A notícias chegaram-nos pela rádio.
Militares revoltosos tinham tomado de assalto o Quartel do Carmo!!
Nas ruas de Lisboa ouvia-se pessoas a gritarem palavras de ordem, música de intervenção e propaganda comunista:
"Uma gaivota voava, voava
e a .... nunca mais parava"
Parámos para respirar fundo, a nossa família que estava em Lisboa encontrava-se bem, embora abalada com os recentes acontecimentos.
Felizmente não tinha havido derramamento de sangue.
Para as crianças eram sensações dramáticas, e sem sentido; os adultos agitavam-se, e preocupados corriam em busca dos amigos para comentarem e discutirem as novidades, e as consequências que tal iria trazer a Angola.
Não foi fácil.
E menos fácil foi, pouco mais de um ano depois, termos a vida destruída por nacionalizações consecutivas em Angola e Portugal, com total desrespeito pela propriedade privada, e por tudo aquilo que tinha sido obtido através de trabalho, inglório.
Teve coisas boas o 25 de Abril?
Algumas.
Maior liberdade de expressão pessoal e política, sem temer represálias por parte do Estado, nomeadamente da polícia política.
Más?
Quase todas, há excepção das anteriormente referidas.
Posso afirmar, sem a menor dúvida, que o 25 Abril destruiu os restos da minha infância e a vida da minha família.
Não guardo qualquer recordação boa dessa data, muito pelo contrário.
Os que chegavam e tomavam o poder, tornaram-se eles mesmos carrascos e delapidadores bem piores do que aqueles que depuseram.