaisquer condições para gerar fundados sentimentos generalizados de injustiça, de impunidade, de vale tudo e ou de nada vale. Em suma, um caminho de uma sociedade em reconstrução, que começa numa educação cívica.
A recuperação da ética e da justiça como valores de uma sociedade pressupõe referenciais e esperança. É o momento para aqueles que detêm quaisquer níveis de responsabilidade saírem ou demonstrarem as suas capacidades a outros níveis: ao nível do exemplo e ao nível da competência (atrevo-me mesmo a dizer do mérito, essa palavra que nos últimos anos é tão maldita, que os seus cultores eram e são apelidados pejorativamente de meritocratas, como se o mérito não pudesse existir nos actos mais simples como nos mais complicados).
Vão-se-nos abrir duas portas e só temos de escolher entre a que nos conduz a um desígnio colectivo, ainda que difícil, ou a que nos abre o caminho da libertação da raiva, da desregulação colectiva, onde os mais fortes, por si ou por cumplicidades ocultas, continuarão a tratar dos seus destinos, dirigindo-nos.
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