sexta-feira, setembro 14, 2007

"Os radares de Lisboa"


"OS RADARES DE LISBOA "
"O João Miguel Tavares, cuja coluna leio sempre com agrado no DN, escreve hoje: «Quando uma regra é diariamente desrespeitada por milhares de pessoas, o mais provável não é que as pessoas sejam selvagens, mas que a regra seja estúpida. No espaço de um mês, os novos radares de Lisboa debitaram mais de 64 mil infracções, uma média superior a duas mil por dia.» Eu não acredito que o João Miguel não saiba que circular a 50km por hora é a norma na generalidade das cidades civilizadas, de Londres a Nova Iorque. Circular dentro de cidades não é o mesmo que viajar entre cidades. As cidades não devem ter avenidas com «quatro faixas sem cruzamentos nem passagens de peões», porque esse tipo de vias induz excesso de velocidade. Em Lisboa, várias avenidas do centro estão transformadas em vias rápidas: a Avenida da República, que até tem uma rede no meio na zona de Entrecampos, e a Avenida dos Estados Unidos, cujo prolongamento a partir da Gago Coutinho não tem passeios para peões, são dois exemplos gritantes. Como é que, no centro de uma cidade, uma Câmara rasga uma avenida sem passeios para peões? Não mora lá gente? Ainda não. Mas um dia vai morar. E enquanto não chega esse dia, não se pode fazer o trajecto a pé? São medidas destas que induzem a velocidade. Mas não é preciso ir tão longe. Eu não sei se o João Miguel sabe quantas pessoas foram atropeladas no troço da Avenida dos Estados Unidos que fica entre o Campo Grande a Avenida de Roma (uma área densamente povoada) apesar das faixas para peões e dos semáforos. Justamente porque as pessoas, convencidas de que aquilo é uma via rápida, circulam a cem à hora. Por exemplo, quem tenha de deslocar-se à Embaixada dos Estados Unidos, não o pode fazer a pé, uma vez que a partir da Avenida dos Combatentes não existe passeio para peões. Numa via isenta de peões, a mensagem é clara: acelere. Os exemplos multiplicam-se. A Rua de Campolide também está transformada numa via rápida, subindo em viaduto junto à José Malhôa, para ir confluir mais à frente com a Columbano Bordalo Pinheiro. Resultado: tornou-se intransitável para peões no trecho compreendido entre as Twin Towers e a estação de metro e de comboios de Sete Rios. Podia ficar aqui o dia todo a citar pontos críticos. Portanto, o que está errado nos radares de Lisboa é a sua inadequação ao desenho da cidade. Há, de facto, uma contradição entre as duas coisas. Enquanto os urbanistas não perceberem que uma cidade não é um sítio de passagem, nada feito."
*
(ISABEL G.)

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, Lisboa é um gigantesco erro de urbanismo (que vai mesmo até à utilização permitida dos edifícios, uma vez construídos, quantas vezes sem nada a ver com o aceitável), perpetrado impunemente ao longo de décadas.

Mas é muito mais cómodo deixar silenciar esses erros, deixar anónimos os que os perpetraram, por acção ou omissão, e eleger o automobilista como o alvo a abater.

É desde logo muito mais simples de transmitir, enquanto mensagem, é facilmente aceite pelo "povo" - eternamente empobrecido, embrutecido e invejoso; desejoso de vindicativos "nivelamentos por baixo" -, e, sobretudo, não toca em pessoas ainda vivas, em lugares de responsabilidade, e de todo o espectro político (pelo menos o dos "partidos de governo").

Além de que o real problema (o crime continuado do "urbanismo" em Lisboa) é insusceptível de ter de facto solução num horizonte politicamente interessante - toda a gente perceberá que Lisboa não está preparada para o tráfego que recebe, mas menos preparada está para "funcionar", enquanto estrutura económica, sem esse mesmo tráfego (que é maldito, mas inevitável; e que nunca mudará sem uma transição longa, lenta, de mais de uma geração e que ninguém está preparado para admitir, quanto mais iniciar).

Ou seja, estão encontrados os culpados, os carros e quem os conduz, para um mal que não se resolve e que, pior, vai sendo paulatinamente agravado.

Desgraçada cidade, num desgraçado país.

Costa

Carlos Medina Ribeiro disse...

«...quem tenha de deslocar-se à Embaixada dos Estados Unidos, não o pode fazer a pé, uma vez que a partir da Avenida dos Combatentes não existe passeio para peões»

No essencial, o "post" está correcto.
Neste pormenor é que nem por isso:

Ainda há pouco fiz esse caminho a pé (indo da Praça de Espanha).
Sucede apenas que, num determinado ponto pouco visível, há umas escadas manhosas, do lado esquerdo, que é preciso descer...

Anónimo disse...

Não sou contra radares, acho é que devem mudar de sítio, para onde são realmente mais úteis:

A saída da ponte 25 de Abril entre o viaduto Duarte Pacheco e o Aqueduto das Águas Livres é um local com curvas e contracurvas, o limite de velocidade é de 80 Km e deve ser controlado, porque há aí muitos acidentes. Colocava ali um radar;

Retirava o radar da Av. das Descobertas porque está junto ao semáforo, porque aí os veículos devem é parar ao sinal vermelho ou passar o mais rapidamente possível durante o amarelo se não for seguro parar;

Uma coisa é circular-se nas vias centrais das Av. do Campo Grande ou na Av. República; outra é circular-se nas vias laterais à direita dessas Avenidas. Retirava os radares das vias centrais e colocava-os nas vias paralelas à direita em cada um dos sentidos, regulados para 50 Km (ou menos) - Assim acontece o paradoxo inevitavel de se circular a 53 km por hora nas vias centrais e ser-se automáticamente multado, enquanto que nas vias à direita poderá ir a 70 km, junto aos edifícios e aos peões, e não sofrer qualquer sanção;

Em vez de controlar a velocidade a meio da Radial da Buraca, optava por fazê-lo na rua paralela do outro lado da linha do comboio, na rua Conde de Almoster, onde com certeza há mais acidentes;

No túnel do Campo Pequeno, em vez do radar estar na recta, colocava-o nas saídas, principalmente junto à que dá para a Av. Gago Coutinho;

No túnel da Amoreiras colocava o controlo de velocidade apenas na descida, mas regulado para 70 km ou nas saídas em curva, então regulados para 50 Km;

Em vez de colocar os radares na extensão da Avenida E.U.A., colocava-os na parte antiga da mesma Avenida, aí os 50 Km seria a regulação certa;

Nas restantes vias agora controladas não referidas aqui, porque são as principais avenidas de entrada e saída de Lisboa, admitia uma velocidade superior aos 50 Km, mas, para aumentar a sua segurança, colocava-lhes, o mais rapidamente possível, barreiras de protecção que impedissem os peões de atravessar em locais impróprios, o que acontece frequentemente até com passagens aéreas por perto. Continuava também com o esforço de substituição dos cruzamentos de nível por cruzamentos desnivelados nessas avenidas.

Zé da Burra o Alentejano

Anónimo disse...

AS ESTRADAS E O TEMPO

Quando tirei a carta de condução, há mais de trinta anos, os limites de velocidade para os automóveis ligeiros de passageiros eram de 60 km nas localidades, 80 km fora delas e sem limite nas auto-estradas.

Fora das cidades, as estradas disponíveis eram em geral estreitas e sinuosas. As vias estavam em conformidade com o número de veículos que também eram poucos, por isso as “bichas” não eram menores que hoje: aos fins de semana era normal haver “bicha” desde a Costa da Caparica e o Casal do Marco até à ponte 25 de Abril (então chamada de Salazar). Já antes da existência da ponte eram conhecidas as “bichas” pró “cacilheiro” de um e de outro lados do rio; nos dias com mais movimento pró Algarve, formavam-se “bichas” com dezenas de Quilómetros para se atravessar a única ponte então sobre o Sado em Alcácer do Sal; A subida de Rio Maior para a Venda das Raparigas era também um local de “bichas” habituais. A passagem por Coimbra e daí até ao Porto era também um autêntico “inferno”, Enfim, os problemas não eram muito diferentes.

Nas cidades havia muito menos Avenidas, não havia a CRIL (inacabada), nem a CREL, nem a via Norte/Sul. Havia apenas a 2.ª Circular que terminava em Benfica, onde é hoje a Fonte Nova. Grande parte das ruas eram ainda feitas em calçada de pedra (basalto).

Os carros também eram muito menos seguros: não havia inspecções periódicas; os sistemas de travagem não incluíam ABS e poucos veículos podiam contar com o sistema de “servo-freio”; também não havia “air bags” nem “Cintos de Segurança”; sem se usavam cadeirinhas prós bébés, que por vezes iam à frente ao colo da mãe .

Muito melhorou desde então: quer nos veículos, quer nas vias, por isso os limites de velocidade nalgumas vias deveriam ser repensados, porque são irrealistas para os nossos dias, por isso os mais pacatos automobilistas não os cumprem em geral, daí o número de multas em virtude da introdução dos radares em Lisboa e também os consequentes protestos que aqueles continuam a levantar. Nas auto-estradas o limite de 120 Km por hora (ou até menos) poderá justificar-se em troços com muito trânsito ou em condições de tempo adversas. Porém, numa auto-estrada com bom tempo e pouco trânsito 120 Km provoca sonolência e é uma velocidade muito reduzida, tendo em consideração as vias hoje disponíveis e a segurança dos veículos actuais. Todas as auto-estradas são hoje monitorizadas e têm “placards” onde podem ser afixadas as velocidades máximas, consoante o volume de trânsito e o tempo (tal como acontece na Ponte Vasco da Gama), por isso as velocidades poderiam muito bem passar a ser variáveis nalgumas vias. PORQUE É QUE PORTUGAL NÃO PODE SER INOVADOR?

Zé da Burra o Alentejano