O Cais das Colunas, um marco emblemático da Praça do Comércio, desapareceu há 10 anos devido às obras do Metro de Lisboa, deixando saudades nos lisboetas que anseiam pelo seu regresso, previsto para 2008. Desmontado no início de 1997 devido às obras de expansão do Metropolitano de Lisboa entre o Chiado e Santa Apolónia, o Cais das Colunas deverá regressar ao Terreiro do Paço em 2008, adianta o Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações. Datado de finais do século XVIII, o Cais das Colunas foi a principal ligação entre a cidade de Lisboa e o Tejo, mas na última década o local transformou-se num estaleiro das obras do Metro, para tristeza de quem ali passava horas a contemplar o rio, a ouvir as gaivotas ou mesmo a namorar. Muitos perguntam onde estão guardados os dois pilares seculares, mas uma fonte do Metro garantiu à agência Lusa que "todas as pedras do Cais das Colunas estão catalogadas e acondicionadas no Parque de Material e Oficinas do Metropolitano de Lisboa". "Serão colocadas no mesmo sítio, assim que as obras do Terreiro do Paço estejam concluídas", afirmou a mesma fonte. Para o olisipógrafo Carlos Consiglieri, "não há outra solução se não repor o Cais das Colunas, que faz parte integrante da cenografia, da funcionalidade e da tradição" da cidade. "A praça ficará incompleta se não levar o Cais das Colunas, com as escadarias laterais e central", sustentou. Carlos Consiglieri confessou à Lusa que tem "saudades" do cais e do muro, onde havia bancos de pedra e as pessoas se sentavam a ver o Tejo. "Certamente Cesário Verde e outros poetas, como Fernando Pessoa e talvez o próprio Eça de Queiroz, foram ali ver o Tejo, as gaivotas, cheirar a maresia, ver os cacilheiros, as fragatas e a outra margem do rio", comentou. O investigador Carlos Caetano, autor do livro "A ribeira de Lisboa na época da expansão portuguesa", também guarda "boas recordações daquele lugar tão bonito", mas teme que a "magia" do lugar nunca mais volte a ser a mesma. "Tornou-se um lugar muito ingrato por ter uma via rápida na frente [a avenida Ribeira de Naus]", disse à Lusa o investigador, comentando: ir para ali passear, namorar, contemplar o que quer que seja acompanhado daquele batalhão de carros é muito complicado". Mas o Cais das Colunas ainda povoa a imaginação de muitos lisboetas, como Carlos Almeida, 37 anos, que recorda bons momentos da sua infância passados ali com a avó. "Quando era pequeno ia passear para a Baixa com a minha avó e o passeio não terminava sem ir molhar os pés ao Cais das Colunas, "quando a maré estava baixa e os degraus da escadaria ficavam à mostra", contou. Carlos Almeida disse que tem "imensas saudades do cais, que era um marco lisboeta" e considera que a "vista para a margem Sul do Tejo nunca mais foi a mesma". "A geração dos meus filhos já não conheceu o Cais das Colunas, mas espero que o lugar ainda venha a fazer parte da vida deles", sublinhou. Sandra Maria, 36 anos, recorda o Cais das Colunas como "um espaço emblemático da cidade de Lisboa, que assistiu ao crescimento de gerações". "Foi um local onde passeei com os meus pais, partilhei segredos com amigas e namorei", contou, adiantando que "era uma forma muito interessante de viver Lisboa, tendo o rio como cenário". "Era dos poucos locais para estar com o rio como cenário, porque ainda não existiam as 'docas', a Expo, nem sequer o passeio ribeirinho", realçou. Sandra contou que quando soube que as obras do metro obrigavam a alterações naquela zona temeu pelas colunas. "Espero que estejam bem e que voltem àquele espaço. Hoje em dia procuro outros passeios junto ao rio, mas o Cais das Colunas ainda povoa a minha imaginação", rematou. O desejo é partilhado por Américo Marques, 73 anos, que durante muitos anos passou a hora de almoço naquele local a observar os cacilheiros, o rio e as crianças que ali brincavam. "Acho muito bem que voltem a colocar as colunas onde estavam, porque é um monumento bonito e histórico", frisou. A designação de Cais das Colunas deve-se à existência de dois pilares monolíticos erguidos nos extremos e que são parte integrante do Projecto da Praça do Comércio, da autoria do arquitecto Eugénio dos Santos, para a reconstrução da cidade após o terramoto de 1755. Não existem documentos escritos relativos ao ano da sua construção, sabendo-se apenas que foi concluído nos finais do século XVIII, aparecendo já numa gravura colorida de Noel e Wells, "A view of the Praça do Commércio at Lisbon", datada de 1792. As colunas caíram em finais do século XIX, tendo sido repostas apenas em 1929. O Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações, informa no "site" oficial que a construção da extensão do metropolitano entre o Chiado e Santa Apolónia estará concluída no terceiro trimestre de 2007. Na mesma altura, estará concluído o interface do Terreiro do Paço e começará a reposição do Cais das Colunas, que estará concluída no segundo trimestre de 2008.
Fonte, Lusa
1 comentário:
onde é que já vai 2007...
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