Antes de mais, importa dizer - sempre - que os visados devem beneficiar de uma efectiva presunção de inocência. Mas, de seguida, há que avaliar politicamente a situação. Saber ler o rombo que isto significa na imagem de credibilidade da Câmara e tirar daí as necessárias consequências. Desta vez, nem toda a boa vontade do mun-do permitirá contornar a evidência: a crise aterrou em Lisboa. Carmona Rodrigues pode sorrir o seu sorriso "técnico" e esforçar-se por dar um ar de "normalidade" ao que se passa, mas o facto é que a questão é de gravidade extrema e não há como não a enfrentar.
É certo que daqui - da necessidade de uma leitura política das circunstâncias - não decorre uma espécie de "abertura da época de caça". Da oposição, espera-se que saiba mostrar vigilância e rigor, sim, mas também responsabilidade. Nem "caça às bruxas", nem "caça ao voto"...
No outro extremo, a solução avançada por Maria José Nogueira Pinto, de um consenso entre as forças da oposição, sob um espírito que eu chamaria de "junta de salvação municipal", também não parece adequada.
Mesmo admitindo que, em nome do interesse da cidade, tal consenso fosse possível, o mais provável era redundar num acordo de "gestão corrente" - precisamente o que a vereadora do CDS/PP diz não querer.
Não: a resposta tem de ser clarificadora. São embrulhadas a mais, dúvidas a mais, silêncios a mais. Há muito que o presidente da Câmara devia ter explicado os negócios em questão aos cidadãos de Lisboa, esclarecendo todos os pormenores e colhendo as lições devidas. Mas se não soube agir na altura própria, que saiba reagir agora, pelo menos. É preciso que o faça já e da forma mais transparente possível. Ou resta-lhe uma saída: a saída.
Jacinto Lucas Pires
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