segunda-feira, fevereiro 26, 2007

"Noites de desassossego nas ruas do Bairro Alto"





"Por um dia, Maria Helena Carmo foi a moradora mais vaidosa do Bairro Alto, em Lisboa. O prédio n.º 35 da Rua do Poço da Cidade estava coberto de grafitti, cartazes e manchas de humidade. Tudo isso desapareceu com duas demãos de tinta branca no início de Fevereiro. "Vieram cá uns senhores da câmara municipal, montaram os andaimes e limparam tudo", conta a pensionista de 73 anos. Esta felicidade, porém, esfumou-se em menos de 24 horas: "Na manhã seguinte estava um enorme rabisco em cima da minha porta." Alguém usou a fachada do seu edifício para protestar em letras vermelhas contra a penalização das drogas." (...)
No Bairro Alto, já não restam paredes lisas: há declarações de amor que ocupam fachadas inteiras, rabiscos que vão de uma ponta à outra dos prédios, cartazes que anunciam peças de teatro, espectáculos de kizomba e de hip hop. "Os sinais de trânsito estão cheios de autocolantes e cada canto está transformado em mictório para os jovens que vêm aí à noite beber copos", censura António Figueira, residente na Rua Diário de Notícias.

Madrugadas de terror
(...)
Nem com as portas e as janelas trancadas é possível abafar o barulho. "Batem nos vidros, sentam-se nos carros e até arrancam os retrovisores", denuncia a moradora.

E, no dia seguinte, há copos, garrafas e lixo amontoados nas esquinas e nas ruas, nas escadas dos edifícios e à entrada das casas: "Sextas e sábados de manhã, quando abro a porta já estou de vassoura na mão." Só assim Manuela Gato consegue desbravar caminho e chegar até à rua. Houve alturas em que se revoltou contra a desordem instalada nas noites do Bairro Alto, mas hoje diz não ter a "mesma fibra" para cortar pela raiz a "falta de respeito" dos miúdos pelos mais velhos. "(...)
(Maria Isabel Goulão)

2 comentários:

Anónimo disse...

(...) Madrugadas de terror?

C.M. disse...

Seria esta a Liberdade prometida (e desejada) em 25 de Abril?