Cool, cool é a deriva pela cidade. Diz quem sabe uma coisa ou duas do assunto...
Público 28.02.2008, Kalaf Ângelo
Seis horas do meu sábado foram totalmente dedicadas às "compras do mês". O que me convence do facto provável de que faço as compras alimentares mais demoradas de Lisboa! Ao invés de me enfiar num super ou hipermercado, como a maioria faz, ou de me deixar convencer pelo click da mercearia on-line, percorro o eixo Cais do Sodré-Santa Apolónia-Xabregas, a pé e de transportes públicos, com o propósito de abastecer a despensa. Já cheguei a pensar que comprar os frescos num mercado popular como o da Ribeira e a seguir entrar numa loja gourmet em busca do melhor vinagre balsâmico era das coisas mais cool que podia orgulhar-me de fazer em Lisboa. Mas estava então longe de me aperceber que o acto de me movimentar pela cidade usando o cartão zapping é a próxima acção mais cool que um indivíduo pode praticar depois de deixar de fumar...
Os trendsetters - criaturas que não têm medo de ousar e tudo fazem para se distinguirem do grupo - consideram que ter "carta" de condução é cool, mas ser proprietário de um automóvel está completamente fora de moda. Claro que estes enunciados são expressões de um outro, o da Europa verdejante. Não nos podemos esquecer de que o Reino Unido instituiu leis duríssimas para os que trazem os carros mais poluentes para dentro da cidade e que há 20 anos que a Alemanha tem eficazes políticas ambientalistas em funcionamento. Mas o sujeito cool não se posiciona aí; gosta das coisas boas da vida e isso deixa pouco espaço para a exaltação. A indiferença faz parte deste estar; redescobrir ou trilhar novos caminhos é que é a cena. Portanto, adoptar um comportamento greenpeace está também fora de questão. Não combina nada com o cardigan Armani ou os Air Force customizados made in China.
Seis horas do meu sábado foram totalmente dedicadas às "compras do mês". O que me convence do facto provável de que faço as compras alimentares mais demoradas de Lisboa! Ao invés de me enfiar num super ou hipermercado, como a maioria faz, ou de me deixar convencer pelo click da mercearia on-line, percorro o eixo Cais do Sodré-Santa Apolónia-Xabregas, a pé e de transportes públicos, com o propósito de abastecer a despensa. Já cheguei a pensar que comprar os frescos num mercado popular como o da Ribeira e a seguir entrar numa loja gourmet em busca do melhor vinagre balsâmico era das coisas mais cool que podia orgulhar-me de fazer em Lisboa. Mas estava então longe de me aperceber que o acto de me movimentar pela cidade usando o cartão zapping é a próxima acção mais cool que um indivíduo pode praticar depois de deixar de fumar...
Os trendsetters - criaturas que não têm medo de ousar e tudo fazem para se distinguirem do grupo - consideram que ter "carta" de condução é cool, mas ser proprietário de um automóvel está completamente fora de moda. Claro que estes enunciados são expressões de um outro, o da Europa verdejante. Não nos podemos esquecer de que o Reino Unido instituiu leis duríssimas para os que trazem os carros mais poluentes para dentro da cidade e que há 20 anos que a Alemanha tem eficazes políticas ambientalistas em funcionamento. Mas o sujeito cool não se posiciona aí; gosta das coisas boas da vida e isso deixa pouco espaço para a exaltação. A indiferença faz parte deste estar; redescobrir ou trilhar novos caminhos é que é a cena. Portanto, adoptar um comportamento greenpeace está também fora de questão. Não combina nada com o cardigan Armani ou os Air Force customizados made in China.
Mas, afinal, perguntará o leitor, o que é ser cool? Eu arrisco-me a definir: ser cool é saber tirar o melhor de cada experiência, por mais banal que seja. É deixar que tudo à nossa volta pulse e vibre de acordo com a sua intensidade própria e, sem precisarmos de nos convertermos ao budismo, encontrarmo-nos algures dentro dessas intensidades. Para muitos, porém, o conceito cool está apenas associado a uma ideia de consumo. E talvez não estejam assim tão errados. Afinal, o comportamento cool introduziu-se num mundo obcecado com a juventude e a imagem. Um produto só vinga no mercado se for considerado cool. E quem torna esse produto cool é o consumidor, que, para ser cool, terá que consumir o produto em causa. Na tentativa de controlarem o próximo objecto ou acção cool, correm as instituições em busca dos melhores market researchers, cool hunters ou mercadores do cool. Todos em busca do consumidor do cool: os adolescentes. Jovens com menos de 18 anos, difíceis de agradar ou fidelizar, mas representativos de uma fatia de mercado que nenhuma marca pode deixar escapar, pois a seu reboque virá sempre, pelo menos, um adulto. E assim se factura. O único senão é que o que é cool hoje, amanhã poderá cair por terra. E essa é a melhor parte do movimento.
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