Há um cerco a Lisboa. Um embargo conduzido pela sua própria Câmara Municipal, que sobrevive em decadência acelerada. Para além do total estrangulamento financeiro, da evidente ausência de projecto, da gestão trapalhona, da balbúrdia em que se encontra a cidade e da recente ruptura da coligação da direita, as suspeições e graves desconfianças sucederam-se. Insuportavelmente. Até que esta semana, 50 inspectores da PJ e procuradores do DIAP realizaram buscas em instalações da autarquia, residências e sedes de empresas, nomeadamente da Bragaparques, cujas relações perigosas com elementos da câmara há muito eram faladas. O resultado foi a constituição de arguidos. A vereadora do Urbanismo, o director dos serviços centrais e o vice-presidente, embora relativamente a este último existam notícias contraditórias.
Perante os ininterruptos imbróglios, negócios, traficâncias, pressões e opacidade- sempre a opacidade- seria de esperar, no mínimo, que os eleitos envolvidos, em particular Carmona Rodrigues, viessem a terreiro esclarecer toda esta escandalosa situação e todas as dúvidas. Mas o que tem acontecido é, justamente, o oposto. O Presidente da Câmara fala em normalidade, um vereador referiu-se às buscas como desagradáveis, a direcção nacional do PSD afirma que só há um problema com uma vereadora. Portanto, sem essa vontade de rectidão, ou Carmona mantém esta situação e deixa a Câmara Municipal de Lisboa ir caindo de podre até às próximas eleições, ou assume que este é um daqueles casos em que a dignidade está em saber parar.
Do ponto de vista da justiça, o processo ainda terá que correr, e determinar a culpa ou a inocência destes importantes elementos da equipa camarária. Politicamente, o processo já devia ter corrido. Este executivo municipal chegou ao fim da linha. Tem zero credibilidade, nenhuma autoridade, e nem sombra de futuro.
Marques Mendes que eleitoralmente se assumiu como o paladino da transparência autárquica – lembram-se do destino de Isaltino e Valentim Loureiro? – não reconhece o bruto falhanço desta equipa, por si escolhida. Era mesmo o que faltava a Marques Mendes: passar a imagem de que até suporta, convive bem, ou aplaude este tipo de política.
(Texto baseado na minha crónica da TSF - 26 de Janeiro, Programa Linha da Frente)
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