sexta-feira, maio 30, 2008

Abaixo o ruído!

A Organização Mundial de Saúde considera que o limite de ruído ambiental a partir do qual começam a existir efeitos nocivos para os seres humanos é de 55 decibéis. Vários estudos demonstraram recentemente que metade dos portugueses está exposta a estes níveis de barulho, sendo o trânsito a sua principal fonte, mas não é deste factor que desejo falar mas do tipo de ruído que nos cerca sem que lhe prestemos atenção. Hoje, raro é o restaurante onde, enquanto almoço, não tenha de suportar música de fundo; não há antecâmara de consultório médico, onde não seja forçada a conviver com doentes falando ao telemóvel; não há jantares com amigos que não sejam interrompidos por SMS; não há sala de espera de aeroporto –com relevo particular para as VIP – em que não ouça o bipbipbip dos mails recebidos pelos garotos que habitam estes espaços; não há elevador que não me ofereça uma musiquinha idiota; não há serviço, público ou privado, o qual, antes de me pôr em contacto com quem desejo falar, não me obrigue a escutar uma melodia; não há lanche de crianças em que não ouça os ringringring dos Nitendos. Descendo na escala social, defronto-me, nas tascas, com aparelhos de televisão eternamente ligadas, nos hipermercados com os nininini das máquinas registadores e, nos logradouros de Lisboa, com os cães que passam o dia e a noite a ladrar.


Se exceptuar a sala de leitura da Biblioteca Nacional – e mesmo esta, devido à rota dos aviões, sabe Deus! – o meu quotidiano foi invadido por uma multiplicidade de ruídos. Isto chegou a um ponto tal que, há dias, indaguei da possibilidade de ingressar na Cartuxa onde, como se sabe, o silêncio é de regra. Ao tomarem conhecimento desta decisão, alguns amigos preveniram-me de que a Ordem exigia uma condição, a obediência, que se não coadunava com o meu carácter. Sinceramente, não sei o que fazer para manter a sanidade mental. Se pudesse, comprava uma ilha na Escócia, o que mostra até que ponto o silêncio se tornou num privilégio dos muito, muito ricos.


Maria Filomena Mónica


In Meia-Hora

1 comentário:

Anónimo disse...

Se há coisa que me irrita, é gentinha agarrada aos telemóveis e sem ver para onde vai nem se aperceber que estorva.

Sem falar que, apesar de todas as ameaças, continua a ver-se pessoal a falar ao telelé e a conduzir.