terça-feira, fevereiro 06, 2007
A «requalificação» da Almirante Reis?
Este prédio é da autoria do Arq. Cassiano Branco, está situado no gaveto da Praça João do Rio com a Avenida Almirante Reis, e tem sido propalado como exemplo da requalificação em marcha naquela avenida, que já foi uma das mais bonitas de Lisboa, recorde-se. Recorde-se, também, que a praça em questão está praticamente intacta na sua traça homogénea e de desenho bonito. O problema é que este prédio está à venda por 7 milhões de €, pela imobiliária ABRA (refª 23/4526), e o que lá está escrito é:
«Prédio devoluto com 2 frentes e 5 pisos com logradouros. R/C com lojas e área total de 760m2. Existe um projecto aprovado para hotel. Situado numa zona nobre de Lisboa, com transportes públicos, a 5 minutos do metro o que faz da sua aquisição, um oportuno investimento. Existe um projecto na C.M.L. para mais 2 pisos e 30 lugares de estacionamento mantendo-se o hotel de 4 estrelas. Para aceder a mais fotos e informação sobre este e outros imóveis visite-nos em :www.abra.com.pt»
Ou seja; perspectiva-se para aquela zona um novo mamarracho como o do gaveto mais abaixo, na esquina com a Alameda, também ele um hotel; também ele completamente dissonante em termos de enquadramento com os prédios vizinhos!
Aliás, convém não esquecer que os projectos de hotéis raramente respeitam as regras do PDM, principalmente o limite de cérceas. Por outro lado, o "Conjunto urbano da Praça João do Rio" aparece na lista do Inventário do Património da revisão do PDM!
De que está à espera o recém-criado Movimento de Moradores da Almirante Reis para se pronunciar sobre esta aberração?
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10 comentários:
«perspectiva-se para aquela zona um novo mamarracho como o do gaveto mais abaixo, na esquina com a Alameda, também ele um hotel; também ele completamente dissonante em termos de enquadramento»
pena é que a simples expectativa de se vir a construir algo novo, obra de raiz ou ampliação, seja logo sinónimo de 'mamaracho' e que, infelizmente, os exemplos recentes (como aquele que é citado, de facto, um autêntico insulto à arquitectura e à sua localização, principalmente quando confrontado, com o quase fronteiro, oposto, ex-cinema Império) efectivamente o...confirmem!!? pudera!?
o próprio Cassiano também deve ter tido os seus momentos menos inspirados -talvez quando passou umas temporadas na Caparica, a imaginar Casinos e esplanadas monumentais - e este bloco, creio, faz parte desse lote...agora, a questão mais preocupante, e recorrente, porque multiplicada n vezes, é mesmo o receio, a desconfiança, a incapacidade -até legislativa!- em se garantir que se faça obra nova com a devida e esperada qualidade, e que esta possa gerar os consensos necessários...sem estar sempre a recorrer aos trunfos -mal menor?-do costume!
Não creio que Cassiano tenha passado crise nenhuma, quando concebeu este edifício. Um bom exemplo da época......e das suas funções de origem. E se a "praça em questão está praticamente intacta na sua traça homogénea", ......cuidado! um
passeio por a Almirante Reis diz-nos o quê? começa-se por tirar um, substitui-lo por outro, e........?
Mais dia menos dia (o que em Portugal costuma significar décadas, quando não meio-século...) o que tem que se começar a fazer é demolir os mamarrachos que abundam por aí, e esse que fala, aquele hotel horroroso espetado na esquina com a Alameda, é um dos mais grotescos daquelas bandas e candidato nº1 a ser o primeiro. Lá virá o tempo.
(...) sim, concordo que não se deve esquecer o critério da imagem de conjunto, da necessidade de coerência entre os vários edifícios da zona; mas, também acho que isso poderia (e deveria) ser uma das premissas de projecto de uma obra nova -com muitos se's, claro!- reconhendo também, que a questão desvia-se do propósito deste 'post'...
mas, deriva a mais ou a menos ;) o Cassiano -ou colaborador/es- tem no reportório...muito melhor!!!?
(...) quando a arquitectura for para quem de direito- ou... este fizer sentido!?
Em jeito de anexo ao post, só para lembrar que «projecto» idêntico está a ameaçar o quarteirão da Pastelaria Suíça, onde alguém quer acrescentar mais 1 piso ao quarteirão, desrespeitando por completo a praça, e esventrando o subsolo para construção de estacionamentos. Houve quem garantisse a pés juntos que outro alguém afirmara que tal «projecto» estaria «aprovado» antes de ser sequer votado. O certo é que ainda nada se desenvolveu, pelo que parece que dessa ameaça Lisboa está salva.
(...) embora não tenha facilidade no acesso a fontes, parece natural que os tempos, a nível da intervenção no património, vão ser cada vez mais assim, com notícias de emparcelamentos (dando-se prioridade a operações de conjuntos), com 'esventramentos' até ao subsolo (senão...os carros iriam continuar a invadir os passeios ou, os elevadores, a ser um exclusivo dos edifícios novos) e, mais anúncios de 'contrapartidas' (para convencer os investidores) que, se no papel podem ter essa leitura talvez, e neste caso, até poderá corresponder ao que já lá está - embora, omisso ao registo!? -quero acreditar ;)
Seria bastante negativo, repudiar-se toda e qualquer intervenção de maior dimensão, e a nível estrutural (quando possível) à única excepção de surgir na sequência de mais uma catástrofe(!?) como a do Chiado, adiando-se eternamente a reabilitação do edificado, quantas vezes obsoleto e...ao abandono -a R.Ivens e a do Carmo, servem de exemplo...
Claro que terá de existir mais controlo e exigência por parte da câmara (!?) ou doutras entidades responsáveis, capazes de garantir processos participados e minimamente transparentes...com garantia da qualidade de concepção/execução, e nunca, mas nunca como factos consumados!
Há dois anos que reparei neste edifício e no estado a que chegou. Arrepiei-me e arrepio-me com a novidade de vidro e alumínio que se adivinha. O precedente já está na Alameda (como se faltassem outros).
Para mim e para lá do mero gosto, os argumentos do novo pelo novo não colhem. O novo ali foi há 50, 60 anos, na Baixa foi há 250... Fez-se assim e a zona tem essa marca de si que devíamos preservar para memória da cidade. Agora o novo é na Alta ou nos subúrbios. Há espaço para tudo e não há razão para este absoluto usa e deita fora mascarado de progresso. Tristes tempos em que até a memória, por ser antiga, é descartável.
Com o novo pelo novo para quê Alfama?!...
Cumpts.
Hoje (ou ontem!) fazer novo não tem que ser, necessariamente, identificado com uma fachada-cortina de vidro, ou uma outra qualquer solução em contraste com o existente;
tal como não deveria ser, a priori, e sem uma análise e ponderação mínima, a manutenção do que lá está...mesmo que desinteressante, ou irrelevante em termos de património -será o caso?
Neste, como noutros assuntos, o que parece ser importante é o meio-termo, é conseguir-se, em geral, o princípio da abertura, e da mínima garantia, de que a decisão sobre se se mantém ou não, é possível e passível de discussão, feita sem atropelos!
Reconheça-se até, que o que se defende até tem pouco a ver com o paradigma actual, ou o seu extremo oposto, que levaria a crescer infinitamente (tal como acontece ;) para as coroas periféricas, deixando para trás o tal 'material' obsoleto e 'descartável'...quando o que se pretende é justamente -sustentabilidade- reutilizar, reabilitar e/ou renovar (quando justificado) a cidade, tal como sempre aconteceu, pois a regeneração, tal como nos organismos vivos, é uma condição da sua vitalidade.
Principalmente, numa época em que nem sequer os museus querem ser museus (tradicionais) - espaços sem vida, cristalizados ou parados no tempo.
Como este tema mexe com a imagem da cidade (coisa que diz respeito a todos, apesar dos proprietários defensores do direito-à-marquise) e como a reacção colectiva em face de uma simples notícia de intervenção, pode ser impeditiva de algo melhor, importa reflectir sobre o seguinte (sem entrar muito numa especialidade que fica para os especialistas se se dignarem a manifestar-se ;)
Para além dos muitos 'ses' que podem fazer a diferença, num juízo mais atento, dizem os 'experts' que (pelo menos) serão três os graus de intervenção possíveis (excluindo alguns 'res', e considerando que se exclui, o que prevalece, o que é maioritário, de deixar como está, que é a cair, abandonado e/ou devoluto), importa por isso reter:
Entre as hipóteses, ou graus de intervenção tem-se as seguintes escolhas possíveis, desde o Restauro (ou recuperação?) que significa reconstruir tal qual estava originalmente, que parece ser mais adequado às peças que correspondam ao conceito de património-monumento; ou, como meio termo, a Reabilitação, vista como um desafio de projectar a valorização do existente, impedindo não só a sua degradação irreversível, mas também, aproveitar uma oportunidade única para criar melhores condições de habitabilidade, outras valências associadas aos edifícios novos, caso de circulações verticais, especialmente de elevadores, ou o repensar das divisões, novos sanitários, estacionamento, etc; e, finalmente, a situação extrema da Renovação (na minha interpretação ;), que faz parte do processo de construir cidade, porém nem sempre total, ou radical(!) ao equacionar a substituição do existente por uma solução nova, até em imagem, composição de fachada, pressupondo, obviamente, um saldo (qualitativo!)favorável.
Permitir ou garantir que isso é possível, que também aqui não existem dogmas, parece ser fundamental e, porque não dizer, uma responsabilidade.
Não queria entrar em debate consigo em casa alheia, de mais a mais o seu texto não me parece inteiramente claro. Com as desculpas a O Carmo e a Trindade, cá vai:
1) Fazer novo identifica-se com o estereótipo mencionado (alumínio e vidro). Olhe-se ao redor. Olhe veja o Técnico!
2) A ponderação sobre o interesse do que lá está deve necessariamente considerar o que lá esta como um bloco: leia-se quarteirão, bairro, freguesia, gente, memória, documento/monumento, etc..
3) O dito obsoleto (e basta algo ou alguém ser antigo para o dizerem) só se torna descartável pela incúria e interesse comercial em desfazer para fazer de novo. Qual ser mais barato ou fazer melhor? É cobiça do máximo de lucro.
4) Soluções casuais, chocantes, incoerentes e desenquadradas não são regeneração, são destruição.
5) A essência de qualquer museu é, são sempre a(s) paragem(ns) no tempo. O resto que diz são modas ou pior: 'marketing'.
6) Do que digo em 2) chega-se ao património monumental. A memória da cidade planeada e edificada nos anos 40 é património histórico e monumental; quem o nega?
7) Reabilitação (melhorar a funcionalidade, prefiro, para fugir ao chavão): aqui é que a imaginação e criatividade (coisa tão na moda e tão falseada) é posta à prova; vamos lá a melhorar (não maximizar nem optimizar, melhorar) sem destruir.
8) O seu conceito de de renovação (se bem entendo) é fazer tábua rasa. É esse que desprezo. Devolvo-lhe o argumento de Alfama, ilustrado com o resultado da razia da Mouraria... O sr. Bernardes defende a dado passo: 'valorizar o existente'. Sim! Isso mesmo! Como quer fazê-lo destruindo o que está?
Cumpts.
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