quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Herança Gabriela Seara (6)


Na Travessa da Pena, onde antes existia a fábrica da Ramiro Leão, em edifício de tijolo, com gárgulas na fachada, cuja demolição foi aprovada em 20-3-2007 (Proc. 440/EDI/2006), está agora a ser construído um edifício novo (alvará já desta Vereação), com estacionamento subterrâneo. Como curiosidades a registar, registe-se as seguintes:

* Em tempos, para o topo daquela mesma travessa foi recusado um projecto de reabilitação do palacete da extremidade da mesma, que passava pela venda do palacete a um estrangeiro que ali queria abrir uma mini-unidade hoteleira de qualidade com 11 quartos, razão: excessivo impacte de automóveis - hoje, o mesmo palacete foi reconvertido em habitação para 21 moradores (!);

* A demolição (antecipada ... a CML alegou que o prédio estava em riscos de ruir) do prédio da Ramiro Leão foi autorizada desde que a fachada fosse mantida. Mas a mesma caiu de um dia para o outro. Ooops (!);



* Agora, a situação é grave pois começaram a escavar junto à Igreja da Pena, não se sabendo o que vai aparecer, se vestígios arqueológicos, se a garagem do prédio do canto superior direito (foto acima);



* Estranha, foi a demolição do prédio contíguo ao da Ramiro Leão (onde está agora a escavadora). Ao que dizem os homens das obras, o prédio ruiu. O que parece é que foi porque caso contrário não haveria espaço para as máquinas trabalharem;

* As rachas, os abatimentos de chão e de tecto, etc., esses são o dia-a-dia dos prédios à volta da obra, inclusive em prédios pombalinos que deviam ser salvaguardados no que resta da sua dignidade;


* Acresce que nos edifícios por detrás do buraco há uma creche e um lar, e que a travessa é tão estreita que os camiões da obra entram de marcha-atrás, como na foto. Como pode a CML dar licenças destas?

3 comentários:

Anónimo disse...

As Câmaras - de Lisboa e não só - darão licença a praticamente tudo o que se relacionar com a construção civil, enquanto dela dependerem, directa ou indirectamente, para se sustentarem. E enquanto neste país a noção de desenvolvimento estiver subjugada à ideia de construção civil - sobretudo "ex novo" e com a correspondente empreitadazinha de demolição, pois claro - e à ideia de simples quantidade.

O que só reforça a trágica sensação da absoluta inutilidade do voto.

Quanto ao trânsito verdadeiramente tirânico e impune de "pesados" em plena cidade e pelas ruas mais estreitas - e não falo dos transportes públicos - finalmente vejo aqui uma referência. É que as miras parecem, por aqui, sistematicamente apontadas ao automóvel e tendem a esquecer os imundos camiões que, por exemplo, todos os dias largam infindas núvens de poeira e fumo de gasóleo, à saída de cada estaleiro de obra (dos muitos que como cogumelos proliferam em Lisboa), ou deixam um obsceno e duradouro - e perigoso! - rasto de lama, por todo o lado, se acontece chover.

Há muitos anos, num minúsculo e remoto território oriental "sob administração portuguesa" - na altura também em aparente auge de construção civil -, era constante a visão de camiões sendo lavados, à mangueirada de alta pressão, à saída dos estaleiros. O mais que deixavam, à sua passagem pelas ruas, era um rasto de água. Do mal o menos.

Mas por misteriosas razões, o que a "potência administrante", à beira de o deixar de ser, impunha nesse distante local, não era nem é aplicado na "metrópole".

E talvez, já agora, alguém, quem sabe, ainda se dedique a fotografar, e "postar", neste blogue, a selvajaria das cargas e descargas. Com o doce beneplácito da PSP, EMEL, ou quem sobre tal tenha autoridade.

Costa

lanka4earth disse...

Espero que este post e os muitos outros que denunciam, e bem, situações trágicas ou ilegais, sejam sempre enviados também para a CML e/ou levados para discussão nas assembleias. Não nos podemos restringir ao debate na blogosfera enquanto o espaço público vai ruindo à nossa volta.

osátiro disse...

O parque de estacionamento do Largo Luiz de Camões também destruiu muita coisa.
A prática já vem de longe...