quinta-feira, junho 12, 2008

Reserva estratégica

Junho é mês de festas de tradição. Lisboa fica diferente, esplêndida nos seus bairros e colectividades, pátios e recantos, nas suas vistas ainda não maculadas, nos milhares de escadas quase secretas e nos seus jacarandás floridos. Custa a acreditar que o mundo à volta nos obrigue a mudar de vida, já que não nos preparámos para essa mudança, contra toda a evidência. A iniciativa de um conjunto de presidentes de junta para acorrer a situações de carência em Lisboa e o apelo à responsabilidade social é exemplo de que há quem não baixe os braços para além de todas as limitações.

O primeiro-ministro e o Partido Socialista claudicam, curiosamente não pelas suas más políticas – nuns casos – ou ausência de políticas – noutros – nem mesmo pela arrogância e funcionalização da sociedade, mas por causa do petróleo... crise a que são alheios mas com a qual tinham obrigação de contar.

Protestos de camionistas, produtos a faltar nos supermercados, o aumento generalizado dos preços, prejuízos nas exportações, juros em alta, aumento do desemprego... As respostas do Governo têm sido parcas e de mera reacção, sem capacidade de antecipação. São necessárias respostas conjunturais, mas inseridas em programas estruturais, que enfrentem estes novos tempos. A começar pela União Europeia, que tem muito que repensar.

Perante a ruptura do abastecimento de petróleo e frescos, o Governo ficou sem resposta. Não pode. A nós, cidadãos, resta--nos as dificuldades e a responsabilidade, mesmo contra vontade. Para que o caos e a raiva não se venham a transformar em feridas difíceis de curar.

O PSD tem de ter uma alternativa, uma atitude diferente de resposta para o País. Se as não tiver e chegar ao Governo apenas por demérito do actual primeiro-ministro e do Partido que o suporta, o País rapidamente o entenderá: o poder não é um fim em si mesmo, mas o meio para a realização do bem comum. Há que afirmar ‘a diferença’ com uma matriz reformista, capaz de gerir crises, que foi património do PSD.

Os britânicos, com o sentido prático que lhes é reconhecido, já anunciaram o regresso aos campos. Desta crise resulta claro que a noção de reserva estratégica também passa pela Agricultura. Já não é má esta interiorização numa Europa que pagou o abate de oliveiras centenárias.

Passa a haver um novo conceito estratégico: o de reserva alimentar. É urgente levá-lo a sério. Já.


Paula Teixeira da Cruz

In Correio da Manhã

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