quinta-feira, setembro 18, 2008

Instável

Milton Friedman escrevia, em ‘Capitalismo e Liberdade’, que o tipo de organização económica que assegura directamente a liberdade económica, o capitalismo em concorrência, era ao mesmo tempo favorável à liberdade política porque ao separar o poder económico do poder político permitia que um compensasse o outro. Isto foi nos anos sessenta, no século passado. Friedman fez, como se sabe, Escola.

Mas em 2008 o capitalismo global ainda se revê nesta conclusão? Para mim, é evidente que não.

A situação dos dois gigantes americanos Leh-man Brothers e AIG e a intervenção do Estado americano torna demasiado evidente que não é assim, para não falar no nosso quintal em que quase nunca foi assim (de Fontes Pereira de Melo aos dias de hoje, com mais ou menos nuances).

De resto, como já escrevi, pensamento que mantenho há largo tempo, a regulação da globalização – isso mesmo – e o neoproteccionismo são inevitáveis se houver vontade de resolver o que aí está.

A situação económica global a Ocidente é uma lição para os que se afirmam liberais puros e duros: não existe nenhuma mão invisível. As mãos invisíveis são as de cada um de nós e esse, para mim, é o ponto.

Mesmo correndo o risco de ir contracorrente, não se pode deixar arrastar mais isto tudo: impõe-se uma intervenção reguladora e reparadora, garantística e forte do Estado em muitos sectores, sob pena de dar nisto tudo a que se assiste, a caminhar para um fim de ciclo ou melhor de época, sem preocupações de encarar estrategicamente o futuro.

Se a economia está instável, a política global não o está menos: não é só a Rússia e a desastrosa intervenção da União Europeia e dos Estados Unidos na área; mas a emergência da China e da Índia.

Há também África e o barril de pólvora em que está transformada a América Latina, da Bolívia à Venezuela, passando pelo Equador e pela Colômbia. Há, neste compasso civilizacional, uma nova desordem mundial.

É por isso que o primeiro-ministro corre ao contrário dos ponteiros do relógio político ao render-se ao liberalismo na altura em que ele está em pré-falência inequívoca.

O Mundo está política e economicamente instável e em ciclo acelerado.



Paula Teixeira da Cruz


In Correio da Manhã

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois, pois....."a não intervenção do estado", essa vaquinha sagrada dos nossos dias. Em 1991, quando a crise financeira ameaçava de levar alguns bancos suecos à falência, foi esse monstro "o estado" que, foi obrigado a dar respiração artificial com o dinheiro dos contribuintes (85 000 000 000 skr). Tem piada, como o zé povinho enche os cofres dos bancos, por dois lados diferentes. Quando convém....bem-haja a intervenção !!

JA