Sá Carneiro cedo percebeu a avaria. O partido não era socialista, não era social-democrata, não era demo-cristão. A Internacional Socialista recusou a sua inclusão, mas foi esfuziantemente recebido no Partido Popular Europeu, da sagrada família das direitas. Às páginas tantas, cansado de enfrentar a intriga permanente e de tentar acalmar a avidez dos "barões", de que fora progenitor, Sá Carneiro bateu com a porta. Pretendia voltar e "regenerar" a coisa, tornando-a, pelo menos, consistente. É a partir daí, e adicionando-se o facto de ter morrido jovem, que o seu discurso foi transformado em dogma e a sua figura em idolatria. Mas era um homem tenaz, de temperamento autoritário, convencido de que a História esperava dele gloriosos feitos. Conheci-o razoavelmente e apreciava-lhe a forma, o impulso inteligente e a curiosidade activa. Estou em crer que o encontro com Snu Abecasis foi decisivo no seu desenvolvimento intelectual e político. "Abriu-lhe o coração e revelou-lhe o mundo", disse Natália Correia.
Reconhecera que, não existindo ideologicamente, o PSD era uma imponderabilidade. Temos assistido, ao longo dos anos, à funesta decadência do partido, vogando no incerto oceano das contingências. Manuela Ferreira Leite, ex-ministra da Educação e das Finanças, cujos méritos são muito discutíveis, aparece como a "endireita o sítio". Em termos políticos é uma ficção. Os que a apoiam, sem compreender que o mundo mudou, somente auspiciam que a senhora consiga juntar os cacos. Para quê? O PSD move-se numa insuficiência de realidade e existe nos limites do dizível: é um partido desamparado e sem emenda.
NO MOMENTO: Marcelo Rebelo de Sousa insiste em dizer "há meses atrás" e "precaridade" em vez de precariedade, associando-se a outros políticos, jornalistas e pivôs, que mantêm o mesmo espinoteante tolejo e acrescentam-lhe "competividade" em vez de competitividade.
Baptista-Bastos
Sem comentários:
Enviar um comentário