sexta-feira, março 14, 2008

Para fora

Esta semana o PSD contribuiu para a mexicanização do regime: enfraqueceu-se como partido de alternância e reforçou o 1.º ministro .


Numa semana em que a Rua se levantou ao Governo e se impunha o balanço (negativo) de três anos de governação socialista, a Direcção Nacional do PSD agendou a discussão e votação de novos regulamentos internos e anunciou uma nova imagem para o Partido. A escolha do conteúdo, do momento e da forma foi da Direcção Nacional.
Quanto ao conteúdo, os regulamentos são importantes na medida em que são as regras de vivência de um partido político e essas regras só podem querer-se qualitativamente democráticas e transparentes, desde logo porque influenciam a qualidade da democracia do País. A meu ver, os actuais regulamentos põem em causa a transparência e a democracia interna do Partido, são um retrocesso no que respeita às boas práticas, beneficiando quem já controla as estruturas (será o regresso ao pagamento em dinheiro; votará quem os presidentes de mesa habilitam que vote; os cadernos eleitorais não serão verdadeiramente conhecidos e nem é difícil imaginar a constituição de uma brigada móvel eleitoral...)
Quanto à forma, uma aprovação sem discussão é sempre presunção de falta de qualidade democrática (não se perdia nada em proporcionar uma discussão alargada, ponderar os alertas que se ouviu e os que não se ouviu e todos ganharíamos).
Acresce que a discussão dos regulamentos foi acompanhada dos habituais discursos violentos contra quem se atreveu a pedir mais tempo ou simplesmente não esteve de acordo com o conteúdo dos mesmos.
Espantosamente, neste contexto e no mesmo momento em que se desconsidera militantes que mais não fazem do que exercer o direito de opinião, é anunciada uma nova campanha para angariação de militantes. Também aqui não se pode ignorar que a ameaça de purga dos que se permitem discordar não é do mais entusiasmante e estimulante que há pa-ra cativar quem quer que seja.
Anuncia-se ainda a nova imagem do PSD com alteração de símbolos, mas a alteração de símbolos não pode (não deve) fazer-se por razões conjunturais.
O partido virou-se para dentro e esqueceu que é um meio de representação política dos cidadãos.
Tudo numa semana em que havia que pôr o País à frente, confrontar o Governo com os seus erros e omissões e falar para fora. Isto é fechar um partido ao exterior.
Infelizmente, o PSD deu, nesta semana, um forte contributo para a mexicanização do regime: enfraqueceu-se como partido de alternância e reforçou o primeiro-ministro.



Paula Teixeira da Cruz


In Correio da Manhã

1 comentário:

Anónimo disse...

Era só para dizer que não contem comigo nessa campanha de angariação de novos militantes do PSD.