sexta-feira, dezembro 12, 2008

Os agricultores europeus

Uma das traves mestras da União Europeia é a Política Agrícola Comum, a PAC, um regulamento destinado a impedir que os camponeses sejam forçados a enfrentar a concorrência internacional. Uma vez que o proteccionismo é uma coisa feia, em tempos este lobby lembrou-se de fazer aprovar umas regras, patéticas e patetas, sobre frutos menos bonitos e legumes tortos, cuja entrada seria interdita na UE.

Numa altura em que os preços estão a subir, a comissária da Agricultura, Marian Fischer-Boel, considerou “absurdo deitar fora produtos perfeitamente comestíveis pela simples razão de que têmumaformairregular”, tendo proposto que os melões menos ovais, os pepinos curvos e as cenouras nodosas pudessem ser por nós comidos. Sucede que isto contribuiria para abrir a porta a géneros que os europeus não querem ver entrar no seu território. Em Portugal, tanto a Federação Nacional de Produtores de Fruta e Hortícolas quanto a CAP consideraram o perigo tão elevado que declararam não aceitar a medida, por a mesma abrir a porta à “invasão” de frutos vindos sabe-se lá de onde.

Segundo a reforma, apenas vinte e seis produtos “defeituosos” passariam a poder ser vendidos intramuros, mantendo-se a interdição no que respeita aos dez (maçãs, citrinos, kiwis, alfaces, pêssegos, morangos, pêras, uvas de mesa, pimentos-doces e tomates) que representam 75% do valor deste mercado. Mesmo assim, os agricultores recusaram: não querem saber de desgraças,
venham elas dos pobres do Terceiro Mundo ou dos eficientes lavradores americanos. Resta acrescentar que a reforma prevê “derrogações”, ou seja, permite aos Estados não a aplicar. Suspeito de que o governo português está em vésperas de impedir que eu coma maçãs a um preço inferior àquele a que os nativos são capazes de as produzir. Sinceramente, não entendo o motivo que leva o Executivo a preterir os meus interesses, e já agora, os dos outros consumidores, a favor de um grupo historicamente condenado.


In Meia Hora

1 comentário:

Alexandra disse...

Não há motivo. É como o papel selado: era lei, até ao dia em que deixou de ser...