quarta-feira, dezembro 31, 2008
2009
2009 será um ano de Viagens, de Descoberta e de Justiça.
Votos de Coragem, Amor e Luz
Assim, como o imenso fado o determino,
Diz Júpiter com voz grave e severa
Em pé, junto do assento cristalino,
Cada um sinal para partir-se espera:
Ajoelhando a Júpiter divino
Todos voltam à sua própria esfera,
E Iove neste tempo do alto via
A armada que nas ondas perecia.
- Gabriel Pereira de Castro, Ulyssea, ou Lysboa edificada - 36
terça-feira, dezembro 30, 2008
Uma sequência de hoje
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Novo Museu dos Coches, os pontos nos is:
Evidências:
1. O novo Museu dos Coches é uma obra do regime e, portanto, tremendamente difícil de parar, até porque a opinião pública portuguesa ainda vive sob aquela concepção, lamentável, de que 'se é do governo, não há nada a fazer'.
2. O novo Museu dos Coches, a seguir em frente, será um vitória assinalável de Santana Lopes e do lobby do cavalo lusitano; o que, não explicando o élan que o novo governo PS lhe deu, até ajuda a compreender a inexplicável manutenção do ministro néscio que há muito devia ter ido de 'patins'. Seja como for, a versão oficial do tempo de PSL enquanto Sec. Estado da Cultura não previa um novo edifício mas antes a adaptação das instalações da OGME a museu.
3. Enquanto houver Cavaco Silva em Belém não haverá cavalos no actual Museu dos Coches, até porque o PR está devidamente 'blindado' nos pareceres técnicos de finais de 90. Ou seja, não haverá picadeiro no actual museu.
4. A construção de um silo automóvel de 5 andares junto ao rio e à estação fluvial de Belém, com a justificação de que os 'milhões' de potenciais visitantes do futuro museu não de deslocarão de comboio, eléctrico ou autocarro, é um atentado à Frente Ribeirinha, à modernidade apregoada e, mais grave, à inteligência do comum dos mortais.
5. Há 10 anos, a CML emitiu uma recomendação para que as instalações das OGME fossem poupadas, pelo seu valor enquanto arquitectura industrial (será pobre, mas é a nossa...). Semelhante recomendação foi feita pelo Ministério da Defesa, quando 'passou' aquele equipamento à Sec. Estado da Cultura.
Três questões daí decorrentes:
1. Qual o futuro do edifício do actual museu? Será entregue à bicharada, que é como quem diz, às de operações de charme & catering dos aprendizes de iluministas dos tempos que correm?
2. Porque razão o Estado coloca à venda o Quartel do Conde de Lippe, na Calçada da Ajuda, e 'esquece-se' de lá colocar o picadeiro real?
3. Porque razão o Estado de hoje se está 'nas tintas' para o que o Estado de há 10 anos recomendava sobre a necessidade de preservar os pavilhões das OGME, ainda por cima estando lá instalados os serviços de Arqueologia ... que, inclusive, não sabem para onde irão?
segunda-feira, dezembro 29, 2008
sábado, dezembro 27, 2008
Não é incompetência nem "falta de meios"! É a mais completa INSENSIBILIDADE por parte daqueles que fazem e - pior! - dos que DEIXAM FAZER!
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terça-feira, dezembro 23, 2008
António Costa aprova novo Museu dos Coches, apesar de o considerar desnecessário -PUBLICO - 23.12.2008, Ana Henriques
Silo automóvel previsto para a frente ribeirinha como parte do projecto do museu foi chumbado ontem pela Câmara de Lisboa
A Câmara de Lisboa deu ontem o seu aval à construção do novo Museu dos Coches em Belém. A proposta de aprovação partiu da maioria socialista de António Costa, que, no entanto, confessou achar desnecessária a transferência do museu para um edifício construído de raiz para o efeito decidida pelo Governo.
"Uma das razões apresentadas para a sua transferência para o novo edifício relaciona-se com o facto de, nas actuais instalações, não ser possível aumentar o número de visitantes. Mas uma vez que se trata do museu mais visitado do país, considero que não vale a pena mexer-lhe", observou, acrescentando ser prioritário arranjar espaço para novos projectos como o Museu das Descobertas ou o centro de cultura africana - uma parceria entre a câmara e o Governo, cuja instalação foi anunciada para o Palacete Pombal, nas Janelas Verdes.
Foi também o Governo a decidir que o autor do novo edifício do Museu dos Coches, previsto para defronte da estação ferroviária de Belém, seria o brasileiro Paulo Mendes da Rocha, já premiado com o maior galardão da arquitectura mundial, o Pritzker. "A contratação das obras de arquitectura deve ser feita por concurso público", objectou António Costa. "Mas há momentos e obras que podem justificar a encomenda directa a determinado arquitecto. A fiscalização destes procedimentos compete a organismos como o Tribunal de Contas."
Mas nem todo o projecto de Paulo Mendes da Rocha teve luz verde da autarquia. O silo automóvel de 23 metros de altura que o arquitecto brasileiro queria erguer já do lado do rio, ligado ao edifício do museu por uma passagem aérea por cima da linha do comboio, foi chumbado ontem pelo executivo municipal. Motivo: os técnicos camarários entenderam tratar-se de um "obstáculo entre o espaço público e o rio Tejo", algo que é proibido pelo Plano Director Municipal. Tratava-se de uma construção cilíndrica com capacidade para 400 carros e um salão panorâmico no topo. "Uma aberração", adjectivou o vereador Carmona Rodrigues. "E uma violentação da frente ribeirinha", acrescentou ainda.
Sendo uma obra do Estado, a lei estabelece que o parecer da autarquia não é vinculativo. Acontece que foi feito um "acordo de cavalheiros" entre o município e a Sociedade Frente Tejo, de capitais exclusivamente estatais, em que esta se comprometeu "a ter em consideração os pareceres camarários", explicou o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado. Ficou ainda estabelecido que a amarração da passagem aérea às imediações do Museu da Electricidade seja precedida da realização de um projecto de espaços públicos.
Quem o fará? Manuel Salgado ignora-o: "Não sei se os honorários pagos a Paulo Mendes da Rocha chegam para isso." Até porque o arquitecto vai ter de reformular o projecto para o adaptar às exigências camarária. Quanto a alternativas de estacionamento - "não se está a ver famílias inteiras irem para a beira-rio de autocarro", observa o vereador -, estão a ser procuradas na Calçada da Ajuda.
O PSD considerou ontem que o Tribunal de Contas "desmontou todos os argumentos" do presidente da câmara ao rejeitar o recurso contra o chumbo do empréstimo que a câmara queria contrair. Carlos Carreiras, líder da distrital de Lisboa do PSD, disse que a recusa do empréstimo "destrói a argumentação de António Costa" e significa "um ano perdido" no que respeita ao saneamento financeiro da autarquia". Costa disse, por seu lado, que os argumentos do TC nada têm a ver com os do PSD.
segunda-feira, dezembro 22, 2008
Concordo: Não havia necessidade
O presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, considera desnecessária a construção de um novo Museu dos Coches.
(publicado originalmente no Eclético)POBREZA OCULTA
(publicado no Tomar Partido)
sábado, dezembro 20, 2008
quarta-feira, dezembro 17, 2008
Os Natais de Lisboa
Em Lisboa aumenta o fosso entre os mais ricos e os mais pobres
Nesta época de Natal todos somos convidados ao consumismo, muitos são convidados também à preocupação com os mais pobres. Em Lisboa estas duas realidades estão bem presentes no dia-a-dia.
Por estes dias, especialmente durante os fins-de-semana, as zonas comerciais de Lisboa enchem-se de pessoas em frenesim. À volta é o pandemónio no trânsito. Segundas e terceiras filas de automóveis estacionados desafiam a promessa de António Costa de “tolerância zero” às segundas filas. Era apenas mais uma promessa para não cumprir.
Nestes dias frios, logo que a noite cai, lado a lado com zonas comerciais onde se apela ao consumo, instalam-se os chamados “sem-abrigo”. Pessoas sem tecto, sem comida, sem futuro. Pessoas sem compras de Natal para fazer. A pobreza passa também pela alimentação, registando-se o aumento daqueles que procuram o apoio do Banco Alimentar Contra a Fome.
Estes factos são sintomas preocupantes de uma cidade incapaz de combater a pobreza e em que aumenta o fosso entre os mais ricos e os mais pobres.
Num período marcado por dificuldades económicas, o Governo socialista e a câmara municipal também socialista mostram-se incompetentes para atenuar o impacto da crise junto dos mais vulneráveis. Talvez também por isso se assista a manifestações de insatisfação no partido socialista, do reforço da popularidade dos partidos à esquerda do PS e até ao possível aparecimento de um novo partido.
É neste cenário social delicado que o PSD deve afirmar a sua tradição humanista e colocar em prática uma política social mais justa e mais eficaz, promovendo um maior equilíbrio entre os muito ricos e os muito pobres. Em Portugal e também em Lisboa!
António Prôa
texto publicado no jornal Meia Hora
segunda-feira, dezembro 15, 2008
No reino do absurdo
sábado, dezembro 13, 2008
Parceria Jornal de Lisboa e ACA-M (Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados)
Pedalar devagar
A reprovação pela Assembleia Municipal do plano de ciclovias, reconhecendo que é irresponsável promover a circulação de bicicletas enquanto a velocidade automóvel na cidade não baixar para níveis razoáveis.
NEGATIVO
"Autódromo" da Liberdade
A insistência da autarquia em emitir sinais contraditórios.
Por um lado promovendo festivais de alta velocidade na Avenida da Liberdade, por outro lado prometendo pedonizá-la.
UMA FANTASMAGORIA
(publicado no Tomar Partido)
sexta-feira, dezembro 12, 2008
O Cais das Colunas
Cais das Colunas volta ao Terreiro do Paço, 10 anos depois
O cais das colunas vai ser hoje reposto no Terreiro do Paço, em Lisboa, cerca de 10 anos depois de ter sido removido do local devido às obras de expansão do Metropolitano entre a Baixa-Chiado e Santa Apolónia.Claro que o oportunístico poder político tratou de ir inaugurar o Cais ... Mal sabem eles que o Cais já foi inaugurado.
A reposição será assinalada numa cerimónia organizada pelo Metropolitano de Lisboa, responsável pela obra, e presidida pelo ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Mário Lino, que estará acompanhado da secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino.
O Cais das Colunas, local emblemático da cidade de Lisboa, situado na zona ribeirinha frontal à praça do Comércio, foi retirado do local no início de 1997 devido às obras de expansão da linha azul do Metropolitano de Lisboa entre a Baixa-Chiado e Santa Apolónia.
(...)
O Cais das Colunas foi concluído no fim do século XVIII, aparecendo já numa gravura colorida de Noel e Wells – A view of the Praça do Commércio at Lisbon, datada de 1792.Ora, aí está um Cais de Colunas impermanente ...
As colunas caíram em finais do século XIX, tendo sido repostas apenas em 1929.
Dois terços das vítimas mortais resultantes de acidentes em Lisboa, no ano passado, eram peões ou condutores de motociclos, dois dos principais grupos de risco identificados pela PSP em matéria de segurança rodoviária. Os dados revelados pelo subchefe da PSP António Lérias comprovam que os peões continuam a ser vulneráveis, mas os responsáveis da segurança rodoviária ontem presentes num seminário sobre este tema alertaram para a influência do ambiente urbano e do comportamento de peões e condutores, a nível da prevenção de acidentes.
A melhoria do ambiente rodoviário em meio urbano é precisamente um dos objectivos da Estratégia Nacional de Segurança Rodoviária para o período 2008-2015, adiantou o presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), Paulo Marques.
Este plano prevê também estudos sobre os regimes sancionatórios aplicáveis aos peões e condutores noutros países e a avaliação das condições necessárias para a fiscalização eficaz do comportamento dos peões.
"Os peões não precisam de ter carta para andar nos passeios e isso retira-lhes muita responsabilidade em termos de acidente", salientou o responsável da ANSR. "O peão não sente que está a cometer uma infracção e as forças de segurança não dão tanta atenção a estas matérias como dão a outros veículos", acrescentou.
Paulo Marques declarou que o Governo pretende lançar campanhas de sensibilização e actuar a nível de fiscalização, mas admitiu que "há um longo caminho a percorrer" em termos de mudança de mentalidades.
Em Lisboa, uma das cidades europeias que mais reduziu a sinistralidade nos últimos anos, 43 por cento das vítimas mortais registadas entre 2000 e 2006 eram pedestres. Os acidentes em Lisboa tiveram diminuição expressiva entre 2007 e 2008, passando de 11.520 para 7127, segundo António Lérias.
Mário Alves, assessor para a mobilidade da Câmara de Lisboa, destacou igualmente a redução do número de mortes de crianças, mas lembrou que parte desta estatística reflecte a diminuição da ocupação do espaço público, já que "as crianças estão cada vez mais fechadas em casa". Lusa
7127 acidentes foram já registados em Lisboa no corrente ano, contra 11.520 contabilizados em todo o ano de 2007
1 Comentário Anónimo disse...
Desculpem lá, será que o sr. Lérias disse mesmo "Os peões não precisam de ter carta para andar nos passeios e isso retira-lhes muita responsabilidade em termos de acidente"?
12/12/08 17:30
Paulo Morais: Artigo de opinião no JN
Não foi só o comércio, mas sim a vida das cidades que parece ter-se deslocado definitivamente das ruas para o interior dos centros comerciais. Afinal, estes propiciam-nos a qualidade de vivência que em tempos caracterizava os núcleos urbanos. O verdadeiro centro cívico e cultural das cidades transferiu-se para os shoppings.
Nos centros comerciais, o acesso é normalmente fácil e o estacionamento quase sempre gratuito. No seu interior, a limpeza é regra. Ao abrigo de qualquer intempérie meteorológica, circula-se confortavelmente e em segurança. Há acessos para pessoas com mobilidade reduzida e carrinhos de bebé. Os pequenos problemas que as famílias enfrentam, como a necessidade dum espaço para mudar fraldas ou levar miúdos à casa de banho, estão perfeitamente acautelados. Juntemos a isto a possibilidade de almoçar e jantar em conta, ou ainda assistir a um filme de estreia. Só aqui vemos implementado um novo conceito de centro cívico urbano.
Na outra face da moeda, temos as baixas das cidades, a que não se acede facilmente, onde o trânsito é habitualmente caótico. O estacionamento é inexistente ou caríssimo. As ruas e passeios estão em péssimo estado, fruto duma crónica ausência de manutenção e conservação. Os idosos correm perigo permanente de tropeçar num qualquer buraco. A via pública está imunda, resultado duma limpeza urbana ineficaz. Somos permanentemente abordados por arrumadores de automóveis e pedintes. Se um miúdo necessita de ir à casa de banho, está sujeito à fila interminável do café ou a ter de pagar o acesso a um desses "wc" tipo nave espacial. A oferta cultural é escassa, não há cinemas, os concertos e espectáculos são raros e têm quase sempre pendor elitista. Não nos admiremos, pois, pelo facto de os centros urbanos estarem em processo de morte lenta e o comércio tradicional em estado comatoso.
Enquanto isto, os representantes do comércio tradicional limitam-se a reclamar contra os centros comerciais. Atiram ao alvo errado. Mais do que tentar impedir o sucesso dos centros comerciais, deveriam era copiar a receita desse êxito. E queixar-se, em primeiro lugar, das câmaras municipais que se revelam incompetentes na gestão do espaço público."
Os agricultores europeus
Numa altura em que os preços estão a subir, a comissária da Agricultura, Marian Fischer-Boel, considerou “absurdo deitar fora produtos perfeitamente comestíveis pela simples razão de que têmumaformairregular”, tendo proposto que os melões menos ovais, os pepinos curvos e as cenouras nodosas pudessem ser por nós comidos. Sucede que isto contribuiria para abrir a porta a géneros que os europeus não querem ver entrar no seu território. Em Portugal, tanto a Federação Nacional de Produtores de Fruta e Hortícolas quanto a CAP consideraram o perigo tão elevado que declararam não aceitar a medida, por a mesma abrir a porta à “invasão” de frutos vindos sabe-se lá de onde.
Segundo a reforma, apenas vinte e seis produtos “defeituosos” passariam a poder ser vendidos intramuros, mantendo-se a interdição no que respeita aos dez (maçãs, citrinos, kiwis, alfaces, pêssegos, morangos, pêras, uvas de mesa, pimentos-doces e tomates) que representam 75% do valor deste mercado. Mesmo assim, os agricultores recusaram: não querem saber de desgraças,
venham elas dos pobres do Terceiro Mundo ou dos eficientes lavradores americanos. Resta acrescentar que a reforma prevê “derrogações”, ou seja, permite aos Estados não a aplicar. Suspeito de que o governo português está em vésperas de impedir que eu coma maçãs a um preço inferior àquele a que os nativos são capazes de as produzir. Sinceramente, não entendo o motivo que leva o Executivo a preterir os meus interesses, e já agora, os dos outros consumidores, a favor de um grupo historicamente condenado.
In Meia Hora
Há já bastante tempo, alguém abriu um buraco numa das principais artérias da capital. Depois de fazer o que tinha a fazer (se é que fez...), fechou-o "às três pancadas", e foi à sua vida. À primeira vista, tanto lhe teria custado fazer o trabalho bem, como mal. Mas fê-lo assim, assim ficou, e o mais certo é que assim fique eternamente.
Tricas
Nós vamos a caminho da terceira recessão em oito anos e continua a não haver plano algum. Finalmente Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, certificou a dita recessão. Custou mas foi, como se a dita não se sentisse neste Inverno de desconforto, vento e frio.
Ironicamente, quando se celebram os sessenta anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Mundo está mais longe dela do que esteve após as guerras do século passado. A Declaração era suposto ser um ponto de partida para uma espécie de ‘harmonia universal’. Hélas, cavaram-se os fossos culturais e só o ‘comércio’, na pior acepção e com as piores consequências, parece ‘juntar’ os povos para desgraça de todos. Dos Direitos propriamente ditos fez-se o caminho da restrição em nome de um securitarismo inconsequente e perverso.
Até mesmo o projecto europeu está hoje tão longe do espírito dos founding fathers quanto um asceta de um novo-rico.
E uma paralisia desculpante tolhe a iniciativa e a capacidade de cada um de nós.
Se temos modelos a reinventar vamos lá a isso e quanto mais depressa melhor: dos políticos aos económicos, não esquecendo os cívicos e a responsabilidade que cada um de nós também tem nisto tudo. E responsabilize-se. Cultive-se a responsabilidade que é coisa que anda ausente. Ninguém se sente responsável. São sempre os outros. Mentalidades.
Pois neste pano de fundo esperar-se-ia exemplo de responsabilidade dos principais agentes políticos e da sociedade em geral. E menos tricas. E menos ausências.
Mas é precisamente neste contexto que a inflexibilidade do Governo para com o Presidente é particularmente desastrada e pouco inteligente. É a última altura a escolher para provocar fissuras em nome de pequenas tácticas que, sobretudo em momentos difíceis, não compensam e se pagam caro. E pior ainda se for em nome de geometrias eleitorais. Como é a pior altura para o Parlamento se desrespeitar a si próprio.
Se a sociedade portuguesa quiser continuar a ter o direito ao disparate, terá o retorno.
Tal como em Lisboa, continuaremos atulhados em lixo.
In Correio da Manhã
quinta-feira, dezembro 11, 2008
LISBOA VISTA DE ESPANHA
La Lisboa de Fernando Pessoa, no El Mundo.
quarta-feira, dezembro 10, 2008
A CIDADE DO LIXO
(publicado no Tomar Partido)
Greve do lixo com 90 por cento de adesão
Não querendo desanimá-los, ainda mais, parece que esta noite a dose repete-se!
Retirada de lixo: zero.
A adesão à greve dos trabalhadores do lixo e higiene urbana da Câmara de Lisboa atingiu hoje os 90 por cento de adesão. Ao terceiro dia de greve e quarto sem recolha, algumas zonas de Lisboa começam a ter lixo acumulado nas ruas.
Nos 108 circuitos de limpeza para realizar durante a madrugada de hoje, só se cumpriram doze. Joaquim Jorge, responsável do Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML), calcula que a adesão foi, por isso, de “90 por cento”.
(...)
O PROCESSO DO PARLAMENTO
Independentemente da pouca-vergonha que o episódio comporta, ele adiciona-se a outros, associados à guerrilha interna do PSD. Este partido acentua a sua cada vez mais nítida semelhança com um conglomerado de verdetes, de vinganças pessoais, de ódios mal resolvidos. Ninguém dá sinais de se abstrair dos argumentos emocionais e, servindo-se da vontade e da inteligência, comprometer-se com a solução dos nossos múltiplos problemas. O descrédito do Parlamento resulta do laxismo que se instalou na sociedade, permitindo e até estimulando a complacente indiferença cívica. Já poucos acreditam na bondade dos políticos; e os deputados são objecto de desprezo ou de anedotas devastadoras. Todos conservamos na memória as imagens televisivas de parlamentares a dormir, a ler jornais, revistas e livros; o número surpreendente de cadeiras vazias. Sabemos da "disciplina partidária"; da abdicação da consciência em nome da subordinação às estratégias de momento; da vassalagem; das pequenas trocas de favores. Conhecemos aqueles que nunca falaram, que jamais intervieram, recatados por imposição ou por conveniência própria. E também conhecemos aqueles que falam sem nada dizer. Sinto, cada dia que passa, a necessidade de não conciliar, com um mutismo falsamente distraído, o erro e a conivência, a abjecção e a irresponsabilidade. Marcelo Rebelo de Sousa disse, no domingo, que a democracia estava a ser desgastada porque muitos dos que a deviam servir não lhe atribuíam o grau superior exigido pela sua própria natureza. Não sendo novo, o incidente do prolongado fim-de-semana dos 48 deputados dá que pensar. Pensar que a dignidade das funções, quaisquer que elas sejam, depende do carácter e da integridade de quem as exerce. Em torno deste princípio devemo-nos unir ou separar.
In DN
terça-feira, dezembro 09, 2008
Uma produção fictícia da CML ...
Ano sim, ano não, é fatídico: a CML utiliza as Grandes Opções do Plano, supostamente um instrumento de gestão orçamental para fazer propaganda. Regra geral, elas nunca chegam a ser cumpridas nem pela rama. Por razões que a razão desconhece. Pela 'crise’. Por causa da 'herança’. E assim é este ano, em que a CML, mais uma vez, acha por bem brincar com os alfacinhas.
Isso mesmo faz questão de frisar logo na introdução ao 'detalhado’ documento para 2009/2012, como se de um 'genérico inicial’ de uma grande 'produção fictícia’ se tratasse, presenteando-nos com 'pérolas’ como: '2008: O ano que nos permitiu preparar o futuro em bases sólidas. Cumprimos com rigor o objectivo’. 'Reestruturámos o sector empresarial municipal […] o saneamento financeiro da EGEAC e a reestruturação da EPUL’, ou ainda, pasme-se, 'adoptámos as medidas necessárias para resolver os impasses urbanísticos que paralisam a cidade’ (basta andar por aí para ver como foram 'resolvidos’). Continua, 'Em 2009: Preparar o futuro. Com rigor, em parceria e promovendo o diálogo intercultural’.
(...)
Publicidade enganosa, paga a preço de ouro:
segunda-feira, dezembro 08, 2008
Menos mortos e feridos graves devido a radares em Lisboa
Menos mortos e feridos graves devido a radares em Lisboa -PUBLICO - 08.12.2008, Inês Boaventura
A autarquia lamenta que o Governo não permita o acesso a "informações importantíssimas", como o número de acidentes e de feridos ligeiros
Os radares de controlo de velocidade instalados em Lisboa há cerca de um ano e meio contribuíram, segundo o director municipal de Protecção Civil, Segurança e Tráfego, Fernando Moutinho, para "uma redução objectiva da sinistralidade grave".
Segundo números a que o PÚBLICO teve acesso, divulgados na última reunião da Comissão de Avaliação do Sistema de Controlo de Velocidade e Vigilância do Tráfego de Lisboa, num conjunto de 12 das vias com radares houve nove mortos em 2006 e sete em 2007, ano em que aqueles equipamentos entraram em funcionamento. E dessas sete mortes duas ocorreram junto ao Terreiro do Paço, já "fora da zona do radar" colocado na Avenida Infante Dom Henrique.
Nas mesmas 12 vias verificou-se que, entre 2006 e 2007, o número de feridos graves diminuiu de 66 para 19. No caso das avenidas Marechal Craveiro Lopes e General Norton de Matos (conhecidas como Segunda Circular), Marechal Gomes da Costa, Marechal Spínola e de Brasília não se registaram quaisquer feridos graves em 2007, ao contrário do que tinha acontecido no ano anterior.
Também significativa foi a diminuição da sinistralidade grave na Av. Infante Dom Henrique (onde o número de pessoas feridas com gravidade baixou de 22 para 8), na Av. Cidade do Porto (Segunda Circular) e na Av. Almirante Gago Coutinho.
Numa análise alargada já a 2008, mas abarcando apenas o primeiro semestre de cada ano, constatou-se que nas 12 vias em análise houve 40 feridos graves em 2006, oito em 2007 e 11 em 2008 (três dos quais ocorreram um único acidente na Av. Marechal Gomes da Costa). Já o número de mortos desceu de seis para um e, finalmente, para zero.
Acalmia indiscutível
O director municipal de Protecção Civil, Segurança e Tráfego da Câmara de Lisboa constatou que, na sequência da instalação dos radares de controlo de velocidade houve "uma acalmia do tráfego indiscutível", bem como "uma redução objectiva da sinistralidade grave". Isto aconteceu, segundo Fernando Moutinho, não só nos locais onde foram colocados aqueles equipamentos, mas também nas zonas imediatamente antes e depois.
O arquitecto acredita que mesmo para os críticos dos radares "é difícil rebater estes dados", embora admita que o período em análise é ainda muito curto para se chegar a uma conclusão mais definitiva sobre as melhorias nos índices de sinistralidade.
A avaliação preliminar agora feita tem, segundo o mesmo responsável, o problema acrescido de se fundamentar apenas no número de mortos e feridos graves, que são os únicos divulgados pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária.
O director municipal adianta que "já foi pedido formalmente" àquela entidade que passe a disponibilizar outros dados, como o número total de acidentes e o número de feridos ligeiros, "informações importantíssimas" para permitir "uma análise mais fina" dos efeitos dos radares e também para "identificar melhor os pontos negros" da cidade.
Os 21 radares da capital, cuja instalação foi decidida quando Carmona Rodrigues era presidente da autarquia, entraram em funcionamento em Julho de 2007.
"A questão dos radares não é prioritária", disse o assessor de imprensa da Câmara de Lisboa. Confrontado com esta afirmação, o director municipal de Protecção Civil, Segurança e Tráfego admitiu que "os prazos são políticos", mas defendeu que o trabalho da comissão vai permitir fundamentar qualquer decisão do executivo que venha a ser tomada sobre esta matéria.
A proposta da comissão deverá, segundo um documento preliminar já divulgado, pedir a colocação de novos radares em artérias como a Avenida Dr. Alberto Bensaúde e a Avenida Gulbenkian, mas também no Eixo Norte-Sul. Já no caso da Avenida Marechal Spínola (prolongamento da Avenida Estados Unidos da América), a ideia é retirar o equipamento lá instalado por se tratar de "um eixo radial com volumes de tráfego bem longe da sua capacidade de projecto".
Segundo o presidente da Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados, Manuel João Ramos, a proposta final deverá ainda incluir algumas recomendações feitas por esta entidade, nomeadamente a introdução de um conjunto de medidas de acalmia de tráfego complementares aos radares. Entre elas contam-se alterações na semaforização, colocação de lombas e de painéis de alerta.
domingo, dezembro 07, 2008
ULYSSEA
Canto III
125.
Aqui neste lugar os nobres muros
Levantarás com glória, a que tremendo
Todo o Oriente em séculos futuros
Inclinará a cerviz obedecendo:
Quando ao mundo nasceram aqueles puros
Espíritos, que o tempo vagaroso, e lento
Traga o dia a seu claro nascimento.
126.
Darão à grã Lisboa descendentes,
Que dilatem com a vida o novo Império
Até as casas do Sol, e nas ardentes
Áreas de Ásia escreverão o nome Hespério:
Afrontarão com ânimos valentes
O frio, e ardentíssimo hemisfério,
Ficando o mundo todo campo estreito
A um reino só de mil impérios feito.
-------------------------------------ARGV
- Gabriel Pereira de Castro, Ulyssea, ou Lysboa edificada - 1636
Nem há palavras para descrever
Em caso de incêndio, seria uma castástrofe com carros em quatro filas de piscas e estacionados impunemente. Leram bem: duas filas de cada lado à entrada do estacionamento, que se encontrava com muito lugares vazios.
Nos acessos era o caos: carros em cima dos passeios, na curvas, ao lado dos eco-pontos, nos riscos amarelos, empoleirados, na estrada... uma miséria.
Que é feito da tolerância zero?
Depois de ter visto a lamentável gincana que fez uma ambulância, fico sem perceber nada. Entretanto, a gente vai mantendo em casa os nossos deficientes. Com gente desta por aí, quem se arrisca a sair?
Já vai faltando a vontade e a energia para reclamar.
No reino do caos, da impunidade e do absurdo
sexta-feira, dezembro 05, 2008
O ginásio da Lapa
Li recentemente no Público (27.11.08) que a Secretaria de Estado doTesouro decidira fechar o ginásio, a fim de transferir os terrenos para uma empresa pública, a Estamo, que o irá vender a privados, para ali se construírem, presumo, condomínios de luxo (sei que o Plano Director Municipal classificou a zona como “área de equipamentos e de serviços públicos”, mas tenho a certeza de que alguém, algures, conseguirá ultrapassar o entrave). Entretanto, o Tesouro atribuiu 6,3 milhões de euros ao Instituto de Desporto de Portugal, a fim de que este possa construir equipamentos desportivos no vale do Jamor.
Sucede que as pessoas que frequentam o meu ginásio – latagões a transpirar testoterona e velhas que adoram as aulas de Tai-Shi – não têm hipótese de se deslocarem até Monsanto, muito menos de pagarem a mensalidade exigida pela piscina do Hotel da Lapa. Aliás, o ginásio não serve apenas um fim desportivo. Por muito mal que os balneários cheirem, e cheiram, as velhotas gostam de estar ali, a falar do gato, a dizer mal dos políticos e a queixar-se de doenças. Sei-o, porque há anos que as ouço. Ora, se eu posso optar, as minhas vizinhas não o podem. Numa cidade onde as infra-estruturas desportivas são raras, é um crime fechar-se o ginásio da Lapa.
In Meia Hora
quinta-feira, dezembro 04, 2008
No reino do absurdo (cont.)
CAPRICHO E SOBERBA
In DN
A fiscalização
Tem-se levantado um coro de vozes em torno das medidas de apoio ao sector financeiro, mas essas vozes esquecem – ou aproveitam apenas politicamente, levianamente – que se este não for apoiado infecta os outros sectores da economia (sim, mesmo no caso do BPP onde pelos vistos milhares de agricultores têm as suas poupanças e depósitos a prazo, que é preciso garantir).
O problema económico, tal como o vejo, não é de sectores isolados, é sistémico, é global e é enquanto tal que deve ser encarado, de outra forma, insisto, parte substancial dos apoios vai perder-se porque não se estão a atacar as raízes do problema.
Ao mesmo tempo anuncia-se que as operações contra a crise – fica por saber quantas, quais e como, pois que do concreto plano integral continua a nem se ouvir falar – serão fiscalizadas em 2009. É evidente que os apoios devem, têm de ser fiscalizados. E não só em 2009.
Acredito até que exista vontade de fiscalizar, mas o ponto é com, uma vez mais, que concreto plano de fiscalização para as ditas medidas (paliativas) de apoio à crise e com que concretos meios e, sobretudo, a partir de quando. Já. Entre nós, infelizmente, a regra tem sido a de fiscalizar pequenas coisas – muitas vezes que não interessam nada – e fazer de conta que não se dá pelas grandes. Dito de outra forma, por vezes instituições de fiscalização "conseguem" fiscalizar o que nem nunca ocorreu, enquanto grandes, gigantescas questões lhes passam à margem. E não é de agora. Lembram-se todos, seguramente, do Fundo Social Europeu e do que para aí foi. Mas plantar um pé de vinha sem direito dá direito ao arranque da dita e uns pozinhos mais.
É uma boa altura para acabar com os pequeninos poderes que esmagam o cidadão e ir às grandes questões que fragilizam a cidadania.