A mera exigência de cidadania para que se expliquem os objectivos das medidas governamentais ou a ausência de outras tantas tem como resposta um alinhado e enérgico coro ministerial acusador de falta de patriotismo e de criação de instabilidade.
Confrontar o Governo com as suas responsabilidades, confrontá-lo com as razões por que chegámos aqui, tudo isso é considerado antipatriotismo, incluindo porque, alegadamente, sobressalta os mercados (como se o sobressalto dos ‘mercados’ não se devesse à incapacidade).
E o Governo faz escola: Carlos César deu em responder a qualquer crítica com a acusação de atentado à autonomia.
Ou seja, o Governo pretende ser a Pátria e Carlos César a Autonomia. Estas ‘encarnações’ são perigosas, e o regresso dos discursos do orgulhosamente só e da encarnação da razão contra quem pensa diferente revela perigosas lógicas totalitárias: quem não está por eles, está contra eles. E eles pretendem ser a ‘Pátria’. Salazar utilizava exactamente a mesma técnica e o mesmo discurso, que reforçava enquanto tudo ruía à sua volta.
É claro que – então como agora – o discurso oficial mais não pretende do que esconder os erros sucessivos na condução do País, para não falar de medidas que foram para além da irresponsabilidade: quem não se lembra do anúncio do fim da crise, dos aumentos salariais em 2009, dos medicamentos grátis, do anúncio de um sem-número de parcerias público-privadas e de tantas medidas absurdas, só para ganhar eleições e manter o poder?
É claro que para o Governo foram atitudes muito patrióticas mesmo... para os próprios. A ‘Pátria’ são eles, e quem com eles não concorda, inimigos da dita.
O orgulhosamente só é um tanto pior para a realidade. O ministro das Finanças sentencia mesmo que toda a situação que atravessamos é extremamente evidente: Portugal está a fazer o seu trabalho de casa, a Europa é que não. Pouco importa que, entretanto, a realidade desminta, em cada dia, infelizmente, o Governo. Mas o Governo quer estar orgulhosamente só.
O ponto é onde nos leva o regresso ao orgulho, à solidão, à recusa da realidade e ao regresso dos velhos senhores, ainda que pareçam menos velhos. E isso é intolerável
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