sábado, dezembro 29, 2007

As 5 serpentes esmagadas pelo cavalo de D. José


(Antes do passeio pela beira-mar - veja aí em baixo a hora a que escrevo -, eis um post de total descompressão, como é indicado para a época que atravessamos: nada de veneno, se fazem favor)
.
No imaginário popular a serpente é traição, é tentação da luxúria (tudo por causa das lendas e dos Livros do Antigo Testamento, julgo eu). A tradição oral fez chegar até nós a ideia de que os fenícios, quando aqui chegaram, deram com muitas cobras por essa costa fora - daí terem, parece, chamado a este canto (o nosso País) «a Terra das Serpentes». Para eles, li algures algum dia, a serpente seria um símbolo da inteligência.
Ok. Dou de barato o que quiserem.
Mas lá que há muitas serpentes em Portugal, disso não tenho dúvidas. Vejo-as por aí a toda a hora. Armando Vara é uma delas. José Sá Fernandes, que não me parecia, está a mostrar-se outra. Mas há mais. Muitas mais, como sabe...
Adiante.
Um dia destes, à tarde, dei comigo de cabeça no ar a tentar ver o melhor pssível a cabeça das serpentes que estão a ser esmagadas pelo cavalo de D. José, ali no Terreiro do Paço (ou devo escrever «ali na Praça do Comércio»?).
Isso porque, quase todos os dias quando dou a volta para ir para o parque de estacionamento da Praça do Município, ultimamente, dou comigo a estranhar aquelas cinco serpentes de cabeça e rabo levantados, a saltarem por baixo das patas do cavalo.
Fui averiguar isto na net...
... e o máximo que descobri foi que, para o escultor e para o Marquês, isso era como que a imagética do domínio do rei absoluto sobre o País. E agora, sem saber ao certo nem poder já falar com ele, não sei se o Marquês se queria referir especificamente à intelectualidade, seguindo eu aqui aqueles que acham que ele acreditaria mais na simbólica fenícia (serpente = inteligência, então «intectualidade») ou se ele, Marquês, seguiria mais a parte física da questão e mais racional nesse ponto específico, querendo significar o domínio sobre a terra portuguesa «tout court», já que, para os mesmos fenícios, que aqui encontraram tantas cobras, Portugal, ou este pedaço de terra pelo menos, era o mesmo que terra das cobras...
Ou virá agora aqui alguém explicar-me (nos) a coisa de forma mais fundamentada?
Oxalá que sim.
Já agora: a data que está por baixo do medalhão do Marquês, virado ao Rio, é: 19 de Outubro de 1833.
Anotei isso.
Mas o que mais me intriga são as serpentes e não saber ao certo o que levou o poder a colocá-las ali. Nâo deve ter sido só por uma questão de estética: quase não se vêem cá de baixo e o dr. Armando Vara nesse tempo ainda não era famoso nem o dr. Sá Fernandes era sequer conhecido...
As serpentes...
... se ampliar a foto, clicando duas vezes em cima dela, pode vê-las melhor. E espero que alguém que explique, por favor, o que é que elas estão a fazer ali em cima, mas por baixo das patas do cavalo. É urgente.
Estou farto de por ali passar e sempre com a mesma dúvida existencial a latejar-me na cabeça, tipo obsessão...
.
Créditos da foto: 'Olhares'

2 comentários:

Carlos Medina Ribeiro disse...

Sempre ouvi dizer que era uma alusão aos Távoras.

Outra questão curiosa é o medalhão do Marquês, no plinto da estátua:

No Museu da Cidade pode ver-se uma outra versão: uma caravela.
Conta-se que Sebastião José, ao vê-la, terá comentado:

«Ai Portugal, Portugal, que vais à vela!»

Anónimo disse...

Se bem me lembro tratou-se simplesmente de aproveitar as escórias de bronze resultantes do processo de fundição da estátua e que tinham ficado presas na base...
AO