sexta-feira, setembro 14, 2007

Como na China: um país, dois sistemas... da treta

Lagos, esta manhã

Lagos, esta tarde
I
ESTAVA EU, um dia destes, num café de Lagos, quando um senhor estrangeiro, de certa idade, me perguntou se as imagens de bloqueios e reboques, que a TV estava a mostar, eram "cá".
- Sim e não - respondi-lhe. "Sim", por ser cá, em Portugal. E "não", por não ser cá, em Lagos - esclareci, sorrindo.
O cavalheiro, então, apontou com o queixo para o passeio em frente, pejado de automóveis, e perguntou:
- Ah... É como na América, onde as leis variam de estado para estado?
Expliquei-lhe que em Portugal é ao contrário: a lei é a mesma; aplicá-la é que fica ao arbítrio das autoridades locais.
O homem coçou a ponta do nariz e deduzi, pelos seus olhos piscos, que não estava a perceber nada. Depois, ingeriu mais um trago de aguardente velha, recostou-se na cadeira, cabeceou e, para meu alívio, já não me perguntou mais nada...
II
O texto que em cima se lê foi escrito em Fevereiro deste ano e publicado, em 1 de Março, no «Público».
Agora, a cena repete-se: mais uma GRANDE ACÇÃO DE TOLERÂNCIA ZERO EM LISBOA («Agora é que é!!» - como diz um maluquinho que eu conheço), enquanto em Lagos tudo continua na mesma.
Desculpem as perguntas: a PSP, no país todo, não depende do mesmo Ministério da Administração Interna?
António Costa, tão activo agora, o que fez, neste assunto, quando era ministro?

5 comentários:

Anónimo disse...

O Medina Ribeiro não pára de me surpreender :)
:)
é fantástico.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Para não sobrecarregar o blogue, omiti fotografias, tiradas ali à volta, onde se vêem largas dezenas (ou mesmo centenas!) de lugares vagos e gratuitos.

E, no meio do caos e da impunidade, é possível ver-se, com frequência, a PSP, pachola, a passar (ou passear?) de carro. E o que é que faz? Bem... talvez por estar numa cidade balnear... NADA!

Anónimo disse...

A foto é pequena, não posso ter a certeza. Mas parece que os pilaretes na esquerda estão estupidamente colocados a meio do passeio!!
Ou seja a outra metade é um convite ao estacionamento no passeio.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Miguel,

Sim, é verdade.
Os pilaretes que refere foram colocados recentemente, sendo um deles retirável.

A ideia original era impedir que carros estacionem em frente, por forma a que seja possível aceder a uma garagem que ali há.

No entanto, em Lagos, o estacionamento em cima dos passeios parece ser um direito adquirido, pelo que os funcionários da Câmara acharam por bem deixar espaço para que isso continue a ser possível...

Absurdo? Claro, mas em Lagos é assim, e ninguém (peões, automobilistas, autarcas e PSP) parece importar-se.

Anónimo disse...

Com a alta taxa de delinquência e criminalidade actual, posso até supor que estes carros foram roubados e deixados ali mesmo para darem nas vistas. Já os tenho visto deixados com as portas abertas e ou vidros também abertos, mas o que me mais espanta é que muitas vezes estão em locais bem visíveis, pelo que não compreendo porque passa tanto tempo sem que sejam retirados.

Lembro-me:

1.º caso - No IC19, há já alguns anos esteve uma camioneta de caixa aberta abandonada durante mais de um ano junto ao estádio de Pinamanique. De início estava em bom estado e até tinha uma cobertura sobre a caixa. Quando foi retirada, era apenas sucata, em virtude dos vários embates que sobreu entretanto;
2.º caso - Na serra do Monsanto, em Lisboa, na estrada do Outeiro, junto ao B.º da Boavista esteve durante também muitos meses um automóvel de marca Volkswagen com as janelas todas abertas até que finalmente foi retirado e o seu destino só poderia ser então também a sucata;
3.º caso - Na Av. das Descobertas também esteve um veículo nesse estado durante muitos meses. Nesse foram-lhe sendo retiradas, a pouco e pouco, as rodas, as portas. Por fim, quando restava já pouco lá desapareceu o referido veículo;
4.º caso - Na Calçada do Galvão, há menos tempo esteve também um automóvel durante vários meses com as janelas todas abertas.

Todos estes carros estavam de início, aparentemente, em bom estado e duvido que os donos os tivessem deixado naqueles locais assim durante tanto tempo. A forma como se encontravam estes veículos fazia supor que nos transmitiam uma mensagem deixada pelo larápio.

Lembro também os veículos em mau estado, os quais não sabemos se foram abandonados pelos donos ou por larápios e que passam muitos meses sem que sejam retirados da via pública, chegam a crescer ervas junto às rodas. Ocupam até espaço para o estacionamento de outros automóveis.

Zé da Burra o Alentejano