Este deve ser uns dos miradouros mais desconhecidos de Lisboa, embora fique dentro do jardim da Estrela. Tem outra característica: não se vê de lá grande coisa. Há uns anos devia ter uma boa vista para oeste e para o rio, mas entretanto cresceram uns prédios na rua mesmo atrás que roubaram a vista. Quanto eu o conheci ainda havia uma nesga entre esses prédios de onde se via Santa Catarina, mas agora umas árvores cresceram nesse sítio e lá se foi. Agora só se vê o topo dos prédios mais altos, como os das Amoreiras. Dentro de pouco tempo só se vai ver o céu.
Aqui ficam no Carmo e da Trindade duas memórias (recolhidas no google) do blog O Céu sobre Lisboa, cujo autor, Pedro Ornelas, faleceu recentemente.
Uma homenagem sob o céu de Lisboa.
3 comentários:
Paz à sua Alma
Fui colega do Pedro Ornelas na licenciatura de Antropologia da Univ. Nova, nos idos de 1979. Gostava mesmo dele. Perdemo-nos de vista até que o reencontrei n'O Independente, quando ele lá trabalhava como copydesk. Revimo-nos frequentemente desde então. O humor sarcástico, a posição marginal na antropologia portuguesa e a relação com Lisboa (sua cidade de adopção - ele que tinha nascido madeirense), eram algumas das coisas que gostávamos de partilhar. Era associado da ACA-M, quase desde a fundação da associação. Recentemente, recolhia tradições orais exóticas em Idanha-a-Velha, para a newsletter. Deixo aqui uma das últimas que me enviou. In Memoriam.
O nosso antepassado visigodo
O rei Bamba foi o primeiro rei que houve. Tinha sido nomeado que o primeiro rei se havia de chamar Bamba e botaram-se dois homens por o mundo a andar até acharem um homem que se chamava Bamba. Chegaram a Idanha-a-Velha, que diz que foi a terra mais antiga que houve, ainda mais antiga que o nosso cabeço, e o homem andava a lavrar da ponte para lá. A mulher chegou às muralhas e disse: – Ó Bamba vem a jantar! – Trague-o tu para aqui, ficamos aqui ao pé das vaquinhas. – Os homens disseram então um para o outro: – Aquele é que é o Bamba, temos que o seguir… – Guardaram a mulher e foram a de rabo dela, até que chegaram ao Bamba. Quando lá chegaram, a mulher pôs o jantar. Era dia de Entrudo e a mulher levava um galo para o jantar. – Queres jantar aqui fora Bamba? – Jantemos mesmo aqui. – Disseram os outros: – Estamos com o nosso rei. Vocemecê agora fica sendo o rei de Portugal, e sua mulher fica sendo a rainha de Portugal. – O homem foi, espetou a vara no chão, e disse: –Quando esta vara tomar rama, ficarei sendo o rei de Portugal. – E quando este galo cantar serei eu a rainha de Portugal. – A vara tomou rama e o galo cantou. Ainda hoje lá está o freixo, conforme lá estão as muralhas, e ninguém de lá corta lenha. (Relato recolhido em Monsanto por Leonor Buescu, anos 1950.)
Vamba (também conhecido por Bamba ou Wamba) foi rei dos visigodos entre 672 e 680. Destacou-se na história graças a um panegírico do seu quase contemporâneo arcebispo S. Julião de Toledo – a última capital deste povo oriundo da actual Polónia que dominou o poder e a igreja da Hispânia entre os séculos VI e VII, e de quem a nobreza medieval da Reconquista se reclamou herdeira.
A história do lavrador forçado a ser rei por causa do seu nome faz parte do ancestral folclore indo-europeu. Na Península Ibérica há no mínimo seis terras que se reclamam palco da lenda e a associam a Vamba, entre elas as portuguesas Penamacor e Guimarães. A versão que a situa em Idanha-a-Velha, a antiga Egitânia romana, depois sede de bispado visigótico, surge nas crónicas ibéricas pelo menos a partir do século XIV. Certo é que o freixo lá continua imponente na margem do Ponsul.
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