terça-feira, fevereiro 13, 2007

Andando a quatro

Recentemente, autarcas da Margem Sul do Tejo (*) reivindicaram o alargamento da A2 para 4-faixas-4.
Salvo melhor opinião, essa é a chamada solução autofágica, bem conhecida dos urbanistas de todo o mundo, na medida em que um aumento do número de faixas (sem outras medidas) acaba por, a prazo mais ou menos curto, se revelar ineficaz (por propiciar - precisamente - o agravar do mal que pretende combater):
Primeiro porque, se o destino não tiver alterações, uma fila de 12 km com 3 faixas apenas se converte numa fila de 9 km com 4 faixas (e isso se, optimisticamente, se mantiver o número de carros).
Depois porque, numa primeira fase, inúmeras pessoas que não usavam o carro, passam a usá-lo.
Finalmente porque, havendo "melhores acessos", dispara a construção suburbana e, com ela, mais carros.

NOTA1: O que aqui se diz refere-se, especialmente, a vias de ENTRADA numa cidade congestionada, como Lisboa é; tratando-se de vias de SAÍDA, o problema terá de ser visto de outra forma - porventura inversa.
NOTA2: Os desenhos são oferta de F' Santos, cartunista e arquitecto urbanista, cujos trabalhos podem ser vistos [aqui] e [aqui].
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(*) Corecção: segundo o «Público», a exigência foi de deputados do PSD e não de autarcas. A estes, as minhas desculpas pelo facto de ter menosprezado a sua inteligência.

6 comentários:

Anónimo disse...

Claro como água.

Anónimo disse...

Notas de rodapé: Na perspectiva de quem mora fora, facilitar a entrada ou a saída vai dar ao mesmo: menos tempo no trânsito. Outra nota: uma fila de 9Km com 4 faixas é mais rápida do que uma fila de 12km de 3 faixas, assim como é mais ráída do que uma fila de 18 km com duas faixas. Isto só melhora se se incentivar a utilização de transportes públicos, em vez de se desincentivar a utilização de transporte ppróprio. Cumprimentos.

Anónimo disse...

Diz Eduardo Proença:

«...uma fila de 9Km com 4 faixas é mais rápida do que uma fila de 12km de 3 faixas, assim como é mais ráída do que uma fila de 18 km com duas faixas»

Essa é a grande ilusão que leva a que as 12 faixas das autoestradas de Los Angeles estejam permanentemente engarrafadas como estavam quando havia 6, 8 ou 10.

Quando muito, o aumento de faixas pode ser vantajoso em casos de "saída aberta", mas quando as vias "desaguam" num bloqueio (caso da Ponte 25 de Abril, Praça de Espanha ou Marquês de Pombal, não adianta, pois o destino só absorve x carros/hora.

É o mesmo que constatar que uma determinada corrente é fraca e decidir reforçar todos os elos... menos um: de nada resolve, pois é "esse elo fraco" que vai decidir tudo.

De qualquer forma, o raciocínio de Eduardo Proença parte do princípio que o nº de carros se mantém.
Ora o que se passa é que, de imediato, aumenta o afluxo até retomar o estado anterior.

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Mas nada disto é novo, por esse mundo fora. Os nossos autarcas é que andam a fazer raciocínios com 20 anos de atraso!

R.

Carlos Medina Ribeiro disse...

Em questões como esta, a grandeza que verdadeiramente interessa é o "número de veículos por unidade de tempo".

No caso de estradas que têm estrangulamentos (caso da Ponte 25 de Abril com as suas 3 faixas que, hipoteticamente, daria seguimento a uma A2 com 4 faixas - para já não falar no limite de fluxo imposto pelas portagens), o que limita tudo é "o fluxo máximo possível no ponto de fluxo mínimo".

No entanto, pode não haver esses estrangulamentos pelo caminho mas haver um outro limite semelhante: a capacidade de absorção da urbe de destino - quer no aspecto de veículos no total, quer em veículos entrados / unidade de tempo.

A situação aqui abordada é equivalente à de um barril que alguém está a encher com uma mangueira e que acha que pode aumentar a velocidade de enchimento usando uma outra mais grossa.

Como é evidente, se a entrada do barril não permitir que ele receba mais do que x litros/minuto, bem podem alargar a mangueira até ao diâmetro de um elefante - o limite é imposto pelas características do "receptor" e não pelas do "emissor".

André Bernardes disse...

(...) já para não referir a perspectiva do engenheiro de tráfego(!) fundamentado na lógica do nível de serviço, ou na visão sistémica, ou na teoria económica de um tal Keynes (!?) que, se aquela passar a ser melhor, a ter melhor nível de oferta, torna-se convidativa a mais e mais utilizadores, até nova saturação, ou equilíbrio, surpreendendo a médio-curto prazo as expectativas mais imediatas...
daí, andarmos a agigantar um problema, eternamente a remediar efeitos, em vez de resolvê-lo!
Comece-se, e como disse uma vez a M.J.Nogueira Pinto, por repovoar Lisboa!!!?

André Bernardes disse...

(...) para 'sustentar'(um conceito tão gasto quanto deturpado, especialmente por políticos!;)tais pontes, que estão na ordem do dia, aqui fica o convite para a consulta do incontornável relatório(da CE, de 1996) sobre 'Cidades Europeias Sustentáveis', principalmente a nível dos princípios propostos(caso da reflexão sistémica) que devem (passar a) ser tidos em conta (pág.s 9-10), tudo isso, livremente disponível em:
http://ec.europa.eu/environment/urban/pdf/rport-en.pdf