Um edifício notável, estética e funcionalmente falando, que haveria de ganhar, mal foi construído, o Prémio Valmor (1903). Oitenta anos passados seria classificado Imóvel de Interesse Municipal e em 1996 alcançaria o estatuto de Imóvel de Interesse Público. Hoje, é um dos mais valiosos, genuínos e já raros exemplos de construção e decoração Arte Nova existentes em Lisboa. Desengane-se, contudo, quem pense que todos estes galões são garantia do que quer que seja, muito pelo contrário:
A Casa Ventura Terra já não pertence às escolas de belas-artes mas sim à Direcção-Geral do Tesouro e Finanças, “emérita” herdeira do Património do Estado, pelo que duvido que os rendimentos pagos pelos inquilinos (a Casa é quase totalmente habitada) ao senhorio sirvam hoje os propósitos inscritos na placa referida. E como o património do Estado está como está, a Casa não é excepção.
Desde a sua fundação, o edifício apenas teve obras nos anos 50 (pinturas), 70 (beneficiação geral) e em 1994-95 com a substituição da rede de água, gás e electricidade, obra supervisionada por quem de direito (IPPAR) mas de gosto mais que duvidoso (desapareceu a iluminação de época, da escadaria e dos patamares, por ex.) e substituiu-se a caixilharia em madeira das marquises a tardoz (incapazmente pois já apodreceu entretanto). Neste momento a Casa Ventura Terra mete água por todo o lado: telhado, fachada traseira (marquises incluídas), e lateral, carecem de obras realmente URGENTES, sob pena de Lisboa ver ruir um edifício de excepcional qualidade ou ter uma tragédia entre mãos.
Mais, anteontem a Casa Ventura Terra só não ardeu toda graças à intervenção rápida de dois dos inquilinos, que vendo o compartimento onde se encontra o motor do fabuloso elevador a deitar fumo e o dínamo a arder, de imediato conseguiram desligar o disjuntor do elevador evitando que o pior viesse a acontecer. O mais caricato é que o incidente se ficou a dever à sobre-utilização do elevador como monta-cargas feita a pedido da Faculdade de Belas Artes por motivo de mudanças… Enquanto isto, são feitas vistorias e trocam-se galhardetes, jogos de flores, entre CML e DGTF sobre quem tem que fazer obras … ora és tu, ora sou eu, ora sou eu e tu, tu e eu.
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