terça-feira, setembro 09, 2008

"O céu sobre Lisboa"


Este deve ser uns dos miradouros mais desconhecidos de Lisboa, embora fique dentro do jardim da Estrela. Tem outra característica: não se vê de lá grande coisa. Há uns anos devia ter uma boa vista para oeste e para o rio, mas entretanto cresceram uns prédios na rua mesmo atrás que roubaram a vista. Quanto eu o conheci ainda havia uma nesga entre esses prédios de onde se via Santa Catarina, mas agora umas árvores cresceram nesse sítio e lá se foi. Agora só se vê o topo dos prédios mais altos, como os das Amoreiras. Dentro de pouco tempo só se vai ver o céu.

Aqui ficam no Carmo e da Trindade duas memórias (recolhidas no google) do blog O Céu sobre Lisboa, cujo autor, Pedro Ornelas, faleceu recentemente.
Uma homenagem sob o céu de Lisboa.

3 comentários:

MP disse...

Paz à sua Alma

Manuel João Ramos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Manuel João Ramos disse...

Fui colega do Pedro Ornelas na licenciatura de Antropologia da Univ. Nova, nos idos de 1979. Gostava mesmo dele. Perdemo-nos de vista até que o reencontrei n'O Independente, quando ele lá trabalhava como copydesk. Revimo-nos frequentemente desde então. O humor sarcástico, a posição marginal na antropologia portuguesa e a relação com Lisboa (sua cidade de adopção - ele que tinha nascido madeirense), eram algumas das coisas que gostávamos de partilhar. Era associado da ACA-M, quase desde a fundação da associação. Recentemente, recolhia tradições orais exóticas em Idanha-a-Velha, para a newsletter. Deixo aqui uma das últimas que me enviou. In Memoriam.

O nosso antepassado visigodo

O rei Bamba foi o primeiro rei que houve. Tinha sido nomeado que o primeiro rei se havia de chamar Bamba e botaram-se dois homens por o mundo a andar até acharem um homem que se chamava Bamba. Chegaram a Idanha-a-Velha, que diz que foi a terra mais antiga que houve, ainda mais antiga que o nosso cabeço, e o homem andava a lavrar da ponte para lá. A mulher chegou às muralhas e disse: – Ó Bamba vem a jantar! – Trague-o tu para aqui, ficamos aqui ao pé das vaquinhas. – Os homens disseram então um para o outro: – Aquele é que é o Bamba, temos que o seguir… – Guardaram a mulher e foram a de rabo dela, até que chegaram ao Bamba. Quando lá chegaram, a mulher pôs o jantar. Era dia de Entrudo e a mulher levava um galo para o jantar. – Queres jantar aqui fora Bamba? – Jantemos mesmo aqui. – Disseram os outros: – Estamos com o nosso rei. Vocemecê agora fica sendo o rei de Portugal, e sua mulher fica sendo a rainha de Portugal. – O homem foi, espetou a vara no chão, e disse: –Quando esta vara tomar rama, ficarei sendo o rei de Portugal. – E quando este galo cantar serei eu a rainha de Portugal. – A vara tomou rama e o galo cantou. Ainda hoje lá está o freixo, conforme lá estão as muralhas, e ninguém de lá corta lenha. (Relato recolhido em Monsanto por Leonor Buescu, anos 1950.)
Vamba (também conhecido por Bamba ou Wamba) foi rei dos visigodos entre 672 e 680. Destacou-se na história graças a um panegírico do seu quase contemporâneo arcebispo S. Julião de Toledo – a última capital deste povo oriundo da actual Polónia que dominou o poder e a igreja da Hispânia entre os séculos VI e VII, e de quem a nobreza medieval da Reconquista se reclamou herdeira.
A história do lavrador forçado a ser rei por causa do seu nome faz parte do ancestral folclore indo-europeu. Na Península Ibérica há no mínimo seis terras que se reclamam palco da lenda e a associam a Vamba, entre elas as portuguesas Penamacor e Guimarães. A versão que a situa em Idanha-a-Velha, a antiga Egitânia romana, depois sede de bispado visigótico, surge nas crónicas ibéricas pelo menos a partir do século XIV. Certo é que o freixo lá continua imponente na margem do Ponsul.