sábado, fevereiro 03, 2007

A RUA

Na rua larga passeiam mulheres que arrastam pelo chão
o último vison e a última visão
casas fantasmas de tectos ideiais emergem da noite em nevoeiro
vermelhas azuis verdes amarelas saídas de um tinteiro
duas crianças brincam no passeio
dias crianças sós e sem asseio mas com passeio exclusivo
reservado para elas
Ratos e gatos jogam ao polícia e ao ladrão
e um cão d eguarda fuma o cachimbo da paz que segura na mão
Há sinfonias demasiado completas a dançar no ar
(nuar: verbo irregular; eu nuo, tu nuas, ele nua = nudismo geral)
e por toda a parte cavalgam os cavalos de chagall
transpondo o arco-íris de todo o pensamento
que é realmente mento
porque só pensa é fácil
o difícel é o verdadeiro pensa-mento
No restaurante há omelettes em chamas
servidas por bombeiros voluntários
e as banheiras estão cheias de afogados mentais
A lápide de inscrição no cemitério diz apenas
a vida não deu para mais
Y. K. Centeno

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