quarta-feira, janeiro 31, 2007

Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa e Jorge Coelho


Dois «outsiders» a puxar para eleições em Lisboa

A coincidência não pode escapar a quem observa: Marcelo na RTP 1 no domingo e Jorge Coelho na SIC Notícias hoje advogam a mesma saída imediata para Lisboa: eleições já.

Quem tem acompanhado a coisa pode ter algumas interrogações. A primeira de todas: o que é que fará mover estes dois senhores do comentário? Eles são ambos «outsiders» em relação aos seus próprios partidos. Marcelo fala e no PSD tudo fica com comichão. No PS, é notório o temor reverencial pela opinião de Coelho. Isso vê-se. Mas também se vê que o PS fica inquieto com estes comentários. E com razão. Quem pode garantir que no dia seguinte algo estava melhor? Mais: já alguém sabe o que está a ser investigado? Parece que, ao certo, ao certo, não. Alguém sabe se vai haver acusação? Parece que não. Alguém duvida de que deva ser o PSD a encontrar uma saída para a situação? O PSD tem essa obrigação decorrente do resultado eleitoral. Tem a maioria.

A segunda questão que surge depois de ouvir ambos é a seguinte: será mesmo que, como consta recorrentemente nas redacções e noutros locais bem frequentados (não é piada), Coelho se está a posicionar para a Praça do Município e Marcelo para a São Caetano?


Nota
Pedro Rolo Duarte
entrou em delírio total? No «DN» de hoje ele chega a afirmar que isto só lá vai com a «entrega da autarquia à gestão privada». Ele mesmo confessa que isto é um delírio. E é. Mas faço notar que quem manda em Lisboa há cinco anos são exactamente esses: os privados: a banca, os grupos económicos, os investidores, os grandes construtores civis. Ou tem dúvidas? Bragaparques, Bibi, Obriverca, Bernardino Gomes e similares. E também os grandes arquitectos de renome: Renzo Piano, Gehry, Siza, Foster, entre outros.
E o que é que a Cidade lucra com isso?
Rolo Duarte é pago pelo «DN» para terminar em beleza: diz ele que «há doenças para as quais a cura é a morte. Para dar lugar ao renascimento. Esse é, cada vez mais claramente, o caso de Lisboa...». Morte, homem? Santa Maria. Calma.

8 comentários:

Anónimo disse...

O que se passou com o PRL? Tomou leite estragado ao pequeno almoço? Também li e quase que não acreditava no que lia.

Anónimo disse...

Humm…..interessante,..«entrega da autarquia à gestão privada». Querem dizer com isso, a limpeza das ruas, o tratamento dos jardins? mas a crise não é devida (em parte), porque alguns carolas, estão sob suspeita de corrupção? e não são esses mesmos, representantes de partidos políticos, eleitos por a maioria? são esses que deveriam ser substituídos por “gestão privada”???..e depois, entrega-se a Presidência da Republica à Microsoft.....?

JA

Carlos Medina Ribeiro disse...

Claro que o que o Pedro Rolo Duarte disse era uma metáfora, baseada numa constatação (que eu subscrevo):
Lisboa já foi gerida por todas as forças políticas e mais alguma, e todas se revelaram incapazes de a transformar numa cidade onde apeteça viver.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Aqui fica a crónica de que se fala atrás:

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O caso de Lisboa

À vista desarmada, os lisboetas só podem estar de acordo com aqueles que, como Vasco Pulido Valente, pedem eleições antecipadas para a câmara municipal. É insustentável a maioria que suporta a autarquia, descemos ao grau zero da confiança, e o caos que sentimos no desgoverno da cidade pede medidas radicais. Até aqui, estamos no domínio do bom senso - curiosamente, invisível aos olhos do PSD, que sente legitimidade para se manter em funções, num autismo digno de uma ditadura sul-americana.

O problema, no entanto, está para lá desse penso rápido que são umas eleições antecipadas. Na verdade, a situação a que chegámos, e a que assistimos impávidos e impotentes, resulta de muitos anos de gestão camarária, que passou invariavelmente pelo PS, pelo PSD, pelo CDS e pela CDU. Ou seja: por mais eleições que se promovam, serão as mesmas forças a gerir a cidade (agora acrescentadas do - neste caso muito útil - Bloco de Esquerda). Presumivelmente, as mesmas pessoas. Com os mesmo vícios, compromissos, fretes e favores. Ou seja, mais do mesmo.

Assim sendo, e enquanto os cidadãos não perceberem que o voto, nestas circunstâncias, deve ser "dado" a quem dê garantias de cortar definitivamente com o passado (nas últimas eleições, só Sá Fernandes e Nogueira Pinto garantiam essa atitude), e não no âmbito da habitual competição de partidos, a probabilidade de assistirmos a uma mudança na forma de gerir a autarquia, de pensar a cidade, de planificar o trabalho e de o concretizar, é mínima, para não dizer que é nula.

Num delírio liberal, apetece mesmo de-fender a entrega da autarquia à gestão privada - competente, regulada, fiscalizada... - com os melhores urbanistas, arquitectos, engenheiros, sociólogos, a repensar tudo em função apenas da cidade e dos cidadãos, e não da gigantesca teia que cerca os paços do concelho....

Para quem mora em Lisboa, vive o caos instalado na cidade, não vê luz ao fundo do túnel (no sentido literal, mas também imagético) e há dezenas de anos assiste à delapidação diária e consecutiva da qualidade de vida na cidade, não há outra forma de olhar a câmara municipal - a não ser como um "edifício" doente que precisa com urgência de uma reforma de fundo. Ora, há doenças para as quais a cura é a morte. Para dar lugar ao renascimento. Esse é, cada vez mais claramente, o caso de Lisboa...

Pedro Rolo Duarte-DN de 31 Jan07

José Carlos Mendes disse...

Caro CMR,


Eu sei que o alibi de PRD vai ser esse - e é claro que as paródias, todas as paródias são legítimas.

E são bem-vindas, já agora, que andamos tão sisudos.

Mas repare:

1. A democracia é isto mesmo: uns tipos lixarem tudo depois de serem eleitos; outros tipos terem o dever de se candidatar a seguir; esses outros tipos só se candidatarem quando, analisada a cena, acharem que está na hora; candidatarem-se; serem eleitos ou não; e recomeçar o ciclo...
Chato e tal, mas é isso a democracia, pelo menos desde para aí finais do século XVIII (EUA, França, GB / UK, etc., cada país lá foi chegando devagar, devagarinho: ver Maurice Duverger, «Institutios Politiques et Droit International» - lembra-se?).

2. A democracia também é (e cada vez mais o é, felizmente) esta coisa bonita de o PRD poder opinar no 'DN' à 4ª - ou melhor à 3ª, que é quando ele deve escrever - e logo de seguida cada qual poder no seu blog mandar-lhe para cima com a sua opinião sobre o assunto e sobre o que ele escreveu, e o CMR vir recolocar a questão nos eixos... e ele, PRD, responder-nos, e nós replicarmos etc..

É um ciclo belo, este, que a net veio alargar.

Concordaria com isto?

José Carlos Mendes disse...

«Institutions ...», claro.

Sorry.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Claro que a Democracia é assim:

Metemos lá uns; e, se se portam mal, tiram-se de lá esses e metem-se outros - no momento certo.

O nosso AZAR é que, uma após outra, nenhuma força política parece ser competente para meter Lisboa nos eixos, torná-la uma cidade onde dê gosto viver.
_____________

Eu, dantes, saía de Lisboa aos fins-de-semana para "arejar". Hoje, saio dela sempre que posso, mas agora o verbo apropriado é FUGIR.

Ao fim de quase 60 anos vejo, com tristeza, que tudo, na cidade, me afasta. Ou antes: ela afasta-me, empurra-me para fora de si - com o lixo, os arrumadores, as marquises-pirata, o trânsito caótico, a falta de civismo generalizada, a caca de cão, os passeios esventrados, as casas devolutas, os pedintes profissionais...

Quanto ao facto de sentir que pouco ou nada há a fazer, pode ser apenas da idade - e do desencanto que ela traz consigo...

Paulo Ferrero disse...

Carlos, você é um JOVEM! Abr.
P.S. Lagos também não foge ao desvario, apesar de há 2 anos lá ter ido (depois de alguns anos de ausência) e de a ter achado bem mais bonita e vivida no centro. Pena é aquela marina, aqueles supermercados à entrada, e o caos automobilístico junto às praias ...e (isto está a ficar longo) os empreendimentos que se vão aglomerando até Salema, pena, muita pena.